Os resultados comprovam-no: duplicação
do número médio de visitas e elevação da linguagem. A explicação por quem estuda estas coisas.
"Depois do abuso, o fim dos comentários online
A nova liberdade oferecida aos leitores por websites e
imprensa online nas secções de comentários está a ser abusada por pessoas não
identificadas. Não contribuem para mais conhecimento nem valorizam o debate
democrático.
Estudos académicos sobre imprensa online nos EUA revelaram
que, quando os leitores são expostos a comentários incivilizados e negativos no
fim dos artigos, a tendência é para terem menos confiança na peça jornalística
que lhes deu origem. The Atlantic, uma revista, descobriu que os comentários
negativos conduziam os leitores a ter menor consideração pela notícia.
A codificação da liberdade de expressão tem pouco mais de
300 anos. Em 1689, a Declaração de Direitos aprovada pelo Parlamento inglês
estabeleceu que a liberdade de expressão não pode ser impedida. Precisamente
cem anos depois, é publicada em França a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão. Declara a liberdade de comunicação como a primeira das liberdades.
Nesse ano de 1789 entra também em vigor a Constituição dos EUA, que estabelece
no ‘First Amendment’ que o Congresso não pode aprovar leis que restrinjam a
liberdade de expressão.
Em 1948 é adotada em Paris, pela ONU, a Declaração Universal
dos Direitos Humanos. Consagra o direito individual à liberdade de opinião e de
expressão. Em 1950, é iniciada em Roma pelo Conselho da Europa a ratificação da
Convenção Europeia dos Direitos do Humanos que estabelece aquele direito. Em
1976, a Constituição Portuguesa postula, logo no Art. 2º, o direito e liberdade
ao pluralismo de expressão. Este conjunto de diplomas revela bem o valor
primordial da liberdade de expressão. É preciso cuidar dela.
A Internet veio ampliar os meios disponíveis à liberdade de
expressão. Facilitou e multiplicou o alcance da opinião expressa através da
propagação em cascata (‘retweet’, ‘forward’, gosto). Esta bênção oferecida à
cidadania é por muitos utilizada a favor do bem comum. Fadi Chehadé, CEO da
ICANN, a corporação responsável pela estabilidade da Internet, considera que
esta é “uma plataforma para a solidariedade”. Mas é também um instrumento para
a prática do crime (‘cyber bullying’, fraude, terrorismo, tráfico ilegal de
medicamentos e armas, etc.).
A liberdade de expressão é regulada em todas as democracias
por dispositivos legais que lhe impõem limites, em particular quando entra em
conflito com os valores e direitos de outros como, por exemplo, quando é
utilizada para insultar, difamar ou exaltar o ódio. Mas é preciso conhecer quem
prevarica para poder acionar a lei.
Esta nova liberdade oferecida aos leitores por websites e
imprensa online nas secções de comentários está a ser abusada por pessoas não
identificadas. Tem sido utilizada para insultar, difamar, destilar ódios. É
raro encontrar-se um debate sério e construtivo. E, aparentemente, são sempre
os mesmos autores, alguns deles utilizando vários pseudónimos, que em palavras
apressadas e quantas vezes vulgares, promovem ignorância e ideias negativas.
Não contribuem para mais conhecimento nem valorizam o debate democrático. Um
mundo de diferença civilizacional em relação aos comentários de um jornal como
o Financial Times.
A vulgaridade é universal. Muitos jornais americanos
aboliram as secções de comentário, apesar de estarem legalmente imunes quanto à
responsabilidade por esses conteúdos. Em 2013, a Popular Science desligou os
comentários. Em 2014, Recode, Mic, the Week, Reuters, Bloomberg, the Daily
Beast também. Dos 137 maiores jornais americanos, mais de 49% não permitem
comentários anónimos e pelo menos 9% não têm essa possibilidade. Depois do
National Journal ter eliminado a secção, o tráfego online aumentou.
O mais recente abolicionista foi Above the Law, um website
especializado em direito. O que tinha começado por ser um sítio de comentário
substantivo, transformou-se num meio de propalação de ofensas. Quando antes
havia informação sobre sociedades de advogados e piadas, conhecimento relevante
e civismo básico, passou a haver commentariat – abusos e insultos.
Uma alternativa à abolição é a (re)introdução de moderação
por jornalistas que aprovam comentários dignos de ser publicados. Mas é mais um
custo. Diz Above the Law que, num ambiente mediático cada vez mais competitivo,
os websites não podem permitir que os seus conteúdos e marcas sejam manchados
deste modo. Alguns dos commentariats de Above the Law transferiram a sua bílis
para o Facebook. A liberdade de ser vulgar encontrou um ‘escape’".
Nuno Cintra Torres, Investigador e Professor Universitário
que grande chatice, pá! eu ao menos assino sempre os meus...um grande abraço para vocês
ResponderEliminarInfelizmente isso não impede que sejam mais educados (vide facebook Farpas)
ResponderEliminar"Alguns dos commentariats de Above the Law transferiram a sua bílis para o Facebook. A liberdade de ser vulgar encontrou um ‘escape’". Este final sintetiza muito bem o que se passa, Malho. E a prova está à vista. Depois da moderação de comentários, duplicaram visitas e visualizações no Farpas. Quanto às dúvidas, são esclarecidas de forma explícita quando aparece a caixa de comentários: "Se o comentário não abordar a temática do post ou o fizer de forma injuriosa ou difamatória não será publicado. Neste caso, aconselha-mo-lo a corrigir o conteúdo ou a linguagem".
ResponderEliminarTemos que conviver com isto, Paula. Certos de que existirão sempre pessoas que não percebem e outras que não querem perceber. As que não percebem merecem uma certa paciência e alguma atenção; as que não querem perceber são um caso perdido (para isto) e não merecem que se perca tempo com elas. O filtro é (só) para as que não querem perceber… Para as outras é um alívio.
ResponderEliminarO Eng. Marques tem de parar com a "Birrinha" dele, pois já não tem idade para isso, e começar novamente a farpar...que isto de mandar por mail é injusto, riem-se os da casa e os seus convidados... e o povo pá... o povo não tem direito a se divertir ?
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