A felicidade só é possível no Céu. Mas o crente e bom-cristão dotor Pimpão prometeu-a aos pombalenses, na Terra! Cumpriu.
"E na epiderme de cada facto contemporâneo cravaremos uma farpa: apenas a porção de ferro estritamente indispensável para deixar pendente um sinal."
15 de junho de 2025
12 de junho de 2025
Em Outubro, Pombal desce mais um degrau
Quando julgávamos que já tínhamos batido no fundo, eis que a realidade nos prega mais uma partida, nos impõe mais um fundo - do poder inepto para o vazio de poder.
O que mais aflige o observador interessado pelas coisas da vida colectiva, onde a política deveria assumir o lugar superior, é o fraco pensar e a falta de noção mínima da realidade municipal que as pulverulentas e desengonçadas criaturas, que se vão apresentando a sufrágio e as que as escolhem, patenteiam. Tal como no passado recente, estamos claramente, salvo raríssimas excepções, perante criaturas que não nos representam, nos não conhecem (os eleitores) e receiam que os conheçamos (a eles/elas). Criaturas que nem mesmo chegam a saber para que serve a política, o órgão câmara ou o órgão freguesia, que vivem demasiado à parte para ter razões pró ou contra o que quer que seja, que acham uma vergonha manifestar publicamente uma ideia própria sobre qualquer coisa, quanto mais ter a ousadia própria da consciência para afirmar ideias e criar rupturas – para serem alternativas.
A política pombalense há muito deixou de ser aquilo que já foi e deveria continuar a ser: um jogo de xadrez, onde todas as figuras da comunidade, das mais proeminentes às mais comuns, participavam directa ou indirectamente no jogo, cumprindo o seu papel num plano e numa estratégia estabelecida e interpretada pelos melhores preparados. Agora é uma representação falsa, porque viciada, da vitalidade da comunidade: um jogo matematicamente claro, definido à-cabeça, como é todo o jogo de damas que se joga com uma pedra a menos.
Mas o que há a esperar de uma oposição que só sabe jogar jogos, como o de damas, cujo único movimento é empurrar peças para a frente, sem plano, preparação ou estratégia? Esta tropa da oposição comporta-se como o animal ferido que pressente sua perdição e não sabe o que fazer. Resultado: pisoteia o pasto que poderia salvá-lo de morrer de fome.
27 de maio de 2025
O estranho afastamento do comandante Paulo Albano
Ensina-se no jornalismo que importante é o que acontece, mas muito mais importante é o que vai acontecer. E por isso estranhámos a notícia (incompleta) da última edição do Pombal Jornal, sobre o facto consumado do comandante dos Bombeiros cessar funções. Mais estranhámos ainda todo o laudatório no domingo passado, durante o 113º aniversário dos BVP, sem uma única palavra sobre o sucessor. Percebe-se, afinal, porquê: Paulo Albano não sai do comando de livre e espontânea vontade. É claramente empurrado pela direcção, que já lhe escolheu há tempos um sucessor - Hugo Gonçalves, o coordenador municipal da Protecção Civil.
Há anos que o poder político instrumentaliza as associações, e no caso a Associação Humanitária dos BVP. Já tivemos de tudo, nas últimas décadas, mas o caso desta antecipada saída do comandante parece um dejá vu daquele momento em que Narciso Mota decidiu colocar nos bombeiros um seu homem de mão, Armando Ferreira, primeiro coordenador da Protecção Civil. Só que passaram 20 anos e era suposto que as organizações aprendessem com os erros.
O que é que nos surpreende aqui? O acto não é nada consentâneo com o desempenho público de Ana Cabral, a ex-vereadora que agora preside à direcção dos bombeiros. E além de tudo: Paulo Albano não merecia isto, ao cabo de uma vida dedicada aos BVP. Os bombeiros deste concelho mereciam outro tratamento, com actos, em vez de palavras vãs em dias de festa. E o futuro comandante (ainda em formação), também merecia melhor cenário do que este que vai encontrar: uma casa a arder.
26 de maio de 2025
Quem tramou Zé Paulo?
Nos corredores da Câmara pairam partículas que tendem a formar-se um novelo. Não é nada que nos surpreenda - de tal forma aqui o temos exposto - mas um e outro acontecimento vão fazendo levedar este bolo, até que um dia destes azede. Um dia, só não sabemos quando.
O mais recente episódio foi o concurso para um novo cargo de direcção - o de Chefe de Unidade de Desporto e Juventude - lugar que, em teoria, acaba de ser criado. Mas na prática era há muito ocupado por uma rapaz da terra que toda a gente conhece: o José Paulo Oliveira, o Zé Paulo Bimba, nome que lhe advém do pai, mestre Bimba, já desaparecido. Faço esta referência porque estamos na terra onde o presidente da Câmara puxa por esses galões "da comunidade", a toda a hora, como se fossemos a vila dos anos 80, em que todos se conheciam e partilhavam os mesmos gostos e lugares. Dirá o leitor que este já não é o tempo "das cunhas", em que ser da Jota significava uma garantia de emprego na Câmara, de que foi expoente máximo o reinado de Narciso Mota.
Mas o tempo afigura-se manifestamente pior.
O que aconteceu no final do mês passado com o concurso para chefe da Unidade de Desporto é revelador de quem manda agora na Câmara (o director municipal, recordemo-nos), que neste caso foi o presidente do júri do concurso. Pimpão lava daí as mãos, como Pilatos.
Ora atente-se na acta final (pública) do concurso para perceber como se faz: o segredo está em desenhar bem o guião da entrevista pública de selecção, sobretudo quando na prova escrita os resultados eram outros. E então basta um ponto percentual para fazer a diferença entre dois candidatos que revelam exactamente o mesmo perfil para o cargo.
Ora, falta aqui dizer que, em resultado deste concurso - que colocava em pé de igualdade um superior hierárquico e um subordinado - o júri pendeu, à luz da subjectividade que implica a entrevista, para o subordinado. É a vida - dirão.
