10 de maio de 2016

A ilusão de Ícaro (e de D. Diogo)

A divulgação, pelo Farpas, da (re)candidatura de Narciso Mota à CMP, e a imediata confirmação pelo próprio, desencadeou um terramoto político em Pombal (e não só).
Admitindo, como plausível, que Narciso Mota sempre teve o desejo de regressar aonde foi feliz, o que o conduziu à concretização do desejo foi a imprudência do príncipe: cometeu muitos erros, gerou muito odioso, a maior parte das vezes sem necessidade, o que criou as condições para o regresso. Bem pode o príncipe arguir traição política, fazer-se de vítima e apontar cúmplices - é uma propensão natural atribuir infortúnio à malignidade de alguém – mas foi da sua arrogância que o conduziu ao infortúnio. Se o príncipe conhecesse (e tivesse interiorizado) a lenda da ilusão de Ícaro ou se prestasse atenção ao Farpas, tinha evitado muito desgosto e a queda em desgraça. Bem sabemos que é pedir muito: o príncipe é incapaz de corrigir a sua natureza e jamais leria o Farpas. Erro seu e virtude de seu pai (político) - Narciso Mota – que não o sabia ler, mas lia-o, religiosamente.
O príncipe deslumbrou-se com o poder “absoluto”, cometeu a ilusão de Ícaro. Diz a lenda que Ícaro morreu no Mar Egeu (ou Mar Icário) vítima de sua arrogância. Seu pai, Dédalo, era um exímio artesão. Condenado por sabotar a obra do rei Minos (que capturou o Minotauro), Dédalo criou uma incrível trama para escapar da prisão: criou um par de asas para ele e seu filho. Depois de fixar as asas com cera, prepararam-se para fugir. Dédalo alertou Ícaro para não voar muito perto do sol. Mas, encantado com sua capacidade mágica de voar, Ícaro desobedeceu ao pai e voou alto demais. Todos sabemos o que aconteceu: a cera derreteu e Ícaro, o filho adorado, perdeu suas asas, caiu no mar e morreu.

O príncipe ainda não morreu, mas caminha a passos largos para tal desgraça. Que se tenha deslumbrado com a herança de um reino rico e obediente, percebe-se. Mas já não se percebe a forma como tem reagido ao assalto do pai: as precipitações, os tiros nos pés – tudo feito ao contrário. Quando a fragilidade da compreensão e a perversidade de vontade colaboram mutuamente, o caminho para o desastre fica traçado. Ou será que o príncipe já deu o trono como perdido?

7 comentários:

  1. Não estarás a valorizar em demasia o poder de influência do NM? Parabéns pelo texto . Gostei do estilo .

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    1. Acho que não. Valorizo muito a influência do Diogo, justamente, penso.
      Obrigado.

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  2. Os Senhores estão a reduzir a luta a dois... mas 2017 vai ser uma luta no mínimo a 3. ou será que estão a pensar que desta vez é novamente o Primeiro Ministro a convidar o Eng. Narciso Mota a Candidatar-se pela nova coloração ??? Este mundo dá voltas que ninguém imagina. Mas é claro que Narciso parte na pole position e só não arranca se o Pedro lhe gripar o motor

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    1. Sobre isso escreverei entretanto. Sobre o seu novo assessor e a carta da JSD, que é uma declaração de interesses ;)

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  3. Gostei da sua analogia à mitologia grega caro Adelino :-), porém creio que isto seja mais digno de uma série de intriga politica, onde o lado podre da politica vem à superfície.

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