13 de junho de 2023

A marcha dos alinhados




Já lá vão muitos anos desde aquele início da década de 90 em que dois amigos recuperaram uma velha tradição de Pombal, as marchas populares, a cobertos dos "Amigos de Santo António". Penso nisso em cada edição, naquela entrevista que fiz à dupla Carlos Silva e Luís Mota, incansáveis nesta resistência. Os arquivos fotográficos e a memória de muitos pombalenses atestam bem como esta terra já foi tão viva a esse nível, num tempo em que - também aqui - as marchas representavam bairros (principalmente), quase sempre associadas a colectividades. Desse tempo tão rico em massa crítica fica o registo de um Pombal que fervilhava de actividade cultural, em que aqui nasceu até uma revista à portuguesa (Está a ouvir?). Não admira, por isso, que as marchas colorissem os santos populares da vila. 

Quando nos anos 90 esses dois amigos recuperaram a tradição, foi uma festa. E vieram tempos de glória, que trouxeram para a cidade os amantes das marchas de todo o concelho, evidenciando aqueles lugares e freguesias que já tinham essa tradição enraizada. A Câmara, através de um pelouro da Cultura  que então dava cartas, experimentou vários locais: o estádio municipal, a avenida - com as bancadas em frente ao Tribunal - o largo da Biblioteca. Recuperei essas imagens por estes dias, quando vi a (renascida) Marcha de Vermoil (quase marcha da Ranha...) usar de uma letra criada pelo cantor Nel Monteiro, que naquele ano foi padrinho. E porque dei pela falta da marcha de Albergaria dos Doze. Como noutros anos já dera pela falta da Machada, ou da Charneca, ou do Louriçal.  

Já eu tinha virado a página quando ontem à noite a transmissão televisiva das marchas de Lisboa me fez reflectir sobre o que mudou por aqui, sem sairmos do mesmo lugar. A cidade que está refém do turismo, que varreu os moradores dos bairros mais emblemáticos - tema que, aliás, domina a letra da marcha da Bica, a vencedora do concurso deste ano, ironicamente despejada da sua sede - consegue ainda manter de pé as colectividades, que organizam e promovem este produto cultural sempre melhorado. E também há lá lugar para as IPSS. E para as crianças das escolas - como aqui acontecia!

Já estivemos muito à frente do (nosso) tempo, é verdade. Já fomos essa terra. Se ainda formos a tempo de debelar o falso associativismo, talvez à Câmara e juntas caiba de novo o papel que lhes compete: o de apoiar, com meios, e incentivar, ao invés de desfilar. 


2 comentários:

  1. Vamos lá a ver. Quando é a próxima festa ? O Bodo ? Espero que não. Este Concelho sem festas entra em depressão profunda e corremos o risco de com o choro dos Pombalenses o Arunca transbordar. Sigaaaa.

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  2. Paula, onde está a falta da junta em apoiar e incentivar que reclama? Que eu saiba a junta não só incentivou como apoiou. E por vezes esses heróis e sacrificados presidentes de junta até pegam no estandarte e dão a cara, à falta de quem o faça.
    Aqui o Daniel resolveu revitalizar a marcha na sua freguesia, à semelhança dos aqui aplaudidos Carlos Silva e Luís Mota de outros tempos, e muito bem, e o Daniel calçou esses sapatos nesta era.
    Então mas antes foi bom e agora já é mau por ser um PJ do PSD?
    Acho que o Daniel está de parabéns e Vermoil também.
    🌹

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