Salazar morreu a 27 de Julho de 1970, fazem hoje precisamente 40 anos. Digo eu, ainda com uma convicção juvenil de que me orgulho: não faz falta à nação! (Deixem a pontuação tal e qual como está.)
O perverso nisto tudo é que ainda existem saudosos, que não raras vezes imploram por um novo Salazar. O triste concurso da RTP fez dele "o maior português de sempre", em 2007. Estas perplexidades devem fazer-nos pensar. A única conclusão a que consigo chegar é a seguinte: muito mal anda a nossa classe política, para que um sujeito (regime?) odiento como foi (o fascismo de) Salazar ainda deixe saudades.
Odiento mas honesto... Que nos trouxe realmente a chamada democracia post 74? Trafulhas, ladrões, corruptos e outros que tais. Se tivesse que escolher entre honestidade e democracia, eu escolhia honestidade!
ResponderEliminarSaudações.
No Expresso deste fim-de-semana, um ensaio interessantíssimo de Rui Ramos sobre Salazar e o seu lugar na História. Para não variar, quem sofrer de esquerdite aguda não o leia, sob pena de algum ataque cardíaco. Quem tiver interesse genuíno na nossa História, faça o favor.
ResponderEliminarSobre o personagem, apenas uma ideia (é uma coisa que eu tenho com ditadores, venham eles de onde vieriem): que a terra lhe carregue em cima.
Professor, ainda que tenha sido honesto... e de facto não são conhecidos casos de enriquecimento pessoal... isso não apaga as outras atrocidades.
ResponderEliminarPara além disso, há todo um estilo. Li recentemente várias súmulas de textos de Salazar (politicos, sociais, finanças públicas,...), e há ali um provincianismo que nos marcou enquanto povo. Ele foi um filho da terra, como é evidente, e "cuspiu" o provincianismo que herdou, que lhe veio no sangue e na educação. Mas promoveu-o, criou sementes desse mesmo pensamento acanhado. Posso até concordar que talvez Salazar tenha sido um "bem intencionado" (que julgasse verdairamente que estava a fazer o melhor pelo seu país), mas nada justifica 4 décadas de ditadura,e tudo o que ela nos trouxe.
O referido texto pode ser lido aqui:
ResponderEliminarhttp://portugaldospequeninos.blogspot.com/2010/07/salazar-na-historia.html
Recomendo.
8500 mortos "nossos"
ResponderEliminarMultiplicado por n vezes nos "outros" nº desconhecido e as estimativas variam muito
Só isso chega para ocultar toda a honestidade.
O meu problema é que também sou um provinciano relativamente culto (tenho lido umas coisitas..)Daí, o achar que o provincianismo não tem nada de mal...
ResponderEliminarÓ Alegria2, não quantifique mortos... Se não nunca mais paramos, de Estaline, à CIA, passando por todos os outros dementes que desde a Antiguidade têm subjugado os povos...
História Política = História Universal da Infâmia.
Saudações.
Companheiros, boa noite.
ResponderEliminarTinha eu 20 anos quando fui ver passar o Comboio Presidencial com os restos mortais do Dr. António de Oliveira Salazar aqui mesmo em Albergaria.
Vi e vimos muitos passar a batedora (a tal máquina que vinha à frente do comboio para o proteger) e lembro-me que já não havia fome (durante a II Grande Guerra havia racionamento – filas e filas para o pão) e só o que nos amedrontada eram os “informadores” da PIDE/DGS.
Nunca, em boa verdade, vi nenhum.
A história está contada, cientificamente, e a única nódoa foram as guerras de África.
Os cofres do Banco Central estavam cheios de ouro.
Reconheço que o último carregamento da África do Sul não chegou cá.
Diplomacias?
A França, por exemplo, portou-se muito pior do que nós.
Quem não conhece, ainda hoje, nenhum francês pé descalço ou pé negro?
Agora seriam necessários 2 Salazares para colocar ordem no País.
Mesmo que tivessem a alcunha do “botas”.
Abraço.
Vejam bem as cambalhotas que é preciso dar para transformar um maoísta em fascista/Salazarista!
ResponderEliminarProfessor, você não me parece (de maneira nenhuma) um provinciano. Ainda assim, aceito (mas não concordo) que simpatize com o pensamento social e conservador de Salazar. Parece-me é que ele (esse pensamento) não projecta, nem na prática nem idealmente, um país para o futuro, para aquilo que eu acredito poder ser um país mais justo e evoluido.
ResponderEliminarQuanto à necessidade de 2 Salazares (agora para o caro Rodrigues Marques), valha-nos a pilinha do menino jesus (citando o poeta)! Se houvesse justiça divina, os que o proclamam deviam ser obrigados a "gramar" com o pedido.
Não havia fome, antes de 74? Só se foi em Albergaria... para estes lados, havia! As pessoas andavam descalças, havia 2 ou 3 pessoas por aldeia que sabiam ler e escrever, e... não era nesse tempo que uma sardinha dava para 2 ou 3, e era refeição farta?
