Agora que por lá ando todos os dias, à procura de uma vida normal, dou comigo a surpreender-me amiúde, em cada esquina, em cada rua, em toda a cidade afinal. Quando dali saí, há coisa de 9 anos, igualmente grávida e cheia de esperanças de e para Pombal, aquela terra era outra, sim. Talvez seja a isto que se chama visão, estratégia, pensar à distância. Leiria andou rebentada por dentro e por fora durante vários anos, por uma operação chamada POLIS, mas valeram a pena os tormentos. A intervenção generalizada que a malha urbana sofreu tornou-a numa cidade onde apetece andar e viver.
No regresso a casa, enquanto me convenço a mim mesma que é preciso acreditar,interrogo-me vezes sem conta sobre o que nos falta, afinal, para que o concelho humanista e solidário que ganha prémios floridos de cidade saudável deixe de ser uma obra de ficção. Repito para mim mesma que esta terra poderia ser um brinquinho, que aqui até seria mais fácil. Lembro-me das conversas entusiastas, da gente de valor(es) com quem aqui privei, da visão empresarial que aprendi a admirar. E a compreender porque é que, afinal, é tantas vezes longe daqui que brilham as pepitas douradas desse potencial. Foram sempre conversas emsombradas pelo betão armado, pela mármore fria, pelo tijolo decorativo.
Os anos passaram e Pombal não tem um parque verde. O meu filho fez-se rapazinho e tudo o que consegui dar-lhe, em Pombal, para brincar, foi um parque infantil tardio, uma rampa de skate e um sintético para jogar à bola. Mas isto não é um subúrbio de capital. E eu juro que não sonhei que um dia me apontaram localizações de jardins, num rol de boas intenções que foram sendo sucessivamente engolidas não só por urbanizações que incharam, mas como pela ânsia de agradar ao colectivismo, esquecendo assim o colectivo.
Bem sei que a piscina sim, que o teatro-cine (isto dava outro post) também, que a biblioteca pois, que o centro cultural (?), é isso. Mas a recuperação/construção de todos estes equipamentos poderá considerar-se visão? Estratégia? Ou deveremos chamar-lhe cumprimento do dever, do plano, decorrente da obrigação que têm esses senhores para com todos nós - que pagamos isto?
Nesse capítulo, talvez a recuperação da Praça Marquês de Pombal escape. Em parte, diga-se. Porque de nada vale gastarmos os cobres todos em infraestruturas se não pensarmos na sua utilização, na sua vida.
Quando a tarde entra na noite e deixo para trás aquela gente que caminha, corre, respira ao longo do corredor ribeirinho do Lis, que se estende até ao marachão, não me conformo com os escombros do bairro cigano junto ao Arunca. Porque nós também podíamos, porque nós também acreditámos tantas vezes. E temos esse direito de querer, de sonhar, sabendo que não estamos a pedir a lua. Só um bocadinho de verde, caramba. De visão, de estratégia. De futuro. Para que esta seja a terra onde apeteça voltar e não aquela que, sem saber, também inspirou a canção de AdrianO: "Este parte, aquele parte..."
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