19 de janeiro de 2020

A procissão do descamisado

O passeio domingueiro leva-me regularmente ao Cardal - passo por lá. Hoje, parei… A meia-dúzia de almas que por ali poisa regularmente apanhava sol e conversava por entre um escarro ou outro. Comércio aberto nem vê-lo – já nem o café Nicola aproveita a presença dos beatos. Decididamente, hóstia não combina com café. 

Intrigou-me a dúzia de músicos que por ali se agrupava; um deles – amigo – meteu conversa e aproveitei para lhe perguntar a que se devia a presença da filarmónica; disse-me que iam tocar na procissão do S.º Amaro. Naquele momento, terminou o meu passeio. O ritual medieval das procissões tem sempre as suas curiosidades…

Duas dezenas de curiosos foram-se chegando para apreciar a coisa; uma delas, já incomodada com o atraso, dizia para o companheiro: “Mas eles não são capazes de tirar o santo da igreja”. Pelo que se percebeu, depois, faltava gente para carregar os dois andores de bolos que deviam acompanhar o santo. O historiador bibliotecário - ali no papel de mordomo da festa - teve que vir recrutar voluntários-à-força entre os curiosos para acompanharem o Pedro naquela via-sacra.

Políticos e pessoas principais nem vê-las – dois ou três até apareceram na praça mas só para ver. D. Diogo e a primeira-dama, figuras mui devotas, nem vê-los. Do executivo só apareceu o beato das obras-tortas; os confrades, que dão sempre muita pompa à coisa, também não apareceram. O cura Vaz não rezou nem acompanhou; e a banda tocou uma marcha pro-fúnebre a condizer.
Estamos assim…E não saímos disto.

1 comentário:

  1. Novos tempos, novas vontades! É natural que aquelas festas mais tradicionais, com ênfase mais religiosa vá perdendo o fulgor de outros tempos, aliás ao mesmo ritmo do esvaziamento das igrejas, não só pela diminuição das gentes nas terras mas também pelos apelos de modernos interesses que noutros tempos não existiam.
    Assim, só comunidades muito bairristas como por exemplo na Ilha, conseguem manter e até criar novas festividades congregando sempre muitos executantes e povo, tudo num especial microclima social muito difícil de replicar noutras paragens.
    Não embandeirem já em arco os Ilhenses porque também não acho que sejam melhores do que os outros, acho simplesmente que têm particularidades que muito os evidenciam numa cola social que os envolve nestas manifestações coletivas.
    É de facto triste para os resistentes destas andanças tradicionais verificarem as cada vez mais fracas aderências e lá vão, ano após ano, perseverando até um dia.
    Talvez um "lifting" da liturgia do evento, talvez com uma introdução de novas atividades e forma de comemoração consiga renovar o interesse de mais gente, dando deste modo um novo fulgor ao evento e retribuindo maior satisfação aos responsáveis.

    Não sei se teve algum efeito ou não no desenrolar domingueiro da procissão onde a banda filarmónica tocou uma marcha "Pró-funebre" mas talvez até tenha sido em homenagem do saudoso e amigo Carlos Santos, Presidente de junta de Vermoíl, que de forma tão inesperada deixou, só com 56 anos, muito mais pobre o concelho de Pombal.

    Nestas ocasiões não há cores nem preferências, há apenas um de nós que se entregou à causa publica e nessas funções partiu deste mundo deixando um rasto de tristeza que teremos de interiorizar e ultrapassar.

    Para o Carlos Santos aqui deixo um publico agradecimento de mim e muitos outros pelo que em vida soube partilhar com toda a comunidade.

    Até sempre Carlos Santos!

    Sim, talvez a banda tocasse hoje, em Pombal, para ele!

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