24 de julho de 2018

Ti Milha: O povo que ainda canta


Na minha juventude a Ilha ocupava uma nota de rodapé na (nossa) agenda festiva. Os bailes no salão da Igreja não eram os mais badalados da região, aquele era um momento em que se vivia uma espécie de intervalo na riqueza cultural daquela terra. Só o percebi quando comecei a trabalhar, nas reportagens (para o Correio de Pombal) que me contaram tudo sobre as origens daquele povo. Para isso muito contribuiu um homem extraordinário (Manuel Marques), que já cá não está, e guardava um espólio rico e vasto de tudo e mais alguma coisa. Era entendido em partilhas e tinha aquele dom de descobrir a riqueza da água debaixo da terra, com uma verga. Num desses verões, em 1993, quando o jornal começou a fazer cadernos especiais dedicados a cada uma das 17 freguesias, percebemos que a Ilha batia o record de colectividades, apesar de tão pequena. Era daí que eu me lembrava da ARCUPS. O que nesse tempo não podíamos imaginar era que um dia haveríamos de assistir a um festival como o Ti Milha (o David Gomes explicou-me aqui a origem do nome), onde cabem os bons sons e as músicas do mundo. 
Fui lá, finalmente, nesta terceira edição. O que ali aconteceu deve orgulhar-nos a todos, em sinal de gratidão para com aqueles rapazes e raparigas que levam os pais e os avós ao parque de merendas da Ilha, e que têm a capacidade de atrair (cada vez mais) forasteiros, graças a um cartaz muito bem feito, a pensar em todos. A valorizar aquilo que em muitas outras terras foi engavetado. 
O que aconteceu na Ilha este fim-de-semana foi um verdadeiro hino ao colectivo. O Ti Milha é um oásis no deserto. Faz-nos acreditar que a desertificação não leva sempre a melhor, que é possível preservar as raízes, o amor à terra, e voar ao mesmo tempo. Rapazes e raparigas da ARCUPS: you are the world!

ps1: Há muitas fotos aqui. Quem não foi, roa-se de inveja, como diz o (Wilson) Capitão.
ps2: Uma vénia ao Vítor Couto (o Vítor Caseiro) que há três anos teve esta magnífica ideia.

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