Quando, na noite de 24 para 25 de Abril de 2008, lançámos o
Farpas, com o propósito de “farpear os interesses e os poderes
instalados, os oportunistas e os manhosos, a hipocrisia e o servilismo, a
obscenidade e o desperdício. E dar nota do gesto simples e desinteressado, da
exemplar cidadania e da excelência”, estávamos longe de imaginar que a aventura cumpriria
uma década, nomeadamente com a penetração e o reconhecimento, entretanto alcançado.
Nós fizemos por isso, e as circunstâncias ajudaram muito.
Preocupámo-nos, desde o início, em fazer uma
coisa séria, com estilo e propósito claros. Começámos pelo mais simples:
apontar casos que evidenciavam os vícios e os podres dos poderes instalados;
depois, evoluímos para a crítica sociopolítica incisiva, fracturante, mordaz. Ao
mesmo tempo, fomos melhorando o embrulho com mais imagem, cartoons e, mais
recentemente, vídeo – obrigado Diogo. Há pouco mais de três anos entrámos no
Facebook - em boa hora o fizemos…
Passados dez anos, somos o que somos, porque como
escreveu pessoa, no poema que serviu de mote ao debate do 10.º aniversário, “somos
do tamanho do que vemos…e não do tamanho da nossa altura” – nunca fomos tão
poucos e nunca valemos tanto! Na verdade, somos grandes por que vemos muito. Da
janela das nossas casas no cimo do nosso outeiro, de lados opostos, vemos este
(nosso) universo, este Pombal.
A nossa única riqueza – como diz Pessoa – é ver.
Ver o que a maioria não vê ou não quer ver. Nestes dez anos apurámos muito a
capacidade de ver, de ver para além da superfície, de radiografar a realidade.
Nesta aldeia que Pombal continua a ser, não “existem grandes casas que fecham a
vista à chave”. Aqui, o céu e o inferno estão à vista do olhar atento; e a
realidade mais obscura está logo debaixo do véu, basta levantá-lo. Sim, nesta
aldeia, conhecemos-nos todos, o presente e o passado, o que é bom e mau. Bom por
que nos permite ver tudo com mais clareza, antecipar passos, movimentos, alinhamentos,
intrigas, rupturas…Mau por que farpeamos gente conhecida, pessoas de carne e
osso, amigos ou inimigos, das nossas vidas.
A missão a que nos propusemos não é fácil,
nomeadamente numa terra onde existe uma profunda aversão à crítica; numa cidade
maioritariamente constituída por gente que veio da aldeia para o meio urbano,
mas trouxe a aldeia consigo; assumimo-la porque alguém a tinha que fazer.
Nestes dez anos, o que conseguimos? No debate, o Adérito afirmou: só derrotas! E justificou-o com os resultados eleitorais. Não subscrevo
a avaliação. Prefiro olhar para o copo meio cheio: estimulámos e enriquecemos
muito a cidadania, a cultura política e o debate de ideias. E nós crescemos,
também, muito neste processo; porque acreditamos que a troca de ideias, como
afirmou Bernad Shaw, é a troca mais enriquecedora, porque quando quando se troca uma ideia
com um amigo, cada um fica com duas ideias. Muita gente instruída não percebe
isto, mas quer ter sucesso na vida pública. O Farpas vai continuar a praticar
a troca de ideias.
Viva o Farpas. Viva a Liberdade.
O farpas fez dez anos, parabéns ao farpas.
ResponderEliminarUm espaço onde quem tem uma ideia, uma crítica ou uma sugestão, encontra um bom veículo para o transmitir.
A liberdade pode ser usada de forma elevada e cordata e nesses termos contribuir para o nosso são debate de ideias por mais antagónicas que sejam; Também pode ser usada de forma rasteira, baixa e insidiosa, e assim contribuir apenas para a crispação e voltar de costas que de nada servem a ninguém.
Ambas as situações têm acontecido neste blog, embora me pareça que se tem caminhado para uma natural especialização da primeira.
As ironias, os eufemismos e as efabulações onde os protagonistas de serviço são invariavelmente as figuras políticas do conselho correspondem à natural apreciação crítica da atividade a que as figuras públicas estão sujeitas.
Mas, tal como o amor e o ódio são sentimentos próximos e facilmente o primeiro descamba no segundo, também a critica elevada e a critica insultuosa são apreciações próximas, não sendo difícil passar da primeira à segunda.
Como afirmei no jantar, somos todos de menos para nos podermos, nesta sociedade, dar ao luxo de nos zangarmos uns com os outros, porque desavindos nada construímos.
Parece-me que é para esse âmbito mais construtivo que o farpas tem caminhado, é nesse espaço que me sinto confortável, e só nesse espaço é que sei dar o meu contributo, rumo que desejo ao farpas.
As farpas podem ser um estimulo à ação, espicaçam, incitam; Mas as farpas "envenenadas" apenas causam dor, inchaço ou mesmo a morte.
Caso sejam envenenadas demais podem até virar-se contra os seus criadores e o veículo que utilizam.
Felicidades para uma nova década.
Manuel Serra
Felicidades para o Farpas. Pela primeira vez não estive presente no jantar do Farpas, nem no do Partido socialista de Pombal. Quando recebi os dois convites pensei logo, bem a maneira de resolver isto da maneira mais cordial ir jantar com os meus camaradas do PS e depois tomar café com os meus amigos do Farpas. No entanto devido a condicionalismos de ordem familiar decidi mesmo passar a noite da passagem para a liberdade com a pessoa mais importante na minha vida para mim, o meu filhote. Abraços para todos.
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