6 de junho de 2017

Um banho de realidade

A conferência organizada pela JSD, subordinada ao tema “Desenvolvimento Económico”, teve o mérito de confrontar os participantes com a realidade local: um concelho a definhar - sem capacidade de atrair investimento, criar emprego de qualidade e fixar pessoas - e um poder autárquico insensível ao problema.
O ilustre pombalense Jorge Martins – CEO Capgemini Portugal – começou por apontar o “problema demográfico”, provocado pela “diminuição do número de habitantes” (e nascimentos) e o consequente “envelhecimento da população”, para depois dizer que o “indicador mais preocupante é a descida significativa do número de jovens a estudar em Pombal, o que … significa que vamos ter problemas a prazo de capacidade de emprego para as empresas”. Feito o diagnóstico, Jorge Martins defendeu que “no curto prazo este problema só se resolve com a captação de investimento e mão-de-obra estrangeira”. E acrescentou: “o que nós precisamos nos próximos anos é trazer uma mentalidade nos nossos autarcas que têm que andar com a mala-na-mão, …significa que têm que vender, têm que passar a vida dentro das empresas, têm que percorrer o país …, para perceberem o que é que têm que desenvolver dentro dos seus municípios; têm que funcionar como umas verdadeiras agências de investimento, têm que ser uma espécie de director comercial”. E referiu o caso de Paredes de Coura: “tem um presidente que é conhecido por todo o país por ser um vendedor, …mas a verdade, de facto, é que um conjunto de empresas têm aparecido em Pareces de Coura, e seguramente não é uma câmara que tem um conjunto de vantagens que nós temos”.
Jorge Martins não disse nada novo - já por aqui tínhamos dito o mesmo -, mas foi importante tê-lo dito aos jotas laranja e ao presidente da câmara. O Desenvolvimento Económico não é uma área onde a câmara tenha uma responsabilidade directa; mas, no longo prazo, é sempre o resultado de inação política ou de políticas erradas. Por isso, o definhamento económico e social de Pombal é, em grande parte, da responsabilidade dos executivos que estiveram na câmara nos últimos vinte anos, porque nunca se preocuparam em promover e vender Pombal, em captar empresas e novos negócios. Preocuparam-se, sim, em manter-se no poder. Os presidentes que Pombal teve nos últimos vinte anos não saem com a mala a vender Pombal, no país e no estrangeiro; saem com uma mala mas é para distribuir subsídios por um associativismo falso e por comissões fabriqueiras. Opções políticas que dizem tudo sobre pessoas que as praticam: zelam bem pelos seus interesses pessoais – manutenção no poder à custa dos recursos de todos - e pouco pelo interesse comum – crescimento económico e do nível de vida das pessoas.
De seguida interveio o ilustre pombalense Manuel Sobreiro – fundador e administrador do grupo Derovo. Começou por referir que “o Parque Industrial M. Mota esgotou a sua capacidade, necessitando de ser alargado”. Acrescentou que se “deve ampliar o espaço industrial em duas vertentes muito importantes: a captação de novas empresas e novos negócios, mas por outro lado deve estar muito atenta às empresas actuais”, … porque “as suas necessidades de investimento podem ter necessidade de (implicar) deslocalização” por falta de espaço no parque. E exemplificou dizendo que “apesar de possuir uma das principais indústrias instaladas no Parque M. Mota, pelas razões já abordadas, pode ser uma das candidatas à deslocalização, a prazo”; e recordou que “em 2010 envolvi-me directamente na preferência por instalar um complexo agro-alimentar em Pombal e, depois de múltiplos contactos, não foi possível”.
Eis um testemunho cru, na primeira pessoa, de como a CMP tem funcionado de costas voltadas para o crescimento económico, nas últimas décadas. Nada de estrutural tem sido feito e muita coisa foi mal feita, por falta de visão e vocação. Como disse Jorge Martins falta-lhes mentalidade para captar investimento industrial – não tentam sequer. Nas últimas duas décadas, a câmara não captou nenhum investimento industrial de média dimensão (mais de 10 m€ de volume de negócios ou 100 trabalhadores) e nenhum se instalou no concelho. Caso único na região, o que demonstra a falta de atractividade do concelho. Por outro lado, cometeu o erro crasso de estragar o Parque Industrial M. Mota, ao alterar os estatutos, contra a exigência expressa do benemérito que doou os terrenos, permitindo a instalação de armazéns e comércio.

Os jotas laranja devem reflectir sobre isto. E os pombalenses também.

1 comentário:

  1. Pombal um concelho que antigamente era prospero, baseado nas Empresas de Construção civil, que faziam obras por todo o Pais eclipsou-se, pois as empresas faliram ou foram construir para França, Suiça, Bélgica... e levaram daqui também os seus trabalhadores profissionalizados. A Camara Municipal nunca se preocupou e angariar novas industrias para o Concelho e nem apostar num novo "cluster" económico para o Concelho...limitou-se ás comissões das Igrejas, á propaganda e agora mais recentemente está a desenvolver as INDUSTRIA DOS OUTDOORS GIGANTES.

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