19 de agosto de 2010

Estamos, estamos

Eu já não sei se estamos mal ou bem. Estamos em férias. Em festas. Anestesiados. Desfalcados da realidade e profundamente cansados de ver como o poder é exercido. Admita-se, a legitimidade eleitoral não é um fim em si própria, é um meio. E também não é uma causa de exclusão de responsabilidade para o que se passa. Querer dizer que de 1993 até hoje não se fez nada é nada. Querer dizer que se fez tudo bem é idiota. Querer dizer que se fez tudo mal, idem. O problema é como se fez e, sobretudo, a herança que fica para quem aí vem. E não falo a quem sobreviver à sucessão do actual Presidente. Falo da herança de todos: de um concelho que, quando comparado é com piores, que muitas vezes continua a construir obra pública sem critério, obedecendo à lógica da placa primeiro, ocupação depois. Falo da rede de dependências que muitas vezes impede que as pessoas exerçam os seus direitos. Falo da degradação da actividade pública refém de actores de segunda linha que apenas são escolhidos pela incapacidade de dizer "não" ao chefe. E podia falar no sistemático desrespeito pelas mais elementares regras de urbanidade quando se insulta, achincalha ou se tenta humilhar quem tem opinião contrária. Enfim, traços de uma época inequivocamente ligados a uma pessoa que não percebe que a da divergência também nasce a força, que várias perspectivas são melhor que uma e que a amizade nunca se pode sobrepor à competência. E sim, uma AM para discutir a questão da saúde ou do urbanismo, posso conceber, mas não uma para fiscalizar a actuação/gestão administrativa do município?

Mas fazer futurologia em Pombal, em 2010, é uma ciência arriscada. Faltam pessoas e as poucas disponíveis têm outras indisponibilidades (desde pessoais a profissionais) e muitas há que fazem das tripas coração para dar algo de si que outros desdenham de imediato, apenas porque optam em nada saber. E para mais Pombal continua com o seu potencial, muito dele desaproveitado, sem se apostar em ideias como um Parque Verde a sério (veja-se a adesão ao Jardim do Vale - obra que continua a merecer, no seu todo, uns ajustes para a perfeição), sem regular a entrada do Alto do Cabaço, sem potenciar o seu património turístico (perguntem a quem recebe estrangeiros cá pela centralidade de Pombal). Teremos um CIMU Sicó? Ainda bem que assim é. Teremos a Aldeia do Vale recuperada? Aposta interessante. Mas o Vale do Anços continua sem ser potenciado. Continuamos a ter tanta Associação que não pára de trabalhar (por falar nisso, como ficaram os subsídios?) apenas para devolver algo à comunidade. Mas continuamos sem conseguir captar investimento que não se baseie em ordenados mínimos e em mão-de-obra intensiva. Não conseguimos ser um pólo de empreendedorismo, apesar de alguns excelentes exemplos que por aí andam.

A questão, quando se trata de balanços (ainda que provisórios) é perceber onde se estava e onde nos vamos encontrar no fim de um dado período. Antecipando o fim, e o claro ambiente de desprezo por quem não pensa (ou prefere não pensar) pela mesma bitola (curiosamente uma crítica que muito PSD fará, a nível nacional, ao PS), para qualquer pombalense que está disposto a dar algo de si pela terra onde nasceu, cresceu ou está envolvido em alguma coisa, é analisar o que foi feito e o que queremos. Eu queria, por exemplo, uma entrada de jeito na IC2, um Parque Verde, um Hospital imune a questões políticas, órgãos políticos que fizessem aquilo para o que são eleitos, uma política cultural (admitindo que existe já uma agenda de eventos culturais), a concessão total a privados de espaços que manifestamente não devem ser geridos pelo público, um município que usasse as suas próprias regras para gerar receitas da exploração dos seus recursos, etc. Mas queria, sobretudo, um sítio onde nem tudo fosse normal na sua anormalidade, onde apesar das diferenças, as eleições servissem de avaliação final, mas entre elas houvesse a capacidade, dos próprios eleitos, de perceber que servem a população e não o contrário. Sem insultos e revanchismos. E sem cortinas de fumo. Tipo uma coisa de Verdade, como Pombal de Verdade, percebem?

