1 de outubro de 2013

Temos é que ser Gente!*

"Uma pessoa pertence deveras e de facto a todo o sítio cuja gente lhe faça falta" escreveu aqui um dia o Daniel Abrunheiro, meu velho camarada de jornais e da vida. É verdade, verdade absoluta. Foi por me sentir pertença da terra, por me faltar outra gente, que aceitei o convite do Carlos Lopes para integrar a candidatura à Junta de Freguesia de Pombal, pelo Partido Socialista. Sabia bem no que me estava a meter, no vespeiro que poderia acordar ao saltar das páginas de papel ou do computador para a rua, onde, afinal, está a realidade. Hoje sei que pelo menos uma vez na vida toda a gente deveria passar por esta experiência, a de descer ao centro da terra, dar a cara e o peito às balas. Envolver-se até à medula. Ver de perto o que resta da nossa gente. E perceber como é que se constroem maiorias absolutas, ao longo de 20 anos. Digo-vos isto com a maior das angústias, depois do muito que vi nas últimas semanas: O nosso dinheiro está enterrado em associações sem qualquer actividade (um almoço convívio por ano não pode justificar nada) , em balneários cheios de bolor e polidesportivos onde cresce o mato - e pastam as cabras, como tão bem lembrou o candidato da CDU à Câmara, no debate do Teatro-Cine, promovido pelo Jornal de Leiria, durante a campanha. Dir-me-ão que é disso que o povo gosta. Talvez. Mas qual povo?
Vamos, então, por partes.

1. Os resultados eleitorais são o que são. O PSD perde votos mas continua a ser esmagadoramente o partido mais votado, varrendo o PS outra vez do mapa das freguesias - este até consegue a eleição de mais um vereador (uma vereadora, a Marlene Matias), mas sabe a muito pouco para o que deveria ser o objectivo alcançado. Como continuo livre como dantes, considero igualmente que não há oposições fofinhas. Não podemos votar contra os subsídios às associações porque depois os dirigentes levam a mal? Podemos pois. É preciso mostrar às pessoas que essa não é a maneira que defendemos de gerir os dinheiros públicos. E mostrar-lhes outro caminho, todos os dias, e não apenas de quatro em quatro anos. 

2. Mais do que perder votos, os partidos não deram conta de que perdemos muita gente nos últimos dois anos. Os 63% de abstenção na freguesia de Pombal e os 55% no concelho deviam servir de alguma coisa aos que agora foram eleitos. Não se trata apenas de um desinteresse instalado na população. Trata-se da falta dela. Como é fácil perceber, quem teve de emigrar (sem trabalho, sem salário, com dívidas e filhos para criar) não foi gente do sistema. Não foram funcionários da Câmara nem das Juntas. Mas foi muita gente. Milhares. Fui percebendo isso mesmo ao longo da campanha eleitoral, quando percorríamos de uma ponta à outra os lugares da freguesia de Pombal. As casas fechadas,  as escolas vazias e entregues a associações de âmbito nacional (Pombal é um espectáculo, bem podem dizê-lo). Os velhos sozinhos (alguns em situação de abandono). Não sei se alguém os terá ido buscar para os churrascos que dominaram a campanha do senhor Nascimento Lopes para a Junta de Freguesia. Mas o mínimo que vou exigir do novo executivo é que olhe por esta gente. Pela nossa gente. Era o que faríamos se o eleitorado tivesse optado pelo nosso projecto. Sendo assim, temos de nos remeter ao nosso papel de oposição: crítica quando tiver de ser, vigilante, construtiva quando tiver de ser, mas sobretudo actuante. Fica já aqui escrito, para não haver dúvidas. Enquanto escrevo lembro-me das palavras sábias do camarada Adelino Malho, certa vez, quando trocávamos conversa sobre o andar da carruagem nas eleições: "às vezes há frutos que não amadurecem tão depressa como gostaríamos". Tinhas razão (como quase sempre).

3. Passada a tristeza por todo este estado de coisas, é hora de embalar essa trouxa e farpar. Não o fiz durante toda a campanha eleitoral porque tive a sorte de nascer numa casa onde pai e mãe me ensinaram valores que carrego para a vida inteira. Tenho muita pena dos pais que não conseguiram fazer o mesmo com os filhos. Tento fazê-lo com os meus todos os dias, para evitar que sejam alinhados "porque sim" em carreiros de formigas ou rebanhos coloridos, num plano de catequização que é preciso combater.
Na causa pública move-me - hoje mais do que nunca - a vontade de fazer desta uma terra melhor para os meus filhos . E para nós também. Sei que a partir de agora nada vai ser como dantes. Pombal não precisa de ser mais, precisa é de ser melhor. É um bom prenúncio o regresso à vida política do CDS, mas sobretudo da CDU. Se por acaso estas eleições tivessem sido decididas pela maioria do povo, essa sim seria uma grande vitória. Como a de Ana Tenente em Vila Cã (que não conheço, mas que tem a minha admiração desde a entrega da lista, depois de ter sido excluída como candidata natural pelo PSD) e de Sandra Barros, em Abiul, que sem dar por ela ganhou a Junta para o CDS. Uma lição da serra.

