Pombal
foi sempre uma terra de gente litigante, tanto nos domínios do material como do
imaterial, nomeadamente na área do pensamento, da opinião, da crítica, da
sátira, do humor. Uma idiossincrasia própria de desajeitados de espírito,
que atravessa todas as faixas da comunidade: do analfabeto (ainda existem
muitos) ao doutor; do pobre ao rico/remediado; do súbdito ao político. Por
isso, a advocacia é a profissão que mais floresce por cá - o número de
advogados com escritório aberto confirma-o.
Neste
caldo de cultura medra um poder que se considera impoluto e isento à crítica;
que ataca, amesquinha, subjuga e persegue os que se lhe opõem; e lacaios que só
herdaram uma roupa e a coberto do anonimato ofendem sem rédea.
Profecia
de advogado anónimo: Deus proteja os litigantes compulsivos; são esses paranóicos que
nos sustentam a família.
Amigo Malho, apenas para "abanicar" a fogueira aqui deixo um contributo.
ResponderEliminarEmbora o artigo dê a ideia de evocar uma característica do nosso povo muito bem observada, a litigância constante como oxigénio do nosso inter relacionamento, verifica-se que este envolvimento idiossincrático que escolheu serve essencialmente para adornar o terceiro parágrafo que será o seu principal objetivo.
Não há poderes perfeitos nem impolutos e todos têm direito à sua opinião.
Neste caso deixe-me felicitá-lo pela visão lúcida que nos deu da forma curiosa como nos relacionamos como povo, no que não poderia estar em mais acordo consigo.
Digamos que nesta sua receita social, a sua eficácia, para mim, não estará tanto no "princípio activo" que lhe quis introduzir mas essencialmente na sua "fórmula galénica" que tão genialmente escolheu.
Com certeza que também há médicos e policias anónimos a pedirem as graças divinas para o seu ganha-pão...
Um abraço
MS
Amigo Manuel Serra,
ResponderEliminarGracias pelas felicitações e pelo seu contributo para esta análise; nomeadamente a nota divergente sobre o terceiro parágrafo, sempre enriquecedora quando cordata, como é seu timbre
Na verdade, o propósito essencial - neste post - nem é atacar o poder instalado. Se reparar bem apresento-o mais como ilustração do que como causa. No entanto, os poderes – nomeadamente os democráticos – tem a obrigação de dar o exemplo, de ajudar a mudar a sociedade pelo exemplo, e não pela força, pela litigância ou pela repressão.
A litigância, nomeadamente a gratuita, é o exercício da malvadez contra o outro. Os poderes públicos deveriam ter como princípio e objectivo de conduta a redução da litigância a zero. E assim, dariam um belo exemplo.