18 de abril de 2020

25 de Abril sempre. Sempre.





Numa manhã de sol como a deste sábado, há uma nuvem que paira no espaço público e mediático. Baixou um espírito de indignação nuns quantos a propósito da decisão - conhecida estes dias - de manter a cerimónia evocativa do 25 de Abril na Assembleia da República.
O melhor dos argumentos saiu da boca de João Almeida, aquele rapaz do CDS que não se revelou de direita o bastante para chegar a líder: Ora se não comemorámos a Páscoa, porque vamos comemorar o 25 de Abril? Há quem goste de confundir a beira da estrada com a Estrada da Beira, e quanto a esses não podemos fazer muito mais que apelar aos crentes (como o 'nosso' João Antunes dos Santos, agora no patamar cimeiro da JSD distrital, que pede perdão a Deus mas diz que sabe bem o que mereciam os que decidiram manter a cerimónia) que rezem muito, batam tantas vezes com a mão no peito até lhes sair a Grândola. 
Há outros, porém, mais comedidos nos argumentos: como é o Governo tem a lata de pedir confinamento, de proibir ajuntamentos, e agora leva 130 pessoas para dentro do hemiciclo. Convém lembrar que esse número não andará longe do mesmo número de deputados, assessores e outros actores que no último mês se têm reunido naquele mesmo espaço, para aprovar as medidas que têm permitido o lay-off simplificado, por exemplo, que alimenta os escritórios de advogados por estes dias, que permite a muitas empresas sobreviverem - e a outras, que as há, a aproveitarem-se mais uma vez do Estado. Tal como há oito anos, a propósito da intervenção da Troika, também agora a pandemia se tem revelado uma senhora de costas muito largas. Mas disso teremos tempo para falar, nos tempos que aí vêm. Por hoje, falemos de Abril. De como para muitos a cereja no topo do bolo seria passar por cima da data, como se fosse domingo de Pascoela ou Dia da Espiga. 
Num tempo como o que estamos a viver, em que saíram do armário tantos agentes da autoridade, sempre pontos a apontar o dedo às compras do vizinho, a ditar o que são bens de primeira necessidade, a moralizar comportamentos do outro, é imperioso que se assinale a data. E que nesse sábado de Abril a casa da Democracia possa - com as devidas precauções, como é indiscutível - lembrar que a liberdade ainda está a passar por aqui, mesmo que para desgosto de muitos. 
De Pombal, continuamos sem notícias. Mas daqui nunca esperámos milagres.

5 comentários:

  1. Paula,
    Em boa hora “postaste” sobre esta polémica - a cerimónia evocativa do 25 de Abril na Assembleia da República – porque o post e a polémica são muito esclarecedores. E (nós) precisamos tanto disto, de CLARIFICAÇÂO.
    A polémica gira em torno de duas premissas: Liberdade e 25 Abril (Revolução). A pandemia e as suas consequências são, neste caso, nesta polémica, puramente secundárias; um catalisador da polémica, ou seja, da clarificação.
    Na verdade, as pessoas dividem-se nas que amam a Liberdade e nas que não a valorizam ou a detestam. Sim: há pessoas que detestam a Liberdade. Tal como há pessoas que rejubilaram com a Revolução, e pessoas que nunca a aceitaram.
    Daqui se compreende que numa situação extrema - Estado de Emergência - tenha vindo à superfície a natureza das pessoas – as suas crenças, os seus valores, os seus princípios. Há mal nisto? Não, simplesmente clarificação.
    Pode comparar-se as cerimónias da Páscoa com a cerimónia evocativa do 25 Abril? Pode! Mas por pessoas diferentes.
    Depois, convém lembrar que há datas e eventos que têm um enorme simbolismo. Eventos e datas que são comemorados em qualquer circunstância, mesmo debaixo de fogo (há vários exemplos na 1.ª e 2.ª Guerra Mundial). Mas não por todas as pessoas. Mão não pelas mesmas pessoas.

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  2. Enviado pelo "comentador" Manuel Serra:

    "Muito bem, ficamos a saber que há opiniões para todos os gostos e sentires; fica-me aqui uma dúvida que gostaria algum dos masters respondesse.
    Então e o "jantar do Farpas ao 24?" Não se arranjou uma dispensazita? Podiam solicitar a Expocentro, meses de 10 para 4 distantes para ai 4m umas das outras, self-service ordeiro com 3m entre convivas e pronto comemorava-se mais um aniversario do Farpas...
    Mas entre Pascoa e 25 de Abril, entre sessão solene e dia do trabalhador, esqueceram-se do aniversario do Farpas??
    Mas onde andam com a cabeça os masters que na preocupação de criticarem os outros se esquecem das comemorações próprias?
    Fica a farpa desiludida na própria casa das ditas!
    Um abraço"

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  3. Amigo Serra,
    Bem gostaríamos de comemorar 12 anos de farpas – é OBRA! – e a Liberdade, como bem sendo regra. Mas quando nem a Liberdade e a Revolução querem que se assinale; imagine o escândalo que seria o Farpas meter-se agora em festejos. Íamos presos. E seríamos excomungados. Por uma boa causa.

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  4. Num Concelho que se comemora o 25 de NOVEMBRO, não ha nenhum drama em ficar ESQUECIDO o 25 de Abril. Pombal uma terra em que ha um grupo de Excursionistas ao Vimieiro todos os anos o 25 de Abril nunca foi festejado com grande animação pelas elites que nos governam...e o povo também pouco se preocupa, votam nos netos do antigo regime...

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  5. Finalmente um texto da Paula que me convenceu! normalmente bla, bla, bla...mas hoje sim. Apesar de saberem que eu defendo a cor laranja, tb é certo e jà o escrevi que nas ultimas eleicoes tenho votado em branco pq nao me revejo nas pessoas que estao na AR nem à direita nem à esquerda. Sao os politiqueiros mediocres da nossa praca, incluindo os do nosso concelho - falo dos "meus" que me levam a estas intervencoes! Um bom 25 de Abril em Casa! Cumprimentos!

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