O novo chefe é agora Paulo Fernandes, que até agora dividia o tempo entre as funções de assalariado do Município e treinador de natação do Núcleo de Desporto Amador de Pombal, uma prática comum nos espaços desportivos municipais, a que José Paulo nunca aderiu, mas foi permitindo de forma conivente, nomeadamente nas piscinas.
Como bem dizia um dirigente do PSD, "quem tem unhas é que toca viola".
22 de maio de 2025
Terra de cegos e de gente feliz
Como executivo o dotor Pimpão é o que é e não vale a pena bater mais no ceguinho, mas como politico não é o inepto que muitos julgam - revela até manhas que lhe desconhecíamos.
A forma como abafou a dita “oposição”, nomeadamente no executivo, com o sermão da positividade e de todos por Pombal (por ele), demonstra-o bem. É verdade que com aquelas alminhas não era coisa difícil, mas era preciso fazê-lo; e poucos, por esse país fora, o conseguem fazer.
Por outro lado, na política do facto consumado – verdadeiramente antidemocrática – o dotor Pimpão revela também alguma astúcia: passo-a-passo lá vai levando a água ao seu moinho e impondo-nos mais uns elefantes-brancos, para seu gáudio e fama. O último chama-se Pólo de Inovação e Conhecimento, já aqui dado à estampa. Para o ficcional empreendimento contratou recentemente, em regime de avença, por 19.900 euros (mais parece preço de supermercado) um rapaz muito empreendedor e sabedor, o doutor Dino Freitas, bem nosso conhecido, e com belas provas dadas, para elaborar uma proposta para a coisa.
Mas revela igualmente outra faceta até agora desconhecida: já se preocupa com aquilo que ouve dizer que é importante: criação de sinergias. Vai daí, como gastou dinheiro num espaço, dito de Cowork, que está sempre às moscas, com um tiro matou - ou deu vida - a dois coelhos: ao Cowork e ao Dino - o avençado ocupou o espaço.
É o Pombal feliz.
19 de maio de 2025
Chega? Ainda não.
Quem se senta numa qualquer esplanada de Pombal e ouve as conversas, quem anda na rua, quem entra no comércio, quem aqui vive, não acordou hoje surpreendido com estes resultados. Estamos (finalmente) em linha com a média nacional no que toca aos votantes no Chega, embora aqui tenhamos começado com avanço. Estão em todo o lado, em todas as comunidades, em todas as famílias. Juntos, formam um bolo que cresce à custa de vários ingredientes: há os saudosistas do fascismo e das colónias, admiradores de Salazar, mas há também muitos que não sabem sequer o que é a ideologia. São apenas revoltados com a vida que lhes calhou em sorte, gente que noutro tempo encontrava em partidos de esquerda uma âncora, que votava neles em protesto contra aquilo que - achávamos nós - era a Direita. Juntemos ainda os desiludidos com outras ideologias. É desses todos que o astuto Ventura se alimenta e cresce, falando-lhes ao jeito, dando corpo àquilo que o escritor Vicente Valentim chamou em livro "O Fim da Vergonha". Porque até há pouco tempo, tinham vergonha de dizer que pensavam assim. Mas isso acabou. Da próxima vez, não haverá pudor em dizer às empresas de sondagens o verdadeiro sentido de voto. E nessa altura o partido terá de arranjar novo bode expiatório. Por agora, descansem: o Chega diz que não vai atrás de ninguém. Isso será depois.
A ironia desse voto de protesto num partido de extrema direita que, afinal, normalizámos, é que está assente naquilo que condena: o 25 de Abril, a Constituição, a liberdade. Ao mesmo tempo, vão desaparecendo do mundo dos vivos os que sofreram às mãos da ditadura. A escola falhou em toda a linha quando não explicou o que era e como aqui chegámos, e escusam de pensar nas famílias porque essas estavam muito ocupadas a ganhar dinheiro, umas para enriquecer, outras, muitas mais, para pagar a casa, o carro, as contas do supermercado. Não sobrou espaço para nada, tão pouco para o envolvimento cívico, muitas vezes sequer para votar. A maioria nunca foi a uma assembleia de freguesia, ou mesmo a uma assembleia geral da associação da terra. Alguns nunca tinham votado. Chegados a 2019, eis que um homem se anuncia como o Messias para salvar Portugal. Nessa noite eleitoral em que foi eleito pela primeira vez, André Ventura profetizou que em oito anos seria Primeiro-Ministro. E esse é o próximo passo. Talvez não seja má ideia que isso aconteça rapidamente. Às vezes o povo precisa de terapias de choque. As primeiras vão surgir já nas eleições autárquicas.
Mas voltemos a Pombal. Sem surpresa, o PSD (ok, chamam-lhe AD) ganha, com ligeiro aumento de percentagem e número de votos. Mas está longe da supremacia de outros tempos na maior parte das freguesias, com o Chega a morder-lhe não só os calcanhares como a disputar eleitorado. Há pouco mais de uma década o PSD ganhava em diversas freguesias entre os 70 e os 80% dos votos. Agora, restam-lhe as freguesias de Abiul (54%), Carnide (56%) e Meirinhas (50%) para brilharete. O Chega atinge ou supera os 25% de votação em várias (Meirinhas, Vila Cã, Carriço) e no resto anda entre os 20 e os 25%, números que, aqui, o PS deixou de alcançar há muito. O PS: já nas eleições de 2024 ficara atrás do Chega, mas desta vez ficou reduzido a menos de 15% dos votantes. Pouco mais de 4.200 votos. O mal menor acontece na malha urbana (freguesia de Pombal), onde a AD tem a sua vitória mais magra.
Uma nota final para a realidade paralela em que parecem viver os nossos actores políticos: Pedro Pimpão veio às redes dizer ao povo que faça "a sua análise", "as suas reflexões" e que tire "as respectivas conclusões". Partimos do princípio que também vai fazer as suas.
Porque o Chega não é o companheiro fofinho que o PS foi para o poder nos últimos anos.
16 de maio de 2025
Concessão da cafetaria do CIMU - Sicó – o primeiro choque com a realidade
A “Junta” lançou recentemente – à socapa e irregularmente – o concurso público para a concessão da cafetaria e camaratas de alojamento do CIMU-Sicó. Parece que ainda acreditam que aquilo pode ter alguma viabilidade económica – no que é que aquelas alminhas não acreditam?!