5 comentários:

  1. Caro Alvim. Temos todos que esperar sentados por esse Pombal de Verdade. Cada vez mais é um Pombal onde a arrogancia de uns contrasta com o medo dos outros. O polvo estica os seus tentaculos e adormeçe o Zé Povinho, que na hora de ir votar, vai tipo "ganzado" e esquece-se de desfalques, contas do bodo, obras sem utilização, má utilização de fundos públicos. Santa Terrinha

    ResponderEliminar
  2. Pombal tem potencialidades excepcionais. E obra tem sido feita, é verdade. Podia ser feita "de outra maneira"? Seguramente. E melhor. Acontece que isso deveria ser uma preocupação mais geral do que é.
    Atrás discutiu-se as virtudes e defeitos do regime salazarista que tivemos durante mais de 40 anos em Portugal. Uma das mais pesadas heranças que nos ficou, foi precisamente a pouca exigência, a falta de "brilho" a que nos vamos acomodando. No fundo, todos (enquanto povo) aspiramos apenas ao "remediado".
    A critica é (se levada a sério por todos os envolvidos) uma ferramenta útil para um mais profícuo caminho para a excelência. Nunca lá chegaremos, mas (que raio!), não nos deixemos ficar para trás, nessa luta.

    ResponderEliminar
  3. João, os meus sinceros parabéns pela lucidez transversal com que se pode ler o teu "post".
    A realidade é aquela que vivemos, aquela que se vai construindo dia-a-dia e que por ser verdade lesa o pensamento e inibe a acção de todo e qualquer que queira fazer diferente.
    Só assim se justifica que exista o despersar de cada vez mais de "soldados" e o aumentar dos "generais", no que é o real espectro politico pombalense.
    Só que depois é necessário entender quem tem a dignidade e o rasgo de procurar outros rumos, seja no PS (o teu caso) ou o de outros não tão radicais no PSD (Ofélia Moleiro, José Gomes Fernandes, entre outros). Mas o que há na realidade é a permanente e acutilante quiça como se afirma em outros comentários, mal educada, de alguém que procura a todo o custo deixar marca num concelho que cada vez mais o "encaixilha" no pior do que já se fez desde o 25 de Abril de 1974 em Pombal.
    A ser assim é só procurar ciclicamente os "balauzes" de cada mandato do sr. eng, canudo!!!...
    É que deste mais recentes todos se lembram mas e no passado??? Já agora e termino, obra, obra para o futuro fica o quê???
    Deixo como "trabalho de casa" para quem quiser fazer, a pesquisa e já agora publicar em boletim que seja o normal veiculo de tal, das obras de referência desde 1993. Placas? Bem essas são aproximadamente 12 por ano logo...
    12x16=192 será? É contar por esse concelho a fora.

    ResponderEliminar
  4. Olá
    Crítica séria será sempre um bom contributo à sociedade e uma arma do povo.
    Estamos seguros que por vontade do SR. De Narciso o lápis azul já tinha funcionado relativamente a este blog.

    ResponderEliminar
  5. Todos os que antecedem compreendem bem a lógica da crítica que se pretende fazer e dos caminhos para discutir (não para impor), já que um espaço como este serve exactamente para apontar, discutir, sugerir. Lamentavelmente há quem teime em perceber tudo ao contrário e a, continuamente, insultar da forma mais soez e baixa. São pessoas que não percebem que não se trata de questões pessoais, mas de questões estruturais e que, como uma vez a ex-deputada Ofélia Moleiro disse numa entrevista, de forma irrepreensivelmente lúcida, não se pode continuar com esta forma de fazer política.

    A legitimidade eleitoral nunca é colocada em causa, outro facto que o poder não percebe (aliás, seria interessante saber se as apreciações sobre os blogs também se aplicam também aos casos em que os bloggers sendo do PSD criticam - ou fazem pior - ao Governo ou a autarquias de outras cores, mas enfim...). Isso é o que nos deveria mover, e nos move, mesmo quando não vivemos da Política.

    ResponderEliminar

O comentário que vai submeter será moderado (rejeitado ou aceite na integra), tão breve quanto possível, por um dos administradores.
Se o comentário não abordar a temática do post ou o fizer de forma injuriosa ou difamatória não será publicado. Neste caso, aconselhamo-lo a corrigir o conteúdo ou a linguagem.
Bons comentários.