4 de junho de 2012

Pombal e os touros

Os nossos autarcas, pouco cultos e ansiosos de protagonismo, são muito permeáveis a modas. Agora não há quem não queira ter a sua “maravilha” nos infindáveis concursos promovidos por um espertalhaço que aí viu um filão. Já outros aspiram a algo mais arrojado: pertencer ao restrito clube dos que têm um bem classificado como Património Cultural e Imaterial da Humanidade (PCIH).

Vem isto a propósito de Pombal ter atribuído o título de Património Cultural do Município às Touradas de Abiúl, numa iniciativa mais vasta que pretende candidatar a festa brava a PCIH. E qual o raciocínio dos nossos autarcas? “Se a coisa for classificada, teremos hordas de turistas. É só massa a entrar!” Esquecem-se é que a classificação acarreta, em si, um compromisso forte, que transcende a esfera política. Deveria, por isso, ter sido amplamente discutida.

Gosto de touros, mas não acho é piada nenhuma aos tipos embonecados, encavalitados num cavalo, a espetar farpas no lombo de quem não pediu para estar ali. E são precisamente esses e outros embonecados que sustentam esta candidatura. Se a ideia era promover o sacrifício animal, porque não a matança do porco? Essa sim, verdadeiramente popular a nacional.

(texto adaptado de coluna escrita no Região de Leiria)

8 comentários:

  1. Esta história dos touros é um belo sinal da fraca qualidade de políticos que por aí grassam. De uma forma geral, "do mar à serra". Perdoem-me a sobranceria!
    É conhecida a minha posição claramente anti-touradas, que já aqui defendi. Não pelo espetáculo em si, não pelas "feiras de vaidades" (a ópera tb o é, e eu não sou conta a ópera), mas pelo sofrimento gratuito que é provocado ao animal. O que resulta dos espigões de ferro espetados no lombo do bicho, para ser mais concreto.
    Ora, mas a razão da minha revolta, hoje, é diferente. Ela resulta das acções popularuchas de politicos "de favor", que fazem o que for preciso para ir ficando com carinha laroca nas fotografias. 2 politicos em particular (de diferentes bancadas) vieram, no final, dizer que "não são apreciadores da tourada, mas enfim... o não-sei-quê cultural, e tal..." e lá votaram a favor. Que é como quem diz: contrariar um sentido de voto já previamente estabelecido, e que ainda por cima vai de encontro ao que a maioria da população pensa (ou "pensa que pensa"), enfim... era uma chatice do caraças!
    Isto, na minha óptica, é um claro problema de falta de tomates (para nõ fugir muito às palavras). Os mesmos que votaram favoravelmente mesmo não gostando da tourada (e qui ça revendo-se numa sensibilidade contra o tal sofrimento gratuito), são os mesmos que um dia destes votarão a favor da reintrodução da pena de morte, se acharem que é isso que mais de 50% da "populaça" gosta. Sao os mesmos que decidem não pela sua cabeça, mas pelo eco que sobressai da rua. "Democracia em estado puro!", dirão alguns. "Populismo e demagogia!", respondo eu. E o abandono assumido e formalizado da ideia de que nos cargos de decisão politica estão os melhores, os que querem mudar as coisas para melhor. Afinal, são meros fantoches comandados pela gritaria das feiras!

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  2. Meus caros,
    Ponto prévio - sou aficionado.
    Gosto do espectáculo taurino, da festa brava, da sua envolvente, do toiro e do cavalo, do campino, do embolador,da banda a tocar o "pass-doble", do cavaleiro, do matador de toiros, do bandarilheiro e do Moço Forcado.
    Enfim gosto da tradição que neste espectaculo encerra.
    Agora sim.Em giza de silogismo.
    Sendo, Abiúl titular da praça mais antiga do pais.
    Existindo, uma "corrente" de classificar um bem como Património Cultural e Imaterial da Humanidade.
    Logo, não vejo porque não o concelho de Pombal poder ser promotor de uma sua localidade a tal classificação. Parece-me bem.

    Adérito, Gabriel, posso entender as vossas razões. Compreendo os vossos argumentos. Escuto as vossas motivações mas por favor "deixem de bater no ceguinho" da imoralidade de uma carnificina que é o espectaculo de toiros...
    Questiono:
    E a matança industrial de porcos? E as corridas de cavalos? E os concursos hipicos? E a arte nobre da Lavoura com animais (lembram-se dos aguilhões nas pontas das varas de condução?)? E as chegas de bois? E as corridas de cães? E as corridas colombofilas? E as experiencias médicas em ratos, cães, gatos e demais.
    E ... e tanto que há para aí sem respeito pelos animais.

    Meus caros, defensores dos Direitos dos Animais, eu procuro acima de tudo preservar a dignidade dos ditos mas se tiver de acabar com as minhas referencias culturais e por razões que não assisto, tenho para mim que a identidade de um Povo se possa extinguir tal qual os ditos animais que só servem para aquilo e para aquilo mesmo.
    Não é justo?
    Certamente não o será mas a Vida, nem a Humana nem a Animal o é.
    Se politicamente se andam a aproveitar disso? Pois está claro que sim. Só assim se entende posições de "gato-escondido-com-rabo-de-fora" que alguns tomam à anos a esta parte. Eu ando na moda desde os meus nove anos...