Os que acompanham estas matérias recordam-se do enorme fiasco que foi e continua a ser a Quinta Sant`Ana, adquirida e apresentada, já no século passado, como grande pólo de atracção turística, e deixada ao abandono (ou quase) por décadas. Mas todos poderão igualmente observar - porque estão pela cidade à vista de qualquer um - os espaços comerciais onde a câmara derreteu dinheiro, falhou na sua exploração, concessionou a particulares e, pelo caminho que as coisas levam, retornarão novamente para a câmara, para serem definitivamente abandonados. Alguém acredita que no CIMU-Sicó vai ser diferente? Não acredito. Não acredito porque nesta terra, onde estranhamente o poder nem de maduro cai, tudo se resume ao propósito simples de obter um fogacho propagandístico próximo e imediato; ao qual se segue, infalivelmente, um dano mais ou menos prolongado. É esta a principal causa do nosso atraso, de que não nos veremos livres por muito tempo.
Na generalidade dos casos, as comunidades, tal como os povos, não progridem devido à falta de recursos. Depois há os casos anómalos: os que, apesar de os ter (os recursos), marcam sistematicamente passo. Regra geral, tal deve-se à má aplicação dos recursos, no que o Município de Pombal é useiro e vezeiro. Não por terem faltado recursos financeiros à câmara, que se gaba regularmente de realizar avultados investimentos, milhões para aqui, milhões para ali, milhões para acolá. Contudo, o problema de Pombal não é – nunca foi – a falta de investimento público, foi a realização de maus investimentos. Porquê? Porque nada é pensado, integrado e avaliado em função de propósitos claros e consistentes. Tudo é impulso, tudo é benfeitoria, tudo é despesa, e muita é simples desperdício. O CIMÚ-Sicó é o exemplo extremo. E agora, depois de duas décadas a enterrar lá dinheiro, quando a obra está pronta e é preciso pô-la a funcionar, chegará a fase mais dolorosa - mais penalizadora do erário público. Mas dará sempre para o dotor Pimpão fazer uns eventos e muita propaganda.
30 de abril de 2025
O inenarrável livro sobre o Externato da Guia - que todos pagámos
Tive a sorte de nascer na fase final da ditadura, e por isso de crescer em liberdade. Isso quer dizer que, ao contrário do que o destino traçava, antes do 25 de Abril de 1974, não fora a madrugada do dia inicial, inteiro e limpo, a minha caminhada na escola terminaria, muito provavelmente, na escola primária da Moita do Boi. A minha e a da esmagadora maioria dos que nasceram como eu: numa aldeia, no seio de uma família sem posses, onde a porta de saída era a emigração clandestina. Entre os 10 filhos da avó Leontina e do avô Zé Maria, nos Antões, nenhum foi além da quarta classe. Entre os 13 da avó Maria da Luz e do avô António, alguns não foram sequer à escola, outros mal aprenderam a ler e escrever. A minha prima Rita foi a primeira a licenciar-se. Tem agora 60 anos. Lá na minha aldeia os dedos de uma mão chegam para contar os que frequentaram a universidade, ao tempo dos meus pais. Eram todos da mesma casa.
Foi nesse oeste de pobreza, no início da década de 1960, que nasceu o Externato da Guia. Olho para a listagem dos 13 alunos que abriram o primeiro ano lectivo, todos da idade da minha mãe (agora com 75 anos) e imagino que também ela ali poderia estar. Tinha 10 anos. Nessa altura já cuidava de um rancho de irmãos, ela e as outras lá da terra, e deste país. A educação, os estudos, eram privilégio de muito poucos.
Mas as fábricas de serração de madeiras e resina conferiam àquela região algum poder económico, pela mão de meia dúzia de proprietários. Depois havia a localização, excelente, com a qual o professor Armindo Moreira (que há décadas emigrou para o Brasil) convenceu o seu colega António Ramos de Almeida (o Dr Almeida, de que gerações inteiras e seguintes ouviram falar) a investir ali, num colégio privado, em vez de Montemor-o-Velho. O trio de fundadores ficaria completo com um dos poucos conhecidos resistentes anti-fascistas deste concelho, o farmacêutico Amilcar Pinho.
Uma das portas que Abril abriu foi o acesso à Escola Pública. Quando no ano lectivo de 1983-84 ingressei no então 1º ano do ciclo, o Estado já adquirira o Externato da Guia. A minha documentação era da nova C+S, apesar dos resquícios de colégio particular. Ali fiquei até à abertura do Instituto D. João V, no Louriçal. À medida que me fui cruzando com personalidades e histórias, ao longo da minha vida profissional, fui sabendo alguma coisa sobre a fundação "do Colégio", embora sem um fio condutor que me parecesse seguro. Havia (e há) muitas pontas soltas. E foi por isso que pedi a mão amiga um exemplar do livro que acaba de ser publicado, e lançado, com a chancela da Câmara Municipal de Pombal.
São mais de 240 páginas impressas em papel couché semi-mate, escritas pela pena do fundador António Ramos de Almeida, agora com 94 anos. São vários capítulos da sua versão dos factos: o registo é muitas vezes agoniante, numa espécie de vendetta contra várias coisas e pessoas, num saudosismo reaccionário.
O Dr. Almeida tem todo o direito de escrever as suas memórias e lavar a sua alma. No tempo que vivemos, pode até achar-se no direito de vilipendiar o quanto custou a Liberdade, pois que "a anarquia e a instabilidade governativa vieram colocar um ponto de interrogação na continuidade do Ensino Particular", levando-o a vender o colégio ao Estado. E sem o Colégio, muitos dos que lá ingressaram "não teriam passado de simples labregos ou marchantes", sic.
Mas quando isso é pago com o dinheiro dos nossos impostos, o caso muda de figura. Este agrado que Pedro Pimpão fez à família Almeida (e seus interlocutores) custou-nos a módica quantia de 5.299 euros mais IVA, perfazendo um total € 5.616,94 (cinco mil, seiscentos e dezasseis euros e noventa e quatro cêntimos). Isto para 300 exemplares. Que no dia do lançamento - por piada de mau gosto integrado nas comemorações do 25 de Abril - estavam a ser comercializados pelo doutor Né, ao serviço da Câmara, a 20 euros cada exemplar. Foi um ajuste directo, este agrado. Uma bela cama que Pimpão anda a fazer.
