(Nota
prévia: aqui há uns tempos, propus-me não arrolar o
nosso-de-todos-mas-principalmente-só-de-alguns Sporting Clube de Pombal na
tábua de malícias crónico-farpeantes por mim assinadas. Menti. Siga.)
Eu
nem sei como (ou se) contar isto. Mas vá lá, conte-se: tanto tem desandado às
arrecuas a minha, por assim dizer, meretricial vida, que me lembrei, a fim de
socorrê-la um ’cadito que fosse ainda a tempo, de ir à bruxa.
A
Coimbra ao psiquiatra, já tinha ido. Nada que se me aproveitasse: umas
pastilhas para rir da tristeza como se fumasse daquele chá-mon de Marrocos – e
mais nada.
Também
fui ali ao bar do Moto Clube de Pombal no horário de expediente do Rui
Valentim, pela simples e sensata razão de nem me achar assim tão feioso “ó-níbél” da tabuleta-de-ventas de cada
vez que olho para o dito Valentim Rui. Também não resultou, até porque esse bom
rádio-motard tem ficado mais bonito e mais giro e até mai’ lindo com a idade.
Ou pelo menos assim o achei eu, depois da primeira litrada & ½ de
bagaceira-casco-carvalhosa.
Bruxa,
portanto. Tinham-me falado de uma que vive numa casa assim a atirar para o
amarelo como punhadas de açafrão sita em recôndito e remo(r)to lugarejo da
minha mui querida & estimada freguesia louriçalense. Falaram-me dela e
recomendaram-ma, ressalvando porém que a dita maga-patalógika (esta, só os leitores dos disney-tiopatinhas dos
antigamentes é que lá vão buscar) tem, como eu há mais de três décadas tenho, o
mau hábito e o bom prazer de esfumaçar pelas guelras como o cavalo, que é como
quem diz, ali pelas bandas da também louriçalense Moita do Boi (já lá vamos, já
lá vamos), escacilhar a xoipa. E que
por causa disso tem as presas da frente amarelas como as de coelho que fume abóbora-menina.
Adiante. Pedi boleia (eu tenho carro e carta de condução, mas tanto o tal
psiquiatra da Lusa Atenas como o Rui Brad Valentim Pitt me disseram que não,
que era melhor não, que as estradas municipais deste concelho são demasiado às rectas
curvas para tanto beber a torto e a direito), pedi boleia, dizia eu, e lá
cheguei.
Lá
cheguei mas vim-me logo embora sem entrar: é que na eira da espírita Madame Min local (outra para os disneylândios do meu tempo) ele era
tanto carro de gente afecta ao Sporting de Pombal, mas tanto carro tanto carro
tanto carro tanto carro, que eu vim logo embora, que antes de sábado de manhã
de outro Novembro eu não seria atendido. Nem com passes de mágica, nem em
casas-de-passe. Desertei o local contrariado. Contrafeito. Chateado.
Malacafento da corneta. Aziago dos rins. Com a tripa a furar bichamente ao
sótão da gorja.
Mas que carácio – dizia eu de mim
p’ra mim também – fará aqui tanta ilustre
grei do leonino Pombal? Será que a bruxa anda a fazer filhos para os juniores?
Será que o vinho aqui é melhor do que o do Tapa? Será que o Adelino Leitão se
perdeu e julgava que estes casais já eram Vermoil ou, pior ainda, a Amarante da
senhora sua/dele esposa?
Aquele
mistério pareceu-me tão capitoso e ao mesmo tempo tão jeitoso para aparecer,
sei lá, no Pombal Jornal ou, pior, no
Notícias do Centro, que até me deu
pena de já não haver o Voz do Arunca ou
O Abutre. Para mais, ainda não tenho
os contactos da Pombal TV. Nem se
calhar eles haveriam de querer saber disto, quem sou eu para dizer se sim, se
talvez, se a gente ainda está a arrumar as tralhas da Gala.
Por
felicidade, era dia de piquete do Rui Valentim no bar do Moto Clube. Lá me fui
a ele. Entrei de mansinho, conferi as moedas na algibeira enquanto subia a
escadaria, boa-noitei a maltosa presente, assídua & circunstante – e
sentei-me onde não chateasse nem cheirasse demasiado mal a ninguém. O
Carlos Vinhas Arquitecto ainda não tinha chegado. O Matias pequenito também
não. O Jorge Franco idem aspas negativas, que esse agora só cavilha para raias
da Charneca, faz ele bem. Quem também lá não achatava os pezunhos por essa hora
era o bom do Paulo Alexandre, porque esse agora é magnata da Rolls Beer, a qual ainda não provei
apesar das garantias do Toninho Roque Caixeiro-Viajante da dita marca artesanal
que fermenta já borbulhantes e prestigiosas glórias ao nosso terrum concelhio “ó-níbél” nacional, internacional,
mundial e mesmo até ao Barrocal.
