13 de março de 2021

Crónica de uma destituição anunciada


O que é notícia, por estes dias, não é a designação do Pimpão; é a destituição de D. Diogo - um acontecimento insólito que custa a compreender, até a quem o combateu muito. Como é que um príncipe tão poderoso e dotado de ordinária capacidade cai em semente desgraça; e é forçado a abandonar o trono, com o rabo entre as pernas, escorraçado pelos seus, por todos os seus, humilhado pelo completo abandono, sem uma batalha, sem um duelo, sem uma estocada, sem um ai?

A compreensão disto obrigou este pobre escriba a reler o guião, a tentar encontrar na obra-prima de Maquiavel explicação para tamanha singularidade, para tamanha adversidade do nosso príncipe. 

O nosso príncipe aparentava ser mui douto, mas na verdade exibiu pouca inteligência e má natureza. Começou mal, hostilizando o antecessor e a sua família, e terminou pior, em grande desnorte. Cometido o primeiro erro, no lugar de parar e arrepiar caminho, semeou desordens em vez de as vigiar e acautelar, prosseguiu nas afrontas, necessárias e desnecessárias, aos seus e aos outros, não a um só tempo mas a cada dia, sempre com a faca na mão. Parecia sagaz, e durante algum tempo foi temido por isso, mas revelou-se demasiado temerário e incauto. Deixou-se enredar em brigas de onde nada de benéfico podia tirar, só pelo prazer do desprazer, ao mesmo tempo deixava medrar o desafiador e não cuidava das alianças. Depois, quando era preciso fazer a guerra, evitou-a; mesmo sabendo que uma guerra (que tem que ser feita) não se evita mas apenas se adia em benefício do outro. No fundo, satisfez-se a contender por tudo e com todos, com as leis e com a força; ou seja, foi homem e animal. 

Resultado: acabou em desgraça, escorraçado do reino dos Homens.

1 comentário:

  1. Amigo e companheiro Adelino Malho, somos amigos de peito há longos anos e não te fazia a desceres tão baixo.
    Passaste uma, duas, três… linhas vermelhas.
    Só acaba em desgraça quem é desgraçado e o nosso companheiro Diogo Mateus não é um desgraçado e muito menos foi “escorraçado do reino dos Homens”.
    Tu, “pobre escriba”, leste mal o guião.
    Eu fui um par de entre pares que vestiu o fato de autarca ao companheiro Diogo Mateus.
    Sou um par de entre pares que vestiu o fato de autarca ao Pedro Pimpão.
    Fui autarca, fiz de Egas Moniz aquando da união das Freguesias.
    Ainda faço parte da Assembleia Municipal mas sinto-me o Senhor da Cana Verde.
    Estou certo que, depois de passar este vendaval novas auroras hão de vir.
    Saúde e Fraternidade

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