31 de julho de 2018

Onde se narra a mui digna sessão de abertura do bodo


A sessão de abertura das Festas do Bodo teve muita solenidade e classe, com uma falha ou outra que não comprometeram a grandiosidade do momento. Os serviços já tinham estado muito bem no lançamento da primeira pedra do lar para os confrades - com o estear das bandeiras; recepção das autoridades eclesiásticas e políticas; banda filarmónica; cerimonial e discursos eloquentes -, mas a sessão de abertura das Festas do Bodo superou em muito o ensaio geral.
O Príncipe esteve portentoso: sereno, douto e gracioso – liberto de qualquer ódio baixo ou mal nascido, distribuindo graças e venturas por todos os presentes e alguns ausentes – clérigos, governantes, políticos, confrades, beneméritos e avarentos, vivos e falecidos, etc. Na oratória esteve sublime: registo bilingue; sermão em tom evangélico, inspirado com certeza na epístola de S. Paulo ao Coríntios, cheio de reminiscências bíblicas entrelaçadas com laivos profanos; palavras e frases bem escolhidas que tocam sempre as almas mais sensíveis.
O Pança esteve bem, também; mas com algumas falhas no protocolo. A maior – indesculpável – foi ter atirado Sua Excelência Reverendíssimo Bispo para a plateia quando deveria encimar a cerimónia, como é do protocolo nos reinos confessionais - como o nosso. Não menos desculpável foi ter atirado, igualmente, o nosso deputado para a plateia – parece que neste reino já não venera as altas figuras da República. Por outro lado, esteve bem o Pança ao puxar o sr. comendador para cima – e viu-se bem o quanto ficou feliz com a distinção. Mas o que não ficou nada bem ao Pança foi andar a distribuir copos de água durante a sessão. Um escudeiro-mor, que já é governador de um condado, e a quem o Farpas augura promissora carreira política, não pode ser pau-para-toda-a-obra. Bem sabemos que lhe falta gente; culpa sua: se não tivesse infernizado a vida à noviça de Alitém, ao ponto de lhe ter posto a cabeça-em-água, tinha uma prestimosa ajuda para estas situações mais exigentes.
Para finalizar uma referência – merecida - à Marquesa Prada: esteve portentosa, com muita “finesse” e deslumbrante (em contraste total como o tom mate geral).
                                                                                Miguel Saavedra (cronista do reino)

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