16 de maio de 2019

Vender "O Pacote"


Foi ontem anunciado o cartaz para as festas do Bodo. Após uma votação da CMP criada online para seleccionar os artistas, e sem resultados tornados públicos, ficámos todos a saber o que nos calha este ano no pacote.
As festas da cidade continuam a ser o reflexo de muitas outras espalhadas pelo país, onde os programas das festas são os mesmos apenas com mudança de um ou outro artista. Continua-se a política do pacote, da cultura instantânea, com fórmula industrializada, fácil de fazer e que engana o estômago e a alma.

A maior “novidade” este ano é o regresso da Quinta Feira com o palco preenchido unicamente por Artistas Locais, tradição que foi interrompida por vários anos mas que regressa nesta edição. Quem sabe esta mudança seja influenciada pelos vários eventos culturais que têm surgido, pensados e criados por artistas locais. Eventos com grande adesão de público e em crescimento, que provam cada vez mais que existe muito talento espalhado pelo concelho à espera de se mostrar. 

Eventos como o Oh da Praça ou as Varandas Poéticas são ecos de um Bodo passado, onde a Casa Varela se iluminou e encheu novamente de vida as suas salas e as ruas envolventes, graças á colaboração de inúmeros artistas locais. 
Infelizmente que desde há alguns anos que o background do palco do Bodo é um edificio cada vez mais degradado, que continuamos a não perceber bem qual será o seu destino final.
Voltando aos artistas pombalenses, vamos ter oportunidade de os escutar 4 bandas no primeiro dia de festa, após isso restam-nos os Djs, alguns deles locais, como já vem sendo hábito.
Porque não ter artistas locais a abrir as “estrelas” da noite? Será que esse condimento ia afetar o pacote e a receita final? Certamente não seria por falta de dinheiro para o cachet, trocos quando comparados com “os grandes”. Seria uma boa experiência para os artistas locais partilhar o palco com nomes “maiores” da indústria.

Não será o Bodo a melhor altura para mostrar o que de melhor se faz por cá?
Questiono-me várias vezes quem é esta gente que vende o pacote à CMP, que sabe quais os pacotes que o povo deseja e os apresenta em promoção no Verão.
Talvez o problema aqui seja eu, com tanta gente a vender o pacote e a fazer dinheiro por esse Portugal fora, até eu já pensei em vender o meu pacote. Mas não, existem pessoas responsáveis pela produção do evento, sinto que ao vender o meu pacote lhes estaria a tirar o trabalho. Eles foram eleitos pela maioria de nós, e todos nós lhes pagamos o salário, só lhes pedimos que façam o seu trabalho da melhor maneira possível.

Pedimos que usem a criatividade, o seu conhecimento e influência política para trazer cultura ao povo, mostrar coisas novas, diferentes, estimular as artes e apoiar os artistas locais, aumentando também assim a participação da população.

Não falo de se gastarem somas astronómicas como se fez no passado, convidando artistas internacionais, e que na realidade não tiveram o efeito desejado de se criar uma identidade própria do Bodo e se revelaram ruinosas em termos financeiros.
Pelo contrário temos festivais que surgiram no seio da população e com a participação da mesma. O melhor exemplo disso é provavelmente o festival Bons Sons, cuja génese é bem no centro da pequena aldeia de Cem Soldos em Tomar.
Todos os anos o festival arrasta multidões para ver artistas locais e nacionais de renome,  público esse que em muito ajuda á promoção e desenvolvimento da Aldeia.

Bem mais perto temos o festival Ti Milha na Ilha, que começa também a dar cartas, tendo já sido reconhecido internacionalmente pela sua qualidade  com uma nomeação de "Melhor Programa Cultural" nos Iberian Festival Awards.
Qual o segredo? Programar dá bastante trabalho, é preciso fazer pesquisa, negociar bem com os promotores, conhecer o meio a fundo. Falar com os artistas pessoalmente, ir aos eventos, ver, escutar, aprender e partilhar. Ir ao Google e Youtube ver os "Tops" não chega.

Será sempre mais fácil comprar um pacote prontinho, juntar água ou outros líquidos, passar o respectivo cheque e lançar uns morteiros no final. Esse é outro pormenor que continuo sem entender, fogo de artificio em época de incêndios? Porque não Video Mapping nas paredes exteriores do Castelo? Seria sem dúvida mais impactante e seguro.
Fica a ideia, quem quiser pode incluir e vender o conjunto, este ano já não deve dar mas ficam aqui algumas sugestões para o próximo Bodo, pode ser que alguém queira comprar o vosso pacote.

3 comentários:

  1. O Bodo este ano está com muito maior qualidade. Acho que o cartaz está muito equilibrado. Sempre defendi que os músicos Pombalenses deveriam fazer a primeira parte dos artistas principais. A tenda de Djs deveria ser colocada em local diferente para permitir a circulação do público por vários locais da cidade.

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  2. Subscrevo inteiramente a ideia da inclusão dos artistas locais no cartaz das festas do Bodo!
    Acrescentaria apenas os "pequenos artistas" que têm sido dados a conhecer por um projeto com provas dadas e que já vai na sua 9a edição: CRIANÇAS AO PALCO!

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