Foi
boa ideia. Na mesa ao lado, dois gandins já madurotes, assim tipo orquídea de
pedúnculo a tombar pró murcho, era de Sporting de Pombal que falavam. E isto
era o que rosnamurmuravam, dito & transcrito por mim, qu’eu seja ceguinho
das orelhas se estou aqui pa’ d’zer a verdade seja sobre o que for:
–
Fosca-se, meu, queixam-se do quê, os gajos?
Só da Cambra em 2013 encoiraram eles umas 49 e meia milenas d’aéreos.
–
Isso tamãe é capaz de ser inzajêro, digo
eu c’os nerbos.
–
Mas q’ais inzajêros, mex, mas q’ais
inzajêros? S’e não foi mais até, cumó Vítor Leitão.
- Eh pá, num
mistures na mêma salgadeira o que num é de misturar, porque bá lá que num bá,
no Spórtem-Pomvale ninguém gamou nada a ninguém pa’ putas e vinho-verde daquele
de rolha de malte, tás-ma-ber-aki-ó-kê?
–
Tá-bãe, nisso tens razão, mas olha
q’agora esse até ch’crabeu ’ma carta tãn linda mas tãn linda ao Diogo, q’o
Diogo diz qu’até fez mais escabeche a chorar a lê-la do que um carapau é capaz
d’alombar com binagre ódebaixo daquela cebola toda, e olha que pa’ chorar não
há como a cebola nem com’à tua m’lher.
–
A minha m’lher num é p’aqui chamada, vai
mazé pôr os porcos a tossir jaquizinhos como tu ó o carago.
–
Num é p’aqui chamada? Ai não que num é: atão
não é ela que ganh’algum, e dizem que nem é pouco, com aquele par-táime qu’ela
tem de bruxa licenciada no Livro de São Cipriano, qu’inté muita maltosa
afectiba do Spórtem-Pomvale lá tem ido ver s’ela faz o milagre de nascer
dinheiro para pagar à Dulce funcionária que já não vê há luas o qu’é dela
enquanto eles vão ao Algarve comprar autocarros onde chove e cujos travões diz
que era para haver mas até hoje népias qu’até é uma bênção aquilo ’tar parado
como a vida da Dulce administrativa?
–
Isso é mê’m’assim? Às bezes as bozes são
mais q’as nozes…
–
Mazé q’é sem tirar nem pôr. Ali na
Associação da Moita do Boi, só assalariadas são catorze. E não s’consta que a
nenhuma deles falte o guito ó fim do mês, méne.
–
A minha mulher tamãe ’inda num recebeu
nada té-gora.
–
Olha, ela q’espere sentada como tu ’tás
agora. Ó Rui Valentim, traz mazé aí mais uma jarrola de sangria. Olha, e um
bagaçola ali pró escritor qu’inda num parou de escreber à pressa e com erros ós
modos qu’inté ’tá a grabar o q’a gente aqui diz.
De
modo que a vida às vezes inté parece melhorar sozinha.
Sem
psiquiatra.
Sem
chorar como o Diogo e como o Vítor.
Parece
bruxedo.
Amigo e companheiro dos sumos, Daniel Abrunheiro, boa tarde.
ResponderEliminarFala comigo que eu meto empenho numa bruxinha fininha, loirinha e sabedora para te tratar das tuas maleitas.
O nosso companheiro Rui Valentim já lá foi.
Aquilo é tiro e queda.
Conta comigo.
Abraço solidário
Já vou a caminho, Amigo. E o Rui também. Vou de mota com ele. Levamos acordeão e viola.
EliminarBom dia
ResponderEliminarCaro Daniel a tua melhor bruxaria é a tua cabeça. o papel e o lápis, no entanto, se fores lá, leva também o camarada Manel, antes que seja tarde!
Imagina tu a escreveres a letra o Manel a recitar e o Rui Valentim a tocar acordeão, dava um bom espectáculo de beneficência!
Olha que rica ideia!
EliminarAmigo e companheiro Papagaio, boa tarde.
EliminarCompro as duas ideias.
Abraço.