*como dizia Zeca Afonso

6 comentários:

  1. Paula,
    Não me recordo de te ter dito a expressão que me atribuis (apesar de a usar porque o percebi quando assumi direção política), mas recordo-me bem do que te disse quando me perguntaste se deverias aceitar o convite, que aceitaste.
    Compreendo a tua frustração e de toda a equipa pelos resultados eleitorais. Mereciam mais, mas conseguiram mais do que aquilo que à primeira vista atingiram.
    Os resultados eleitorais são muito importantes, mas não são – não podem ser – o único retorno da atividade política.
    Tenho a certeza que no balanço que entretanto fizeste colocaste na coluna de sinal (-) os resultados eleitorais e na coluna de sinal (+) a alegria, os afetos, o enriquecimento pessoal. E o balanço final não dá, de certeza, resultado negativo (se der “0” já é bom).
    Eu tenho pena é daqueles que fazem atividade politica a contragosto, desconfiando dos eleitores e dos adversários, sempre em esforço e sofrimento. E perdem. Coitados.
    Boas,
    AM

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    1. Foi tudo isso, Malho. Reconhecemo-nos como tribo e fomos muito felizes a sonhar com uma terra melhor. Até agora éramos um conjunto de pessoas "à toa na vida" que esta candidatura juntou e chamou para a vida pública. E sim, viemos para ficar :)

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  2. Amiga e camarada Paula Sofia, boa noite.
    Fizeste um bom exercício.
    Mas fico muito triste por não teres viste o presente e continuares agarrada ao passado.
    Ficava contente se te projectasses no futuro.
    Afirmas que a tua atitude vai ser de “crítica quando tiver de ser, vigilante, construtiva quando tiver de ser, mas sobretudo actuante. Fica já aqui escrito, para não haver dúvidas”.
    É uma boa declaração de princípios, mas não foi isso que aconteceu na campanha eleitoral.
    Foi o vale tudo. E deu o que deu.
    Concerteza que te recordas de campanhas eleitorais, de má memória, feitas pela negativa.
    O que é que mudou, então, desde Domingo passado, para mudares de atitude?
    Dizes que “Pombal não precisa de ser mais, precisa é de ser melhor”.
    Eu diria que, em toda a linha, vai ser Mais e melhor!
    Está escrito nas estrelas.
    Já deste os Parabéns ao Nascimento Lopes?
    Eu, que não sou ninguém, já dei uma palavra de conforto a todos os que perderam.
    E congratulei-me com os que ganharam.
    É da vida democrática.
    Mas, por esses lados, parece que a democracia é outra.
    Regista que a campanha eleitoral, para as próximas eleições autárquicas, daqui a quatro anos, começou ontem.
    É da vida.
    Beijo.

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  3. Cara Paula Sofia, compreendo o seu estado de alma. Não desanime, não há nada que não mude, pode é levar mais tempo.
    Presente? Passado? Futuro? Ó Senhor Engenheiro despache-se porque senão breve já nem num museu tem lugar.

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  4. Sr. Rodrigues Marques, campanha do vale tudo? Sabe que partido colocou umas colunas com decibéis no máximo aquando da visita do António José Seguro a Pombal? E quando o Passos Coelho visitou Pombal? Viu alguém do PS a fazer alguma coisa semelhante? E por certo já conhece as inflamadas intervenções do sr. Pedro Brilhante! E ainda critica os outros por que fizeram uma campanha do vale tudo? Você e alguns dos seus camaradas partidários são de uma cegueira tal que, na tentativa de defender coisas completamente indefensaveis, caem num ridiculo tal que até um miúdo de 10 anos se ria! Tenho 24 anos, experiência politica zero, mas há coisas que até um miúdo como eu sabe que não se fazem! Sou Vermoilense/Pombalense com orgulho mas digo, com toda a sinceridade, que com pessoas como o Sr. o nosso concelho vai continuar igual ou piorar ainda mais! Não é que o trabalho não apareça feito...mas será que o trabalho que está feito interessa a alguém? Não vale a pena dizer mais nada pois já sei que a sua resposta vem direitinha do Wikipédia!
    Para finalizar, quero apenas dizer lhe que a abstenção foi de uns absurdos 63%! E ainda canta vitória?
    O que eu vi foi um povo descontente, que nem escolher quis, dado as opções que lhe apresentaram!
    E os que escolheram, já começam a dar sinais que isto talvez não continue assim para sempre!
    Sabe que a Internet é uma arma poderosa...e as noticias correm muito depressa!

    Analise isto da melhor maneira Sr. Rodrigues Marques! E, se possível, sem as respectivas palas laranjas!

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