Não em meu nome.
29 de abril de 2025
Quando o Conselheiro Acácio “emerdou” o Professor
Na última AM, assistimos, desconsoladamente e da forma mais insólita, à queda de um anjo, aos pés do Conselheiro Acácio. Quem diria?!
27 de abril de 2025
Quem se mete com o Pimpão, leva
Ficou claro na última reunião da Assembleia Municipal que Pedro Pimpão já escolheu o seu adversário para as próximas eleições autárquicas. Pelo tom crispado com que respondeu a Luís Couto, candidato à Câmara pelo movimento Pombal Independentes, percebeu-se também – de novo – que o sentido democrático deste presidente vai buscar o seu quê de inspirador a Narciso Mota: também ele acenava com “os prints” das publicações que lhe desagradavam. Também ele considerava que as notícias “negativas” prejudicavam a boa imagem da Câmara. Em rigor, toda a resposta de Pimpão a Couto (vale a pena recorrer ao vídeo da AM para esse deleite) denota um registo da criatura à imagem do criador – que de resto recuperou para a sua permanente campanha.
Mas centremo-nos na questão que mais importa: a tão almejada (por ele) vinda do IPL para Pombal, sobre a qual parece que “quase ninguém” é contra, segundo Pimpão. E se for, está a contas.
Ora há aqui vários equívocos nesta forma atabalhoada como o Pedro vê o desempenho do cargo institucional que ocupa. Mas o crucial é este de considerar que não vai explicar os benefícios do ensino superior em Pombal a quem não acredita, porque seria “como falar de Deus a um não crente”.
Errado, Pedro. O presidente da Câmara não tem só obrigação de responder, em sede da AM ou noutra, sobre os custos hipotéticos ou reais - que serão avultados, ninguém tenha ilusões. Tem obrigação de os justificar.
Depois há o lado incongruente destes números, bem diferentes dos que Pimpão gosta de passar nas redes sociais, ora na rua, ora na festa, ora na missa, ora à mesa do café, mas sempre com a aura de bom cristão – que acumulou minutos de silêncio por estes dias, em memória do Papa, para compensar este ruído, talvez.
Um presidente para todos, todos, todos, menos os que o contrariam.
24 de abril de 2025
Política pombalense – uma decadência extraordinária
A Assembleia Municipal (AM), definitivamente abocalhada pelos presidentes de junta, que ali debitam lamúrias ou lisonjas conforme os seus humores, reuniu ontem. Na véspera, a “Junta” reunira para cumprir a formalidade, sem ligar às formalidades mais elementares; gerando, desta forma, entropia e irregularidades que o presidente da AM resolveu mal – assunto que trataremos noutro post.
Assiste-se a uma degradação da acção política e a um estupor apático, tanto ao nível do poder como da oposição, que é preocupante, nomeadamente num tempo que deveria ser de efervescência e confronto político. A forma como decorreu última reunião da AM é paradigmática da triste realidade.
As reuniões da AM - tal como as da Assembleia da República - não são igualmente relevantes. A reunião de Abril, onde se discute o Relatório de Gestão do exercício anterior, foi sempre a mais relevante (politicamente), porque era ali que se fazia o balanço do desempenho do executivo; e, por isso, era nesta reunião que a oposição tinha obrigatoriamente que fazer prova de vida - mostrar a sua capacidade para ser alternativa. Agora, tudo é diferente, penoso, chocho e insípido. A bancada do poder, historicamente aguerrida e até trauliteira, vai agora para ali como quem vai para um velório, com as principais figuras a remeterem-se praticamente ao silêncio, suportando estoicamente o enfado. A dita oposição, de onde desertaram os figurões, e agora resumida ao Conselheiro Acácio e às 2 – Marias, arrasta-se penosamente no seu labirinto, sem ânimo e sem âncoras, sem as corriqueiras recomendações. O tempo do PAOD (Período Antes da Ordem do Dia) fica pelo meio, e o Relatório de Gestão não chega sequer a ser discutido – despacha-se com uma cábula trazida no bolso.
Como é que se sai disto? - perguntarão alguns leitores. Não sai; só se desce. E perguntarão outros: … mas não há esperança? Há, mas não é nas nossas vidas.
21 de abril de 2025
FAZ&DESFAZ, NO CARDAL
O doutor Pimpão resolveu esburacar novamente o Cardal, para ali “criar uma praça central de táxis”, que, diz ele, “permitirá dotar a zona de todos os elementos necessários para o efeito…” – seja lá o que isso for. E garante – o que este profeta não garante! - que as obras avançaram “após um processo muito maturado e discutido, nomeadamente relativamente à localização da praça central de táxis, após um trabalho profundado em articulação com os taxistas na busca de uma solução definitiva e consensual”.
O Cardal foi durante décadas o poiso da Central de Camionagem local. Daí que a Central de Táxis também ali estivesse. Mas os tempos são outros, exigem outro pensar e outra forma de pensar a cidade. Com este disparate (Praça Central de Táxis no Cardal) a cidade regride duas décadas, fica mais disfuncional e desfigurada. Mas para embelezar a tontice, diz(em) que vão lá plantar umas árvores, que farão sombra aos taxistas. Nesta terra, assim se governa e desgoverna, se faz&desfaz obra, se cumprem promessas, e se continua a confundir carros com mobilidade, e árvores com paisagem.
O doutor Pimpão é um rapaz sem ideias ou com ideias velhas queimadas pelo tempo. Seria um excelente presidente de junta se não tivesse dinheiro para gastar e se limitasse a sua acção à diversão e à propaganda vazia e barata nas redes sociais, suas especialidades e passatempos preferidos.
