1 de outubro de 2013

Sacralização dos independentes

O aparecimento de candidaturas independentes, especialmente ao nível das freguesias, teve como efeito o maior envolvimento das populações e, consequentemente, a redução da abstenção. Este facto, aliado à tradicional tendência de diabolizar os partidos políticos, criou a ideia de que a salvação da democracia está nas candidaturas independentes. Nada mais falso!

Como bem disse António Barreto, “se a política portuguesa estivesse entregue aos independentes no parlamento ou nas autarquias, Portugal era um caos absoluto". Segundo esse sociólogo, os partidos políticos "são factores de racionalidade e de sistematização das ideias e dos programas e isso são factores de estabilidade”. Isso não quer dizer que os partidos não se reinventem, não se tornem mais permeáveis aos sinais vindos da sociedade. Antes pelo contrário: ou os partidos repensam seriamente a sua praxis, eliminando dogmas e clientelismos, ou o sistema democrático será posto em causa.

Há muitas formas de integrar os cidadãos na vida política. Uma delas é através da possibilidade de candidaturas independentes. Mas, se olharmos para as candidaturas mais mediáticas surgidas nestas eleições, vemos que de independente têm muito pouco. Outra, talvez mais eficaz, poderia ser através da criação de orçamentos participativos ou de conselhos consultivos municipais.

Deixo um repto à nova Assembleia Municipal: criem condições para a existência de um orçamento participativo em Pombal e promovam todos os esforços no sentido de envolver uma grande percentagem da população na sua discussão.

12 comentários:

  1. Boa noite.
    Vindo de quem vem este comentário, só posso saudar as opções que ele oferece.
    De facto, existem todas (e outras) estas soluções, em foruns alternativos Democráticos, onde se podem colher frutos e assim ajudar os partidos a regressarem à sua génese. Porque o que os partidos realmente perdem, é naquilo que o Adérito Araújo escreveu.
    Se «abrissem» ou franqueassem mais a Democracia, fosse Local ou Nacional, o povo teria mais motivação em participar, em ajudar os partidos que demonstrassem abertura em serem ajudados. Ao fim de 4 anos, ver-se-ia quem mais deixou ser ajudado e assim o Povo também recompensaria esse partido.
    No fundo, seria fazer o contrário até aqui: os partidos têm tido uma postura do self-service - só querem o nosso voto, em proveito do interesse da máquina.
    Agora, discordo no ponto em que dizem que os independentes não conseguem tomar conta das rédeas do País: isso é chamar de incompetentes às pessoas que querem trabalhar e mostrar idéias, sem estarem agarradas a ideologias ortodoxas. Existem pessoas, independentes e dentro dos partidos, que querem trabalhar de forma desinteressada, de forma séria e participativa. O que os difere, é que o partido pode condicionar qualquer «aventura» ideológica fora das suas Bases. Acho isso anti-democrático! Totalmente contra o espírito livre, que tanto os partidos apregoam!
    Existem incompetentes em todo o lado: até nos empregos. Portanto, condenarem os Independentes ao caos sem provas, é surrealista e anti-democrático!

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  2. Infelizmente os partidos são um refúgio para muitos oportunistas e gente sem carácter, que vai para a política, não para trabalhar em prol da comunidade, mas para proveito próprio, de amigos ou grupos económicos. São inúmeros os políticos que fizeram contratos ruinosos para o país e como recompensa foram nomeados para grandes cargos. Enquanto os políticos não forem julgados e condenados pelas fraudes que cometem haverá cada vez mais independentes.

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  3. Meu caro Eduardo Francisco Louro Marques,

    Acho que está a ser simplista na forma como analisa as palavras de António Barreto (pessoa que não admiro particularmente). É certo que a frase, tal como está, parece um pouco provocatória. Mas repare que o sociólogo não faz qualquer juízo de valor em relação à capacidade individual de cada cidadão. Isso seria ridículo. Refere-se antes à gestão da democracia por assembleias (municipais, nacionais) onde as opiniões não são sistematizadas em blocos, chamemos-lhes partidários. Se já foi confrontado, como eu, com a necessidade de gerir uma assembleia nessas condições, concordará que a energia gasta a evitar o caos é bem maior do que a que se consome a produzir resultados interessantes. Esses fóruns são importantes mas não na gestão corrente da vida democrática.

    A democracia responsabiliza-nos a todos; não há “nós” e “eles”. Se as organizações actuais não nos agradam, procuremos alterá-las ou criar novas. Em muitos países, os cidadãos descontentes com os partidos tradicionais criaram novos modelos. O Partido Pirata da Suécia, o Partido Australiano dos Fanáticos do Desporto Automóvel, o Partido da Marijuana do Canadá são alguns exemplos. E ao integrar essas novas organizações, deixamos de ser independentes e passamos a ser comprometidos. Comprometidos com uma ideia, um valor, com os nossos camaradas.

