Estou surpreendido com esta
dupla maravilha, a qual preside aos destinos da Associação Humanitária dos Bombeiros
Voluntários de Pombal. E logo eu, que sou cada vez mais difícil de
surpreender...
Mas vamos aos factos.
Primeiro fui surpreendido pelo presidente da direcção da AHBVP, que não aceitou
debater uma questão do domínio público, devidamente balizada. O que me surpreendeu
mais não foi sequer a recusa no debate, mas sim a reacção do mesmo, quando Sérgio
Gomes escreveu o poema épico: “Se tens
algum problema pessoal comigo vens até Pombal que nós resolvemos isso, ok?”
Lembrei-me logo dos Village People e do épico Macho Man, de 1978. Estou mesmo a
ficar velho, pois já não tenho aquela reacção a quente que tinha mais novo. A
experiência de vida ensinou-me a não ligar demasiado a patetices e a
divertir-me com elas.
Descendo na hierarquia, passo
então ao vice-presidente da AHBVP, Diogo Mateus, que há 2 ou 3 anos vi a
“passear” num Veículo Florestal de Combate a Incêndios, em Pombal, como que se
um VFCI servisse para transportar autarcas num incêndio (a não ser que todos os
carros da câmara estivessem avariados). Diria apenas que é coisa de colarinho
branco.
Há poucos dias li, no Diário de Leiria, que
Diogo Mateus sugeriu uma daquelas ideias peregrinas, ou seja a instituição da
carreira de bombeiro florestal, sublinhando depois que isso aumentaria
seguramente o número de voluntários. Ora, enquanto geógrafo físico e tendo eu
18 anos de actividade bombeirística, fiquei perplexo com aquela afirmação, já
que demonstra grande desconhecimento de causa e mostra que ano de eleições é
mesmo um ano pródigo em ideias peregrinas.
Com que base pode afirmar que
aumentaria seguramente o número de voluntários? Menos populismo por favor! Quer
mesmo aumentar o número de voluntários? “Simples”, dê, enquanto presidente da
câmara, mais benefícios aos bombeiros voluntários, directos e indirectos, pois
é por aí que vai conseguir não só manter os que ainda vão tendo o espírito para
aguentar a difícil vida de bombeiro voluntário, bem como motivar aqueles que
pensam vir a ser bombeiros voluntários. Baixa de IMI, descontos na água,
actividades lúdicas e apoios aos filhos em idade escolar, é por aí que algumas
corporações estão a apostar (muito poucas ainda...). E mesmo assim isso não é
suficiente, pois nada paga uns dias ou umas noites em branco a arriscar a vida
e a dar o melhor de nós. Nada substitui deixar os que gostamos em casa e ir
para cenários de terror, seja incêndios ou acidentes muito graves. Já pensou
por exemplo em dar um subsídio extra aos ECINs´? Sabe que há aqueles grupos de
5 elementos que, no Verão, fazem de “bombeiros florestais”, certo? Além dos
míseros 1,87 euros à hora que os elementos destes grupos recebem, que tal
aumentar mais 2 ou 3 euros, de forma a ser um valor minimamente aceitável/digno?
Refeições gratuitas aos grupos de ECIN´s é outro exemplo. Para que quer os
bombeiros florestais? As corporações já têm os ditos bombeiros florestais, que
já fazem esse serviço na época de Verão, uns melhor capacitados do que
outros é certo. Quanto às capacidades
técnicas e profissionais, sabe ao menos que actualmente as corporações já têm
muitas pessoas preparadas, desde jovens com cursos profissionais específicos,
jovens licenciados, alguns mestres e raros doutorados, que apesar de terem competências
técnicas e científicas em várias áreas afectas às áreas de acção dos bombeiros,
não são reconhecidos nos próprios corpos de bombeiros? Sim, é uma realidade que
raras vezes se fala, uma tema tabu, talvez porque alguns elementos dos quadros
de comando e chefias vêm estes elementos como “ameaças” ao status quo. Como vê,
e mais uma vez, não está devidamente informado sobre as várias realidades que
ocorrem nos vários quadros de bombeiros voluntários. Diria apenas que este é um
discurso tanto pleno de desconhecimento como de demagogia. Já oiço ideias
peregrinas desde o início da década de 90, quando ingressei pela primeira vez
num corpo de bombeiros, mas confesso que ainda me conseguem surpreender com
algumas ideias peregrinas, tipo copy
paste, pensadas eventualmente aquando de uma visita a um país estrangeiro,
mas não devidamente transpostas e de acordo com as especificidades históricas,
culturais e outras mais do país e da região de Sicó. É por essas e por outras
que andamos a brincar aos incêndios há 40 anos, sem que se vá ao cerne da
questão. O importante, para alguns, são as ideias peregrinas, que possibilitam destaque
nas notícias em ano de eleições. Mera curiosidade portanto. Admito, contudo,
que, por vezes quem tem ideias peregrinas não se aperceba do disparate que elas
representam, daí a importância da blogosfera, que ajuda a esclarecer estas
coisas.
É bom e de salutar que surjam
ideias, contudo dispenso as ideias peregrinas. Em vez de se andar com a mania
de inventar a roda, melhore-se o que de bom já temos, já que a base existe e
recomenda-se.
João Forte (Geógrafo Físico/bombeiro voluntário)
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