16 de abril de 2025
Autárquicas'25: sobrou pr'a nós o bagaço da laranja
10 de abril de 2025
As Meirinhas não saem disto
Se há nesta malfadada terra uma malha urbana incaracterística e repulsivamente feia ela encontra-se, sem dúvida, nas Meirinhas. É difícil, senão impossível, encontrar por ali alguma coisa bela ou, pelo menos, harmoniosa à vista, tal é a amálgama disforme e disfuncional de aberrações e maus-tratos urbanísticos, irresponsavelmente praticados com premeditada ignorância e intenção ao longo de décadas.
Na segunda metade do século passado quase tudo era permitido, porque não existiam instrumentos de planeamento, regras urbanísticas claras e abrangentes e bons exemplos. Mas actualmente não se pode aceitar que se continuem a cometer os mesmos atentados urbanísticos, só porque é “tradição”.
Bem isto a propósito de umas edificações que têm surgido na dita terra, nomeadamente na Rua do Comércio, e que muito têm apoquentado os meirinhenses que se preocupam com a qualidade do espaço público, ao ponto de o presidente da junta ter participado a revoltante situação à câmara e exigido a obrigatória fiscalização.
Mas parece que tudo vai acontecer como previsto. Terra onde não há rei nem roque, prevalece o desenrascanço e o oportunismo.
2 de abril de 2025
Pólo do Conhecimento – mais uma tontice pombalina
Num dos pasquins que alimenta, o dotor Pimpão fez passar a informação que o projecto do Pólo do Conhecimento, a erigir no Casarelo, está quase pronto. Os despesistas são assim: dinheiro em caixa (proveniente do empréstimo recentemente contratado) dinheiro torrado... Compreende-se. Os pacóvios admiram o que não têm, mas nada fazem para o terem. Na verdade, não há absolutamente actos “desinteressados”, e nada é mais terrível (para as comunidades) que ver a ignorância em acção. Mas do IPL esperava-se um bocadinho de juízo (prudente) e de racionalidade.
É inegável que o município precisa de conhecimento (aplicado) em diversas áreas críticas, nomeadamente em matérias da boa-governação. Mas não precisa de mais “elefantes-brancos”, abandonados ou subutilizados, tais como o CIMU-SICÓ, a Casa da Guarda Norte, a Casa Mota Pinto, a Casa Varela, o Centro de Negócios, o Celeiro do Marquês, a Quinta de Sant`Ana,etc., e as dezenas de edifícios ilegais (sedes de associações e outros) e de equipamentos desportivos e de lazer abandonados (ringues, parques de merendas e outros).
Desde os primórdios da economia se sabe que o uso de um objecto determina seu valor. O Município de Pombal comprova-o na plenitude - tem sido uma máquina trituradora de valor. Nas ditas ciências-sociais não há nada tão profunda e objectivamente estudado e teorizado como as matérias de Análise e Decisão de Investimentos; mas por cá continua a confundir-se investimento com despesa, valor com desperdício, análise com opinião, decisão com palpite. Por conseguinte, apesar da doentia naturalidade das coisas que nos vão sucedendo, é absolutamente inacreditável que durante quatro décadas, três presidentes e vários executivos, não se tenha conseguido dar vida/utilidade - valor para a comunidade - a nenhum dos avultados “investimentos” realizados, salvo a honrosa excepção da Biblioteca Municipal.
1 de abril de 2025
A lenta agonia do centro histórico - e desta cidade
Entre 1999 e 2008 vivi mais tempo no centro histórico de Pombal do que na minha rua. Já então se anunciava um certo declínio daquelas artérias, mas ainda abriam alguns negócios, dando continuidade a uma época em que o comércio - e serviços - passavam por ali.
Quando Narciso Mota apostou tudo no parque subterrâneo e empedrou por completo a Praça Marquês de Pombal, despindo-a de árvores, só se aproveitou a retirada dos carros. Na altura, que havia jornais e crítica, que ainda não estávamos tomados por esta unanimidade bacoca, por esta letargia (sim, nós tivemos uma Associação de Defesa do Património Cultural, por exemplo) muito se desancou naquelas obras. Viriam outras piores, quando se substituiu a calçada das ruas por estas lajes, por exemplo.
Cometeram-se muitos erros no centro histórico, nos últimos 30 anos - que afastaram dali as pessoas, os habitantes e o comércio. Não mais me esquecerei do dia em que, tão contentes por estarmos a ocupar um espaço numa zona nobre e promissora (as zonas históricas despontavam para a animação, por todo o país) instalando ali a redacção do d’O Eco, entretanto renascido, vim à rua perceber que placa era aquela que uns trabalhadores da Câmara estavam a colocar na Igreja do Carmo.
Era a nova casa mortuária.
Poucos anos antes, o então vereador da Cultura, Gentil Guedes, redescobrira a praça. Foi ali que os Silence4 deram um memorável concerto. Era ali que ele sonhava esplanadas e bares.
Ainda hoje, nos espectáculos do festival Sete Sois Sete Luas, não há quem não se impressione com a acústica daquela praça.
Nesse tempo já tinham fechado bares como o Missa das 9 ou o Palumbar, ou a hamburgueria no primeiro andar da rua Miguel Bombarda, de cujo nome não me lembro. Mas aquela viragem de década trazia um novo alento: o jornal, no Largo do Carmo, o Projecto Jazz (antigo bar do Cais), na Rua do Cais, a cafetaria da K de Livro, a livraria que ficou na memória colectiva, junto àPraça. Permanecia o sapateiro, a mercearia da Natália, e as históricas lojas como a sapataria Mónaco ou a Pereira, a da Singer, a do Cacho, a Ourivesaria e Óptica Ramos, entre outras. A porta sempre aberta do senhor João das Farturas, o senhor António Serrano à varanda (que dor aquilo que os novos donos fizeram à casa, transformando-a em apartamentos), a D. Natália a puxar pelo carrinho de compras com todos os ingredientes para os rissóis, o cheiro aos ‘russos’ da D. Clotilde. E ainda os serviços do IEFP, a Junta de Freguesia, mas também o primeiro franchising de roupa de criança, onde mais tarde se instalou o único negócio que resta do programa Porta Aberta: a Mercearia da Praça. O Celeiro do Marquês (então chamado Centro Cultural, onde até funcionou uma delegação do Instituto Português de Arqueologia), a cadeia a virar museu, nesse patológico fascínio pelo Marquês. Menos mal, ainda assim.