    Por mim, caros amigos, será Sector 1 Sombra - Fila A ou B - lugares pares ou impares (tanto me faz) e 1.º fim de semana em Agosto (5 e 6), lá estarei se Deus quiser e o Comissão de Festas assim entender fazer as ditas.
    Brava como é costume.
    E ... Olé!
    Vai por si.

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  3. Caro Carolino,

    Como discordo de ti... E não é por gostares de touros (eu também gosto)! É pela forma simplista como encaras as candidaturas a Património Cultural e Imaterial da Humanidade: "se existe uma "corrente" para classificar um bem como PCIH, porque não o concelho de Pombal poder ser promotor de uma sua localidade a tal classificação?" Espero bem que, na UNESCO, sejam mais criteriosos.

    Vislumbrar vestígios de uma cultura taurina no nosso concelho é mais difícil do que encontrar uma agulha num palheiro. Se tens dúvidas, faz o teste. Convida um grupo de amigos/turistas a visitar o concelho e, sem nenhum condicionante, deixa-os falar sobre a nossa cultura, as nossas tradições. Aposto contigo que a probabilidade de se referirem a Pombal como um concelho marcado pela cultura taurina é zero. E quem diz os teus amigos, diz os avaliadores de UNESCO. Principalmente se forem gente séria.

    Abraço,
    Adérito

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  4. De todos os teus exemplos, Fernando, reforço o que disse anteriormente: sou contra o sofrimento GRATUITO de animais. Ou não vês diferença entre a junta de bois e um outro exemplo de que te esqueceste (felizmente já proibido) que são as lutas de cães? Ou achas semelhante o sofrimento de 4 ou 5 ferros no lombo de um toiro com o sofrimento (?) de um pombo-correio na actividade columbófila? Mas se houver o tal sofrimento GRATUITO de animais, e se te aprouver a luta, conta comigo, que não te deixo só!
    A discussão sobre a tourada seria extensa, mas a minha questão era outra, por isso deixemos adormecidos os pontos prévios (estou certo que nenhum de nós conseguirá mudar o ponto de vista do outro). Trata-se da "líbido" que empurra os políticos para as posições fáceis do populismo. E aqui, claro, não me refiro aos aficionados (embora discorde da sua posição, aceito autenticidade na sua defesa "da causa"), mas aos outros. Os que "eh pah, eu por mim não gosto, mas sabe... é uma tradição, quer dizer..."

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  5. Caro Adérito,
    Não quis com o meu modesto comentário entrar pela escalpelização do necessário para se ser considerado Património Cultural e Imaterial da Humanidade. Se vamos por aí então concordo contigo. A fraca, aliás nenhuma, divulgação da tradição abiulense é mantida. Vanha-nos alguns poucos e aguerridos aficionados que colocam nos locais de discussão taurina a existencia de tal praça. Os mais eruditos da causa sabem da sua existencia, conhecem a sua história, veneram até a ser a mais antiga mas ... quando o Moço Forcado torce o rabo ao Toiro é que são o delas.
    Não há figuras de primeiro plano, não há divulgação televisiva ou fotojornalistica, até o homologo "Farpas" (este taurino) não se refere a Abiul como ponto de encontro de "afficion".
    Putativamente, quiçá com esta candidatura poderá ser alterado o paradigma desta manutenção obscura de Abiul na Festa Brava. Pode ser que sim. Contudo há certamente muito trabalho a ser efectuado e não será certamente com quem está à frente desta candidatura politico/cultural e do pelouro responsavel por tal que se lá irá.
    Dá protagonismo isso dá, dá "glamour" dá sim senhor, até dá para conhecer a forcadagem tão robusta e ousada (por vezes até demais) mas só isso não chega. Fotos de ocasião para jornal ver, reportagem de "Arte Taurina", certamente podem dar aquele clik mas depois...
    E depois , digo teu, NADA.
    Foi mais um fogacho que se acendeu, deu a sua luz ar de sua graça e todos se esquecem de apanhar a cana que o suportou.
    tenho mesmo pena.
    Quanto à tradição, Adérito, há em Pombal/Abiul quem melhor que eu te possa explicar esse conceito local, são forcados amadores, são cavaleiros com raizes pombalenses, enfim gente da Festa e para a Festa. Eu fico-me com a vontade de ver o que isto dá.
    Agora, bem vistas as coisas, desapaixonadamente é dificil para não dizer mesmo complicado obter a "certificação" que em outras áreas já se obteve no nosso concelho. É preciso mais qualquer coisita...

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  6. Desculpem lá, mas como é que podem dizer que Pombal é uma terra de aficcionados e de touradas, se são só realizadas três touradas por ano?
    Mas pronto, até me podem convencer que os aficcionados contentam-se com pouco.

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  7. Da mesma forma que é uma terra de castanhas e água-pé quando se realiza UMA festa por... ano.
    Ou ainda que é terra do Marquês quando a única celebração é-o feito num restaurante com esse designio no nome... ou ainda que é uma terra templária quando se nem o seu fundador perpetua.
    Não vá por aí "Rafeiro no Pombal", pois se calhar até o nome da terra já nem faz jus ao animal que lhe deu nome...

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  8. Pois, Carolino. Mas por isso mesmo ninguém pensou em atribuir o título de Património Cultural do Município à nossa cultura templária, ao Bodo das Castanhas em Vermoil ou à nossa forte ligação à figura do Marquês de Pombal. Isso seria tão ridículo como esta decisão das touradas.

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