4 de abril de 2019

A vereadora Anabela

A vulgaridade é uma forma de vida tão digna como outra qualquer; também merece o seu momento.
A vereadora Anabela existe, está vereadora, pronto. E ali, basta-lhe existir para ser figura. É uma existência sem essência: não fala, não pensa (ou se pensa não mostra que pensa), não sente – não acerta nem erra. Está ali, porque quiseram que ali estivesse. E porque é que não havia de estar, se os outros e outras estão? Mas a sua existência não é igual à dos outros e das outras. Os da frente fazem-no por obrigação; a Anabela fá-lo – parece - por missão. É o que a distingue. Esconde-se e mostra-se, faz parte, é um elemento do cenário.
Diz-se que é professora e doutora; custa-me a acreditar: não consigo imaginá-la senão como (me) existe. Devia ser indiferente à sua existência, mas não consigo; naquele cenário, prende-me constantemente a atenção. Pergunto-me muitas vezes: o que faz a Anabela ali? Não percebo por que não se aborrece por só existir! Bem sei que há mais pessoas assim – muitas -, mas pouquíssimas como ela: sabe existir. Há, até, uma certa imponência na sua existência - na figura, na pose, no olhar, na luz e na cor que irradia - que contrasta com o cinzentismo circundante.

A vereadora Anabela existe. Ponto. 

1 comentário:

  1. Adelino Malho, vai à escola da Guia e percebes porque existe...existe porque é bem relacionada...existe porque sabe existir...existe porque sabe estar sem atrapalhar...existe...

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