Não foi por falta de dinheiro que o Centro Histórico definhou. A Câmara comprou edifícios, fez obras, gastou, como é hábito, mundos e fundos. Foi mesmo por falta de estratégia, de uma ideia, de um pensamento para aquela zona - e para a terra. Depois de Narciso veio Diogo, e depois dele veio Pimpão. Ninguém foi capaz de virar o jogo.
A presidente da Junta de Freguesia, Carla Longo, sabe disso. Vai-se esforçando para fazer ali alguma coisa, mas tem consciência de que os eventos esporádicos (como a comemoração do Dia Nacional dos Centros Históricos, no fim de semana passado) mais não são do que um penso rápido para tapar uma doença crónica. Na tertúlia que organizou, ao final do dia de quinta-feira, para debater o assunto, ficou bem patente uma parte do problema: a crónica falta de interesse e participação do público, que explica a inexistência de uma sociedade civil em Pombal, e o desfasamento da realidade por parte dos dirigentes associativos. Quando o presidente da Associação de Comerciantes ainda acha, em 2025, que a falta de pessoas se resolvia com uma loja da Zara ou um MC Donald...estamos conversados.
Mas o que é verdadeiramente triste é a falta de horizonte. A poucos meses das eleições autárquicas, o debate não suscitou interesse nem para a classe política que quer ocupar cargos públicos. Assim como não põem os pés em qualquer iniciativa que ali aconteça, a não ser os do poder, que são “obrigados”, para discursar ou entregar lembranças.
Enquanto acharmos que está tudo bem, que somos os maiores (e os melhores!), com medo de encarar a realidade de frente, não passaremos do concelho que consegue ombrear com os do interior profundo na perda de população. As lojas continuarão a deixar as ruas da zona histórica, afunilando a cidade até ao Cardal, fugindo para a avenida, correndo atrás de quem ainda passa. De porta fechada ao sábado e domingo, mesmo que seja um fim de semana de eventos, como era o último.
E sem pessoas, nem massa crítica, seremos cada vez mais a terra de passagem.
27 de março de 2025
Eleições Autárquicas – Era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto (II)
O designado “processo autárquico” já arrancou nas principais forças políticas, sem fulgor e sem novidades. Para nossa triste sina, vamos ter que gramar com o doutor Pimpão por mais quatro anos, cheios de diversão e despesismo.
Por cá, a política é uma farsa, um faz de conta que não conta p`ra nada, nem para trocar umas ideias sobre o assunto.. As campanhas eleitorais degeneraram para uma espécie de jogos entre solteiros e casados, e não como aquilo que deveriam ser: disputas aguerridas, entre os melhores, pelo melhor - para todos. Mas são coisas diametralmente distintas. Nos jogos entre solteiros e casados todos podem participar, mesmo aqueles que não sabem dar um pontapé-na-bola, porque o propósito é a diversão não a competição, e ali o episódio caricato conta tanto, ou mais, que os golos marcados. Na disputa política tudo é diferente: é preciso saber jogar o jogo: conhecer as regras, dominar as técnicas, analisar e avaliar o contexto e os meios, definir as tácticas e as estratégias, escolher os protagonistas certos, conceber um plano e um programa sólidos, criar um discurso coerente e consistente e saber comunicá-lo. Tudo o que tem faltado à pobre oposição, e, pelo que se vai vendo, continuará a faltar no presente “processo autárquico”.
Não existirá - ao cimo da terra - actividade humana mais periclitante que a política, devido ao nível de exigência técnico-político e à sistemática exposição e escrutínio público. Por conseguinte, causa perplexidade e estranheza ver pessoas sem nenhuma preparação política atirarem-se para esta tórrida arena, como cavalos atreladas a uma carroça, largados por uma colina abaixo, sem saberem se puxam ou são puxados, numa correria desenfreada sem tempo para ponderarem aonde aquele movimento vai levar. E ainda há quem considere os gladiadores dos circos romanos loucos!
Temas que queimam nas mãos de Pimpão
A reunião pública que aconteceu esta quarta-feira na Câmara Municipal foi farta em temas quentes, daqueles que escaldam a vida dos cidadãos.
Da agenda faziam parte alguns deles, e o vereador socialista Luís Simões levou outro, bastante pertinente: as condições em que funciona o externato A Falinha, arrendado à Câmara Municipal (pela módica quantia de 15 mil euros por mês) para albergar a escola Conde Castelo Melhor, enquanto decorrem as obras de requalificação do edifício. Ora, desde o início do ano lectivo que se acumulam as queixas de pais e professores quanto à falta de condições do edifício para albergar as crianças com o bem-estar devido. Toda a intervenção que a oposição faça para o denunciar é justa. E necessária.
Já sabemos que Pimpão lida mal com a crítica, que foge do desconforto municipal como o diabo da cruz. Mas esperava-se que, ao fim de um mandato, e ao cabo de uma vida inteira na via profissionalizada da política, tivesse estofo e coerência para ser ele próprio o escudo da autarquia nas matérias mais delicadas. Porém, continua "em cima do muro" (como tão bem o caracteriza um dirigente do partido), qual puto charila que atira a pedra e esconde a mão.
O tema da Falinha queima? Atira-se para a vereadora Catarina Silva, que ainda vai "validar" as denúncias levadas pelo vereador Simões.
O tema do Cimu Sicó queima? Atira-se essa batata quente directamente para as mãos da vereadora Gina, cada vez mais arredada da cena política e pública, resgatada agora para relatar a canseira que foi a BTL, e para justificar mais umas milenas que continuamos a enterrar na serra. São mais de cinco milhões derretidos em forma de betão, ao longo de uma década, sem que sequer se saiba o que vai ser aquilo. O desnorte é tal que a vereadora ainda lhe chama Explore Sicó, nome com que fora rebaptizado por este executivo, mas na agenda de trabalhos voltou a chamar-se Cimu.
