Antes da campanha, escrevi que conhecia pessoal mais novo nas listas que seria capaz da regeneração na vida política dos partidos. Hoje, no encerramento, continuo a conhecer. O número é que reduziu. E convencer-me-ia, se precisasse de algum motivo, a não votar no PSD: é tanta alternativa como eu sou esquimó. É pura alternância de poder. E a palavra-chave aqui é poder.
E vale tudo para o manter, inclusivé usar as Novas Oportunidades como bandeira local para a nível nacional se agir ao contrário. Ou defender que uma autarquia deve ser empregadora de referência para nacionalmente defender um programa dito liberal. Ou criticar a claustrofobia dentro do PS (crítica que subscrevo, atenção) mas depois ser-se incapaz de criticar seja que opção do poder autárquico. A responsabilidade e a capacidade mede-se a dois níveis. Não é só por não acreditar que PPC faça melhor, mas por perceber que este PSD é apenas o reverso de uma medalha que é responsável por 37 anos de oportunidades perdidas. E por isso é que defendo, e depois desta campanha, cada vez mais, independentes no poder local e partidos (sem prejuízo de movimentos independentes a nível nacional). É que pelo menos há clarificação e talvez menos clubite. A tal que, seja no PS ou no PSD, ajudou a degradar a política, colocando-a ao nível de combate de claques.
Declaração de interesse: Fui militante da JS entre 1991 e 2006. Fui militante do PS entre 2002 e 2009. Fui candidato pelo PS à Assembleia de Freguesia de Pombal, onde exerço (e exercerei) o mandato para o qual fui eleito,mas agora como independente. Não concebo que a minha filiação anterior me seja apontada como uma "capitis diminutio". Sempre pensei pela minha cabeça e mesmo enquanto militante quando não concordei com algo ou me afastei ou disse-o. Cometi erros como qualquer pessoa que anda na política comete. Terei feito más escolhas, seguramente. Não estou acima de ninguém, nomeadamente de quem está na vida partidária. Mas posso constatar aquilo que acho menos próprio e correcto. E como tal, votar PSD é uma opção completamente fora do baralho para mim. Porque a mudança se baseia em atitudes diferentes das que são habituais. Da mesma maneira, votar PS está fora de questão. Sócrates foi uma das razões para a minha desfiliação. Eu sei que voto em partidos, não num líder, mas para mim quem fez o que fez e como fez não merece a minha confiança.
Para o que está em jogo no dia 5 de Junho exigia-se uma discussão sobre o futuro. Discussão séria sobre a capacidade e sobretudo sobre a responsabilidade de deixarmos de gastar o que não temos e como, de forma realista, podemos aumentar a nossa produtividade. Nada disso foi feito. Da Esquerda à Direita (com algumas pontuais excepções). Desde um discurso alienado das responsabilidades com o habitual chavão da banca (alguém se queixou do crédito tão fácil?) a uma direita que se queria à força toda ser mais social que alguns partidos de esquerda. Se nenhum partido me chega, porque não me mando eu para tentar essa mudança? E quem diz que não o farei? Não faltava mais nada do que ser compelido a um voto num partido quando não há nenhum, sublinho o nenhum, que conseguisse mais do que ser ligeiramente menos mau que outro(s). E foi o "menos mau" que também colocou a Democracia de cócoras. Espero que muitos votem e ao contrário das Presidenciais, não apelo ao voto em branco: cada um sabe de si e saberá fazer a melhor escolha. A minha escolha é dizer que o que há não me chega. Não respondem ao que me preocupa. Ao ter um futuro para mim, e mais importante, para a minha filha.
Não num país onde se passa a vida a pedir ao Estado para depois se reclamar do mesmo Estado, onde a convivência com o poder é baseada em interesses e subserviência e onde o mérito é treta. Onde se acha normal ter-se um emprego para todo o sempre, mal se sai da universidade e onde empregabilidade e responsabilidade são palavras conotadas com "bota-abaixismo". Não vi, em toda a campanha, ideias - pelo menos das cúpulas - para gastar menos (e não me venham com os menos deputados e ministros que isso é apenas simbólico, no dia em que for) no Estado, evitando duplicação de serviços e fazendo a reorganização administrativa com propostas concretas, uma estratégia clara para o Turismo - como, em que áreas, com que papel do Estado, ou uma estratégia para mudar o paradigma da Formação apostando na reconversão profissional, uma ideia para aferir a empregabilidade dos cursos ou uma proposta clara para a Justiça (como se tornam eficazes as cobranças, por exemplo) ou ainda para as empresas (não carregando tanto sobre empresários, mas penalizando os patrões), colocando o Estado como mero regulador (e interveniente em algumas áreas). Mas seria suposto ver, já que o programa é o da Troika? Claro que deveria. Afinal é o nosso futuro. E o programa indica caminhos, não impõe, em muitos casos, medidas concretas.
Voluntariamente afastei-me de um partido, também por questões ideológicas, mas isso não quer dizer que fique a dar a táctica nas bancadas para sempre. Mas se ficasse, era um direito meu. Em altura de dificuldades, os líderes transcendem-se. Não se transcenderam. E sobretudo não vejo sinal daqueles que querem mudar as coisas serem capazes, de quase sozinhos, o conseguirem fazer. Dia 5 de Junho não é apenas acerca dos partidos, é acerca de todos. Já não há muitas desculpas agora. E depois não haverá. Não defendo a adesão em massa aos partidos, mas desafio todos aqueles que pensam que podem ajudar a fazê-lo. Aos grandes e pequenos partidos. Aos que já são partidos e aos que ainda não são. A escolha é grande.
Dia 5 de Junho não vou escolher nenhum: não me merecem a confiança (a única pessoa que me merece a inteira confiança, infelizmente, está longe de ser eleita - mais um exemplo da forma como os aparelhos vivem desfasados), mas vou votar. Disso não abdico. Votarei é em branco.
Depois de 5 de Junho, o cenário é outro. Não serei eu um salvador, muito pelo contrário, mas se depois desse dia muitos estiverem dispostos a dar um passo em frente de modo a mudar o sistema, ajudando aqueles que lá dentro merecem o reconhecimento, deixará de haver desculpas para que no cenário complicado que é o nosso futuro, haja capacidade para construir verdadeiras alternativas.
Depois de 5 de Junho, o cenário é outro. Não serei eu um salvador, muito pelo contrário, mas se depois desse dia muitos estiverem dispostos a dar um passo em frente de modo a mudar o sistema, ajudando aqueles que lá dentro merecem o reconhecimento, deixará de haver desculpas para que no cenário complicado que é o nosso futuro, haja capacidade para construir verdadeiras alternativas.
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