26 de fevereiro de 2018

Uma terra de litigantes

Pombal foi sempre uma terra de gente litigante, tanto nos domínios do material como do imaterial, nomeadamente na área do pensamento, da opinião, da crítica, da sátira, do humor. Uma idiossincrasia própria de desajeitados de espírito, que atravessa todas as faixas da comunidade: do analfabeto (ainda existem muitos) ao doutor; do pobre ao rico/remediado; do súbdito ao político. Por isso, a advocacia é a profissão que mais floresce por cá - o número de advogados com escritório aberto confirma-o.
Neste caldo de cultura medra um poder que se considera impoluto e isento à crítica; que ataca, amesquinha, subjuga e persegue os que se lhe opõem; e lacaios que só herdaram uma roupa e a coberto do anonimato ofendem sem rédea.
Profecia de advogado anónimo: Deus proteja os litigantes compulsivos; são esses paranóicos que nos sustentam a família.

2 comentários:

  1. Amigo Malho, apenas para "abanicar" a fogueira aqui deixo um contributo.
    Embora o artigo dê a ideia de evocar uma característica do nosso povo muito bem observada, a litigância constante como oxigénio do nosso inter relacionamento, verifica-se que este envolvimento idiossincrático que escolheu serve essencialmente para adornar o terceiro parágrafo que será o seu principal objetivo.
    Não há poderes perfeitos nem impolutos e todos têm direito à sua opinião.
    Neste caso deixe-me felicitá-lo pela visão lúcida que nos deu da forma curiosa como nos relacionamos como povo, no que não poderia estar em mais acordo consigo.
    Digamos que nesta sua receita social, a sua eficácia, para mim, não estará tanto no "princípio activo" que lhe quis introduzir mas essencialmente na sua "fórmula galénica" que tão genialmente escolheu.
    Com certeza que também há médicos e policias anónimos a pedirem as graças divinas para o seu ganha-pão...
    Um abraço
    MS

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  2. Amigo Manuel Serra,
    Gracias pelas felicitações e pelo seu contributo para esta análise; nomeadamente a nota divergente sobre o terceiro parágrafo, sempre enriquecedora quando cordata, como é seu timbre
    Na verdade, o propósito essencial - neste post - nem é atacar o poder instalado. Se reparar bem apresento-o mais como ilustração do que como causa. No entanto, os poderes – nomeadamente os democráticos – tem a obrigação de dar o exemplo, de ajudar a mudar a sociedade pelo exemplo, e não pela força, pela litigância ou pela repressão.
    A litigância, nomeadamente a gratuita, é o exercício da malvadez contra o outro. Os poderes públicos deveriam ter como princípio e objectivo de conduta a redução da litigância a zero. E assim, dariam um belo exemplo.

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