O tema do traçado do TGV queima? Atira-se a batata quente para a vereadora Isabel Marto, que lá esteve na sessão de esclarecimento em Leiria, enquanto o presidente estava ocupadíssimo na BTL.
Só não atirou batatas quentes ao vereador Pedro Navega, talvez porque já basta o forno atolado com que tem de lidar todos os dias. Ou porque é dado como certo fora da próxima lista à Câmara.
26 de março de 2025
Eleições Autárquicas – Era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto (I)
“Era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto” é o título de um livro de Mário de Carvalho, publicado em 1995, que li em 2005, e que agora, no prelúdio de novo “processo autárquico”, resolvi revisitar, porque nada como a boa ficção para compreender a triste realidade.
A narrativa, romanesca e em tom galhofeiro, plena de fina ironia e mordaz sarcasmo, gira em torno de um burocrata da pequena burguesia do funcionalismo, Joel Strosse, que sempre viveu de aparências e da posição adquirida, mas desiludido e frustrado com a vida (os novos tempos) decide ingressar no PCP. Aí encontra Vera Quitério, diligente e astuta funcionária do partido, que antes de lhe entregar a ficha de inscrição dispara a frase-cliché, que sempre usava naquelas circunstâncias: “Era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto”.
A beleza da frase, e a cuidadosa condução da conversa, nunca mais me saiu da memória. Daí que, neste periclitante contexto, tenha revisitado o livro. Com a premência que a situação exige, recomendo aos meus camaradas de partido - e aos outros, porque não - a sua leitura. Recebam-na como uma modesta contribuição para minorar desilusões, desgostos e desastres colectivos e individuais.
8 de março de 2025
8 de Março - mais luta e menos flores
O Dia Internacional da Mulher passa hoje por Pombal sem que nada o assinale. Nada não: o presidente da Câmara - a mesma Câmara que aprovou um plano municipal para a Igualdade - distribuiu florzinhas por algumas mulheres. Se acaso se cruzarem com ele, peçam também chocolates. E não se espantem se vos chamar de princesas.
Era mais do que isto que se esperava do poder local, numa terra onde é ele quem mais ordena, onde há muito deixou de haver sociedade civil.
Por isso mesmo merece vénia a iniciativa do Cineclube, que ao longo deste mês de março exibe, às quartas-feiras à noite (no pequeno auditório do Teatro-Cine) um ciclo com assinatura de mulheres realizadoras.
Em nome de todas as mulheres que lutaram no passado pelos direitos conquistados, e das que lutam todos os dias pelo que falta conquistar, aqui fica um poema de uma das três Marias. Porque a luta continua, todos os dias.
Revolução e Mulheres
Elas fizeram greves de braços caídos.
Elas brigaram em casa para ir ao sindicato e à junta.
Elas gritaram à vizinha que era fascista.
Elas souberam dizer salário igual e creches e cantinas.
Elas vieram para a rua de encarnado.
Elas foram pedir para ali uma estrada de alcatrão e canos de água.
Elas gritaram muito.
Elas encheram as ruas de cravos.
Elas disseram à mãe e à sogra que isso era dantes.
Elas trouxeram alento e sopa aos quartéis e à rua.
Elas foram para as portas de armas com os filhos ao colo.
Elas ouviram falar de uma grande mudança que ia entrar pelas casas.
Elas choraram no cais agarradas aos filhos que vinham da guerra.
Elas choraram de verem o pai a guerrear com o filho.
Elas tiveram medo e foram e não foram.
Elas aprenderam a mexer nos livros de contas e nas alfaias das herdades abandonadas.
Elas dobraram em quatro um papel que levava dentro uma cruzinha laboriosa.
Elas sentaram-se a falar à roda de uma mesa a ver como podia ser sem os patrões.
Elas levantaram o braço nas grandes assembleias.
Elas costuraram bandeiras e bordaram a fio amarelo pequenas foices e martelos.
Elas disseram à mãe, segure-me aí os cachopos, senhora, que a gente vai de camioneta a Lisboa dizer-lhes como é.
Elas vieram dos arrabaldes com o fogão à cabeça ocupar uma parte de casa fechada.
Elas estenderam roupa a cantar, com as armas que temos na mão.
Elas diziam tu às pessoas com estudos e aos outros homens.
Elas iam e não sabiam para onde, mas que iam.
Elas acendem o lume.
Elas cortam o pão e aquecem o café esfriado.
São elas que acordam pela manhã as bestas, os homens e as crianças adormecidas.
5 de março de 2025
Empréstimo de 10 Milhões – uma conversa tola sobre uma extravagância (II)
Nesta coisa do empréstimo, a oposição ajudou à festa – fez de bobo da festa. Andou três anos a propor/incentivar o dotor Pimpão a endividar a câmara, e agora, quando ele avançou com um empréstimo bancário de 10 milhões de euros, votou contra.
Em política, quando não há rumo todas as encruzilhadas são uma partida e todas as passadas são ariscadas. Há muitos anos, expliquei a algumas daquelas criaturas que actualmente representam o PS que uma verdadeira oposição faz oposição: centra-se na sua missão, não na do poder - centra-se unicamente nos fins e não nos meios. Mas esta oposição não quer ser vista como oposição. Quer ser parceira: colaborar, recomendar e ser reconhecida pela postura positiva - tanto do agrado do dotor Pimpão & C.ª. No empréstimo, tropeçou nas suas contradições congénitas e acabou a fazer trapezismo político. É…, mas não é a favor do empréstimo. Quer dar mais dinheiro ao dotor Pimpão, para as suas extravagâncias, mas é contra o empréstimo para aquelas finalidades – e para todas aquelas que não sejam as suas.
No final, o arraigado populista desafiou-os a irem à ETAP e às freguesias assumir que são contra as suas benfeitorias. Já foram à ETAP.
3 de março de 2025
Empréstimo de 10 Milhões – uma conversa tola sobre extravagâncias (I)
O assunto mais relevante da recente Assembleia Municipal foi a discussão e aprovação de um empréstimo bancário de 9854000 €, pela Câmara Municipal de Pombal.