    Os partidos políticos são associações com virtudes e defeitos. Com o decorrer do tempo e a falta de sentido crítico de muitos dos seus membros e da sociedade em geral, os defeitos tendem a aumentar. Mas de uma coisa não podem ser acusados: de serem impermeáveis à participação de independentes. Se analisar com cuidado, verificará que muitos dos que foram candidatos às últimas eleições autárquicas em Pombal (incluindo eu próprio) não tinham qualquer filiação partidária.

    Abraço,
    Adérito

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  4. Bom dia!
    A visão de António Barreto é a de um sociólogo, que está. em contradição com a sua própria génese ideológica, pois, sempre defendeu o socialista numa caminhada para uma sociedade sem classes.
    Interpreto as palavras do Sr. António Barreto como que a firmação de que sociedade só funciona com as ideias estruturadas da classe, veja-se partidos, onde a tendência é cada vez mais ortodoxa e menos permissiva à exposição de ideias próprias, apenas há lugar para os "YES SIR "
    É evidente que dirigir uma assembleia onde não há ideias previamente irmanadas da direcção de um partido ou de uma casta esta torna-se mais demorada e difícil de dirigir, no entanto, os proveitos seriam muito maiores porque surgem sempre ideias diferentes e talvez melhores e mais proveitosas para as populações e o papel fiscalizador era seguramente melhorado .

    O descontentamento das populações, para com os partidos, está mais que evidente na abstenção, no caso de Pombal foi de 62% aproximadamente. Está chegado o momento dos partidos repensarem a sua postura assumindo as responsabilidades e incapacidades pela não sensibilização das populações para um tão nobre acto de votar , em suma: a mensagem dos partidos não passou por incompetência de alguns.

    Muitas vezes aplica-se a palavra incompetente, erradamente, quando devia empregar a palavra incapaz. Uma pessoa pode não ter competências para desempenhar uma função, daí a sua incompetência para um determinado cargo e ser competente para outra função.

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  5. Caro DBOSS,

    Está a interpretar mal as palavras de António Barreto. Ele não disse, nem sequer pensou dizer, que uma "sociedade só funciona com as ideias estruturadas de classe". Podemos acusar o senhor de muita coisa, mas não de ser intelectualmente leviano. Mas se ele não o é, quando comentamos as suas ideias também não devemos ser.

    Abraço,
    Adérito

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  6. Bom dia
    Caro Adérito.
    Sem ou com leviandade o Sr. Barreto entende que os partidos são os pilares da democracia e logo, segundo ele, é impensável entregar o governo independentes.

    A meu ver, em última análise, esta afirmação só aceita que Portugal siga o seu caminho sob o domínio de uma nova "casta", a casta dos políticos com um fim único: promover incompetentes, empregar os amigos e familiares exercer mais facilmente o tráfico de influências, ludibriar juízes e tribunais de forma a que os seus actos passem impunes e ninguém da casta seja punido.
    Nos últimos 10 anos, dos políticos que supostamente cometeram actos ilícitos e proporcionaram o enriquecimento sem causa a outros, que eu me lembre, apenas um foi punido.

    Se é este o modelo de sociedade e justiça que se pretende o melhor é manter os partidos em exclusividade, rasgar os decretos lei, os códigos penais e de outras leis avulsas, uma vez que poucos as cumprem

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  7. Caro Adérito,

    É sempre um privilegio ouvi-lo e ler o que escreve.
    Começo por pegar na citação que faz, de um dos mais ilustres pensadores portugueses.
    “se a política portuguesa estivesse entregue aos independentes no parlamento ou nas autarquias, Portugal era um caos absoluto". Segundo esse sociólogo, os partidos políticos "são factores de racionalidade e de sistematização das ideias e dos programas e isso são factores de estabilidade”
    É mister recordar dele dois exercicios politicos enquanto Ministro da Educação e enquanto Ministro da Agricultura. Dizer mais, que o que diz, que não deixando de ser verdade porquanto mataria as já moribundas ideologias, largaria na mão de um Homem o poder não determinado por principios, outrossim por juizos de oportunidade. Não parece ser a via mais segura.
    Porém atrevo-me a dizer que tambem Este Insigne pensador militante do PS, deixou de sê-lo a paginas tantas, Não deixo de perguntar-me se a sua não militancia politica o deixa objectivamente independente.
    Ora parece-me ser precisamente na incapacidade dos partidos politicos perceberem que alguns seus militantes, poderem entender e dar resposta ás necessidades reclamadas pelo povo que os seus partidos teimam de forma autista em não perceber e por este aquele ou outro motivo lhe não dão ouvidos ou lugar.
    Por outro lado, o conceito de independencia tem na sua genese a liberdade de agir sem o que faz ser determinado no gabinte de quem mora longe. Mas tem tambem a cara e o rosto de quem porque mora perto e lhe assiste a vergonha de responder diariamente ao mandato que lhe foi conferido, na dependencia de diariamente pensar que aquele lugar não é dele ou do partido que lhe imprimiu os cartazes e os folhetos.
    Afinal como alguem disse de forma lapidar "o medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo"....



