2 de junho de 2009

Só neste país

Existe uma enraizada mania nacional que consiste em dizer, por tudo e por nada, mal do país. Como diz Sérgio Godinho no seu mais recente álbum: só neste país é que se diz "só neste país, só neste país".

Este exercício de estilo, aparentemente inofensivo, contribui, em larga medida, para o estado de depressão colectiva em que nos encontramos. Não quero com isto dizer que não existam motivos válidos para justificar a nossa descrença. Existem, não são poucos e alguns deles também me desmotivam e me fazem pensar que não vale a pena acreditar no nosso sucesso como nação. Mas, numa altura de eleições, de consagração de democracia e de exaltação da cidadania participativa, esse exercício deveria ser evitado.

Portugal é um país essencial à construção europeia e tem aí um papel importante a desempenhar. Mas, para isso, temos que acreditar nas nossas capacidades, nos nossos valores e procurar estar no centro de todas as decisões, de forma activa e participante.

Acabei de chegar de uma viagem de trabalho à Suécia e Dinamarca. Em ambos os países encontrei grande indiferença em relação à campanha eleitoral. Não vi cartazes nem pessoas empenhadas em discutir a Europa; nas televisões falou-se mais sobre a Susan Boyle (não ganhou, coitadinha…) que nas eleições do dia 7. Os nórdicos podem até ser mais cultos, organizados e loiros que nós mas não têm a nossa paixão, a nossa imaginação (conseguimos ver no Vital Moreira o elo perdido que liga o Gepeto ao Avô Cantigas), o nosso espírito inventivo e de desenrasque.

A riqueza da Europa está nessa multiculturalidade e é nisso que eu acredito.

5 comentários:

  1. Boas Amigo Adérito;
    Há razões objectivas para que tal aconteça.
    Em 1.º lugar a própria forma de encarar a politica, de forma mais responsável.
    Em 2.º lugar porque são um povo economicamente mais forte, logo em vez de receber passam a ser um povo pagador.
    3.º lugar culturalmente mais interessados em problemas mais próprios do que dados a participar no bem comum.
    Assim não é dificil verificar a frieza com que estão a encarar este acto eleitoral.
    Mas há algo que é muito igual, a tendencia para deixar uns quantos decidirem o futuro de muitos.
    É pena e poderá ser até perigoso não estar interessado nesta construção de uma Europa a 27.
    Mas como também diz o Sérgio Godinho: "cá se vai andando com a cabeça entre as orelhas" e estas ultimas por cá vão estando bem abertas por lá nem por isso.
    Para rematar e de novo com o Sérgio Godinho:
    "Cuidado Casimiro, cuidado com as imitações."

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  2. Sabes, Adérito, acho mesmo que isto é tudo por causa de sermos muito paixonados pelas coisas, sim. E é por isso, se calhar, que sofremos mais e nos desencantamos mais. Mas antes assim, claro. Prefiro-me portuguesa a Sueca, indubitavelmente. Só lhes invejo a altura, eh eh.

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  3. Eu recuso-me a dizer mal das suecas (não desfazendo, cara Paula)!
    Quanto à postura "euro-assim-assim", ou "euro-tou-me-borrifando", creio haver várias razões genéricas, que afectam tanto suecos como portugueses (e que acrescento às que o Carolino já identificou:
    1) A Europa deixou de apaixonar as populações (longe vai o tempo em que se olhava para a construção europeia como um milagre económico que nos potenciava a todos);
    2) Da imagem de uma CEE que dá milhões, passou-se para a imagem de uma UE que penaliza em milhões;
    3) Objectivamente, estamos a votar para coisa nenhuma, como identificava o António Barreto ontem à noite, na SIC Noticias: o parlamento europeu está esvaziado de funções, e na prática nem sequer elege a comissão, que é quem vai determinando os rumos da União Europeia. Como sabem, ela é, na prática, eleita pelos governos, e não pelo PE;
    4) As elites politicas da UE estão muito distantes do povo, que não lhes conhece as acções, e portanto não lhes reconhece méritos.

    Claro, em consequência disto, não se discute EUROPA nas campanhas. Não posso criticar os partidos, duvido que aquele que discutisse a Europa teria um forte "castigo" nas Urnas, porque andaria a falar sozinho durante toda a campanha.
    Quanto a mim, urge uma de duas coisas: devolver as instâncias politicas europeias ao povo (mostrando-as, e definindo bem as competências de cada uma delas), ou abandonar esta eleição e passar a uma nomeação (que poderia emanar dos parlamentos nacionais), e que não me pareceria menos dotado de representatividade. Fica a sugestão... enquanto isso, contentemo-nos (e sem sair do contexto "Sérgio Godinho") contentemo-nos com estas "Dietrich's que não foram nem Marlenes".

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  4. Ao contrário do que tenho escutado por aí, penso que os candidatos que se apresentam em Portugal a estas eleições europeias foram muito bem escolhidos, uma vez que representam fielmente aquilo que é a nossa classe política. Aliás, a avaliar pelos discursos e debates sem ideias, será de esperar um record no próximo domingo da abstenção, que deverá ser quase tão grande como a falta de credibilidade dos políticos em POrtugal.

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  5. Também me parece que a abstenção vai ter um resultado épico! Por isso estou esperançado... o eleitorado CDU, mais militante, vai faltar menos à chamada. Ainda vamos eleger 4 eurodeputados, Filipe. E depois, levo-te à festa do Avante e ainda te converto para o mundo "da luz"! ;)

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