Depois de estourar as poupanças herdadas e de colocar as contas no vermelho, com 3.6 milhões de euros de prejuízo, e a tesouraria em ruptura, o dotor Pimpão precisava de mais dinheiro para as suas extravagâncias. Por conseguinte, o empréstimo só surpreende no montante, não na sua aprovação, garantida à cabeça qualquer que fosse o montante ou finalidade. Daí que o executivo não tenha gastado tempo nem palavras para o justificar - limitou-se a indicar umas medidas meio-tontas ou sem necessidade de financiamento. Mas a realidade é outra: o dotor Pimpão precisa das contas bem recheadas para poder gastar à-vontade nas festas, benfeitorias de fachada - que também dão festa - e negócios ruinosos.
Nas questões de governação, a pior coisa que se pode fazer é meter dinheiro, em abundância, nas mãos de um desgovernado. Mas como o dinheiro não é deles - é nosso - a maioria fez o favor ao menino. E a oposição ajudou à festa, como é da sua natureza…
As acções dos homens (e das mulheres) são danosas quer pela ignorância, quer pelos maus desejos. Neste caso, é pelas duas coisas. A prenda vai-nos sair cara – preparem-se para a subida da factura da água. A felicidade tola traz sempre enormes custos.
1 de março de 2025
Dona Durvalina desmascara dotor Pimpão&C.ª
27 de fevereiro de 2025
Sobre o nosso Conselheiro Acácio
Como qualquer terra portuguesa, Pombal também tem as suas figuras típicas, com as suas grandezas e miudezas - também tem o seu Conselheiro Acácio.
Como não podia deixar de ser, o nosso conselheiro tem muitas parecenças com o do Eça: o formalismo discursivo cheio salamaleques, maneirismos e etiquetas antiquadas, uma pedanteria balofa e uma delicadeza excessiva que ofende todos os patamares da inteligência. Mas tem, também, algo que o distingue do seu semelhante. Falta-lhe a impressiva feição mental e a capacidade de representação da figura retratada pelo Eça.
O nosso conselheiro não impressiona, cansa; repete continuamente “Senhor Presidente” e “Sua Excelência”, numa postura corporal e numa entoação de voz em que não há como saber se pergunta, elogia ou censura. E por medo ou timidez, ferra os olhos no papel que o suporta e nunca olha para o mencionado. O outro, o célebre, “Sempre que dizia – El Rei! Erguia-se”.
NR: E abusou tanto nos salamaleques que deixou a sua correligionária apeada, sem tempo para usar da palavra.
26 de fevereiro de 2025
Centro Natural da Propaganda
Não há nada pior que tomarem-nos por parvos. É mais ou menos o que anda a fazer Pedro Pimpão nestes primeiros meses do ano, em que alimenta uma espécie de tabu sobre a sua (obrigatória) recandidatura à Câmara, ao mesmo tempo que utiliza os meios públicos como forma de - descarada - propaganda, esbatendo as linhas vermelhas entre o que é partidário, pessoal, e público.
Há dias os habitantes deste concelho foram surpreendidos por um panfleto na caixa de correio sob o título "Em Pombal, 2025 é sinónimo de investimento". O infomail é do PSD, Pimpão usa-o como slogan, coadjuvado por outro: "Pombal pela Positiva". Centro Natural da Felicidade, lá está, sem críticas nem farpas.
O que aqui se condena é este registo de meias-tintas, que, como sabemos, é meio caminho andado para os troca-tintas.
Para quem diz que ama Pombal, o mínimo que se esperava era a frontalidade. A hombridade de dizer "amigos, sou candidato outra vez, quero manter-me aqui neste lugar e só vocês me podem garantir isso".
Mas Pimpão prefere dar uma no cravo e outra na ferradadura. Como diz um dirigente do partido que o conhece desde sempre, não abdica de ficar em cima do muro, a meio da ponte.
O que fez esta manhã, porém, ultrapassa os níveis da decência: usou a página do Município para mais um laudatório seu, à espera de confettis. Uma publicação nas redes sociais da Câmara - onde, não raras vezes, os comentários que não são pela positiva acabam ocultados.
Pedro Pimpão baralha-se muito, nesta ânsia de se manter omnipresente e conectado a toda a hora. Se esta fosse a sua página pessoal, poderia fazê-lo, claro. Mas as páginas do Município não são dele, mesmo que pareçam.
E se houvesse oposição, já o tinha posto no sítio. Porque mesmo que a realidade paralela onde vive lho diga, não vale tudo.
Nos próximos meses, que são de pré-campanha, isto promete, senhores leitores.
13 de fevereiro de 2025
Marcelo veta desagregação das freguesias
A agregação das freguesias foi uma farsa improvisada pelo governo da PaF - Passos Coelho/Miguel Relvas - para enganar a Troika. Entretanto, a Assembleia da República resolveu reverter o processo, aprovando por ampla maioria a desagregação das famigeradas uniões de freguesia.
A agregação foi um acto tão vil como este, agora, da desagregação; ambos movidos unicamente pelo mais descarado oportunismo político, sem nunca atenderem ao primordial interesse do país, ao seu coerente e adequado modelo organizativo. Marcelo, como é seu timbre, não quis ficar atrás e compôs o ramalhete: vetou a lei por considerar que existe “falta de compreensão e transparência pública do processo legislativo” e “capacidade para aplicar … o novo mapa já nas eleições autárquicas de Setembro ou Outubro deste ano”. Há boas razões políticas para concordar ou discordar da medida, mas não me parece que os pretextos usados pelo presidente sejam minimamente razoáveis, porque julgo que toda a gente compreende o que está em jogo e a aplicação da norma é coisa lógica e natural.
Há em cada coisa aquilo que ela é, e que a anima. Marcelo é intriga, e entropia. O hábito da intriga desenvolve todas as fraquezas que são com ela solidárias. Marcelo tornou-se um empecilho do regime. Deixa um amplo contributo, se não para a obsolescência do regime, pelo menos para a demonstração da inutilidade do cargo que ocupa.
Nota de Rodapé: o veto tem o mérito de facilitar a vida às estruturas concelhias dos partidos. Em Pombal são menos quatro listas, menos cinco dezenas de candidatos onde está a ser muito difícil encontrá-los.