    Um abraço independente,
    João Paulo

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  8. Caro João Paulo
    Reconheço a importância dos “independentes” como alternativa aos ocasionais maus funcionamentos dos partidos e reconheço também que estes (partidos) terão de evoluir nas suas ideologias e organizações e no seu funcionamento.
    Porém, como sabes, os independentes, quando o são, não têm ideologias nem projetos políticos consolidados e duradouros nem não estão integrados numa estrutura política coletiva organizada e preparada para o exercício do poder, onde tenham de prestar contas aos seus pares e possam previamente fazer uma aprendizagem com base na experiência coletiva das regras da governação que lhes permita tomar as melhores decisões e a as mais difíceis e evitar os vários tipos de pressão social. Ainda mais do que os governantes eleitos pelos partidos, vão-se impondo pelo populismo e passam a funcionar de forma egocentrista como potenciais ditadores…

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    Respostas
    1. Prezado Amigo;
      Face ao que me dizes, a necessidade de evolução das candidaturas independentes, ouso perguntar-te?
      a) que ideologia preside aos partidos que estão maioriatriamente no poder?
      b) qual é a sua forma de funcionamento e orgAnização?
      As perguntas que te coloco não são senão a minha pretensão de aprender, e aprender contigo, pessoa a quem reconheço com verdade uma capacidade de analise notavel.
      Confesso que naqueles partidos politicos, tu sabes quais são, não vislumbro ideologias, menos ainda bom funcionamento. Porém como tambem sabes se me explicares isso, não tenho qualquer pejo em até concordar contigo.
      Uma coisa é para mim absolutamente certa e que firmemente não pretendo mudar . SOU DO SPORTING!!!!!!

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  9. Boas noites!
    O que eu escrevo aos amigos Adérito Araújo e ao JG Fernades, é que o tempo o dirá.....
    Eu sou mais do estilo filosófico, sem formatações. Sócrates ( o Grego, não o Tuga... ), dizia, no seu tempo, nos primórdios da Democracia:
    - Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância.
    - Uma vida sem desafios não vale a pena ser vivida.
    - Existe apenas um bem, o saber, e apenas um mal, a ignorância.
    - Não penses mal dos que procedem mal; pensa somente que estão equivocados.
    - Aquele a quem a palavra não educar, também o pau não educará.

    E com ele e mais alguns, eu faço a minha vénia. Viva a Democracia!

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  10. Note-se que muitos dos atuais "independentes"que foram a votos, sao na verdade "amuados com o seu partido". Nao todos, claro, mas uma boa parte. O que altera o conceito teórico da coisa.
    De resto, o que penaliza os partidos de hoje, sao males a que os independentes, depois de eleitos, nao estão imunes.
    Ainda assim, entendo que estes sao uma possível alternativa em alguns cenários, e ao deixo de concordar que os partidos muito fizeram, nos últimos anos, para serem olhados hoje com este escárnio generalizado.

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  11. Meu caro João Paulo,

    Gosta do Cântico Negro do José Régio? Imagino que sim. Numa primeira leitura, o poema pode ser visto como um hino ao livre pensamento, à vontade própria. Por outro, se o analisarmos com mais profundidade, podemos fazer uma outra interpretação, igualmente legítima. Ao recusar-se firmemente a acompanhar os seus camaradas, o autor denota uma visão egoísta, uma incapacidade de aceitar compromissos colectivos.

    Se reparar, chamei ao meu post “A sacralização dos independentes”. De facto, é isso o que temos assistido repetidamente nos órgãos de comunicação social. Criticar essa opinião é quase uma heresia. Também deu conta, com certeza, que neste mesmo blogue, eu também fiz a apologia das listas independentes, para já não falar do facto do projecto politico que tenho defendido nas eleições autárquicas propor, repetidamente, a criação de instrumentos de participação directa dos cidadãos na gestão da coisa pública.

    Mas eu não vejo nos independentes a salvação da democracia. A sua participação é legítima, essencial, imprescindível. Ao nível das freguesias, onde a relação pessoal torna secundária a visão ideológica, até consigo compreender a ausência de partidos. Mas extrapolar a micro-escala local para a realidade nacional é perigoso. Aqui os partidos têm um papel fundamental a desempenhar, um papel que não tem condições de ser desempenhado apenas por independentes.

    Os partidos têm-se portado mal, estão cheios de vícios e precisam de renovação. Apesar de tudo, a abertura dos partidos a independentes é uma realidade. Se olharmos para a composição deste governo, muitos ministros são independentes (e não são os que se têm portado melhor). Numa altura de pré-falência do Estado, é natural eleger os partidos como bodes expiatórios. Mas os partidos estão na essência do sistema democrático e, como diz o poeta, a democracia (ainda) é o pior de todos os sistemas com excepção de todos os outros.

    Pretendi fazer uma leitura menos consensual sobre os independentes e os partidos. Uma leitura que, embora minoritária, continua a achar ser totalmente legítima.

    Um abraço e obrigado pelas suas palavras,
    Adérito

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