O Príncipe decidiu aceitar o honroso convite do Conde de
Nanterre para assistir às festividades do mui cristão povo irmão. Chamou o
Pança para lhe comunicar os contornes da expedição a terras gaulesas:
- Pança; apresentai-vos no trono.
- O que desejais, Alteza? – acudiu o Pança.
- Vou participar, como convidado de honra, nas festividades
do condado amigo de Nanterre. Ireis acompanhar-me no duplo papel de meu
escudeiro e de governador do teu condado.
- Meu mui digno patrono e amado Príncipe, Vós sois tão
agradecido. Oh Deus! Abençoado dia que me fizestes escudeiro deste Senhor meu
amo.
- Partiremos daqui a três dias, deveis empregar estes dias a
preparar esta mui honrosa visita oficial.
- Ficai descansado, Senhor meu. Eu dedico o dever, assim
como a alma, primeiro a Deus, depois a Vossa Alteza – afiançou o Pança; e não
havendo mais a tratar, saiu depois de fazer uma vénia mui curvada.
O Pança não estava à espera de ensejo tão gostoso. No
regresso a casa, conversava consigo mesmo e questionava-se por que é que o Amo não
se tinha feito acompanhar pela marquesa, que tanto gostava de o acompanhar, e
Ele de ser acompanhado por ela; por que não tinha optado pelo seu devoto vice;
ou até pelo ilustre representante do Reino nas Cortes. Ia intrigado e eufórico
para contar à sua amada esposa tão honrosa distinção.
O Príncipe reuniu com o Pança na véspera da partida para
verificar se estava tudo em ordem e para dar alguns conselhos ao Pança sobre bons
modos e comedimentos nos contactos com os gauleses, povo de fino requinte,
merecedor de toda a nata da cortesia e de toda a flor das bem-criadas
cerimónias. Recomendou-lhe que se esforçasse para se mostrar discreto, contido
na fala e à mesa, pessoa mui assisada e cordata. Já na relação com o povo irmão,
não achou o Príncipe necessário qualquer reparo - o Pança sabe movimentar-se, melhor
que ele, entre iguais. O Pança asseverou, a Sua Alteza, que não receasse que
ele se desmandasse, nem que dissesse coisas que não viessem bem a pelo, já que
ainda não se tinha esquecido dos conselhos que há pouco tempo Sua Alteza lhe
tinha dado, sobre o falar muito ou pouco, bem ou mal, comer pouco e beber menos.
Partiram. A viagem correu sem contratempos com o Pança
sempre solicito a desimpedir o caminho a Sua Alteza. À chegada, o Príncipe reforçou
as recomendações:
- Sede cauto nesta
primeira: faze gala da humildade da tua linhagem, Pança, e não tenhas desprezo
em dizer que és filho de jornaleiro; ufana-te mais em seres humilde
virtuoso, que pecador soberbo; não vos despeiteis, não vos metais onde não sois
chamado e não deis conselhos a quem vo-los não pede.
- Procurarei fazer tudo conforme vossas sábias recomendações,
Majestade, mas se me estiver a desmandar dai-me um sinal que logo porei remate
a alguma tolice – afiançou o Pança.
O Príncipe e o Pança foram recebidos com pompa e circunstância
pelos nossos irmãos e com muito donaire pelos gauleses. O Príncipe esteve soberbo,
com muito donaire e nobreza. O Pança, sempre inchado e pomposo, não cabia em si
de contente; foi discreto com os gauleses e igual a ele próprio com o povo
irmão. Foi apresentado como governador de um condado do Reino, discursou no seu
registo efusivo, distribuiu elogios e convidou o povo irmão para o próximo
Festival da Fava, no seu condado. Depois, foi um mordomo de engenho alegre e
desenfreado: distribuiu cumprimentos e cortesias, retratou e fez-se retratar,
pôs-nos ao corrente daquela grandiosa jornada com retratos artísticos e
mensagens eloquentes.
O Pança ficava por lá mais uns dias, seduzido como estava pelos
atrevimentos lascivos das donzelas chiques desguardadas. Mas o Príncipe relembrou-lhe
que estamos na quaresma e que não
poderiam faltar à Missa da Ceia do Senhor e Lava-pés.
Miguel Saavedra
Pombal volta á idade média e o Príncipe parte com o seu fiel escudeiro para França???? Mau isto cheira a fim do Reinado...
ResponderEliminarMiguel Saavedra, sou um seu verdadeiro admirador, para quando a novela completa do: Príncipe, Princesa, restante Corte, Cura Vaz, e o Sancho Pança a gerir isso tudo lutando contra os moinhos de vento. Vá escreva as novela toda. O povo agradece.
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