Poder-me-á dizer é que as pessoas andavam tão "tapadinhas" que bastava o cheirinho à sardinha para ficarem satisfeitas, e como não conheciam mais nada... ía chegando. Mas é precisamente a essa mentalidade que eu chamo de "provinciana" (retomando o assunto com o professor). Nada que se relacione com a cidade ou a provincia, mas tão somente quanto ao alcance da vista.
Sinceramente é peditório que me enerva. Povo que só se governa em brandos costumes e com homens providenciais, não podia estar muito melhor que hoje. Salazar nem fruto do seu tempo seria, mas do contexto da I República (outro mito da nossa História). Lamentável é viver 40 anos numa ditadura que, mal grado algo de bom em termos de estrutura (mas mal seria, já que até os nazis tinham auto-estradas e os italianos comboios a horas), arrastou-nos para uma guerra que politicamente era inviável e atascou-nos. Que a terra lhe pese muitas vezes, repito e trepito. 2 Salazares? Nem meio sequer. Bastava ter uma classe política que soubesse o que é a gestão da res publica, um povo que exigisse de quem o representa o que exige de uma equipa de futebol e uma seriedade na sua própria actuação (ainda hoje, doentiamente desvirtuada pelo próprio princípio salazarista da bufaria). Apagar Salazar da nossa História é um erro. Endeusá-lo outro. Foi o que foi: um fruto das circunstâncias que as soube moldar mantendo-se até estar, literalmente, comatoso. Ele e o País. Não será o único culpado, mas é dos maiores. Querer voltar a esse tempo com um sorriso beatífico nos lábios é típico de quem troca liberdade por segurança. E todos nós sabemos onde esses caminhos acabaram.
ResponderEliminarCaros companheiros farpistas, peço-vos o favor de verem o pequeno vídeo que publiquei hoje no meu blogue.
ResponderEliminarTalvez, assim, percebam porque não acredito na política, na religião, no exército, na economia, nem na comunicação social. Nem em mim mesmo devo acreditar!
Saudações
Caro Gabriel Oliveira, como sabe eu tenho um grande idiossincrasia com o facto de se recordar a data da morte de uma pessoa, principalmente quando se trata de pessoas que estão imortalizadas por fazerem parte da história. No entanto, admito que neste caso, achei muito interessante ter feito referência a esta efeméride. Acredito que a morte de Salazar foi um alivio para a maioria dos portugueses, excepto para aqueles que beneficiaram com a sua actuação.
ResponderEliminarSe as pessoas não se acautelarem e mantiverem esta postura comodista, os que têm saudades, correm o risco de a curto prazo terem o prazer de efectivamente "matar saudades" do regime em questão.
Caro Gabriel Oliveira,
ResponderEliminarNo fim de todos os comentários que li, onde subscrevo vivamente as palavras do Senhor Professor ainda que não tenha vivido nesses tempos os relatos que tenho cá de casa e de muitos amigos nossos em nada se comparam com as tremendas atrocidades cometidas pelos amigos do 25 do 4...
Agora estamos sujeitos a uns sujeitos um bocado atrevidos que pontificam por todo o lado! E sujeitas ainda mais.
"Ó Alegria2, não quantifique mortos... Se não nunca mais paramos, de Estaline, à CIA, passando por todos os outros dementes que desde a Antiguidade têm subjugado os povos..."
ResponderEliminarAi conto conto, só assim é que esses nunca serão esquecidos( e os nossos mortos e vivos foram tão esquecidos).
Agora uma anedota(UM BOCADO MACABRA)
Quem matou mais comunistas hitler ou estaline??
R: Estaline
Caro Professor,
ResponderEliminarNão posso estar mais em desacordo. Desonestos existirão em todos as actividades e regimes. A grande virtude e vantagem da democracia é que se pode falar deles, denunciá-los, e querendo, fazer-se o seu julgamento, podendo o povo retirar-lhes o poder se o tiverem.
Nas ditaduras nada se passa assim. A desonestidade é intrínseca a qualquer exercício do poder assente na coacção e repressão. As desonestidades, sejam de que natureza forem, são encobertas, e por vezes, consideradas "razão de estado".
Salazar manteve este país cativo e na miséria e os portugueses vergados na sua dignidade de não serem considerados capazes e livres de escolher o seu destino e o do país. O Sr. Prof. testemunhou bem essa realidade. Soube, por exemplo, o que foram as "Migrações dos Ratinhos" - de que hoje ainda resta o estigma com que pretendem diminuir os Pombalenses, referindo-se a Pombal como sendo uma terra de "fenómenos"- e sabe o que foi o flagelo da emigração, a maior parte das vezes a salto, porque o regime nos queria presos na ignorância e na miséria. Como professor, tem ideia de quantas pessoas na sua freguesia conseguiam, até aos anos 60, fazer a 4ª classe, a ter acesso a um par de sapatos e a um banho semanal? Porventura nenhum ou muito poucos.
Estudos feitos com base em sólida documentação demonstram que Salazar nem do ponto de vista da probidade foi tão honesto como o pintam. Houve, por exemplo, muitas jóias e agrados para as amantes suportados pelo tesouro público. Não fez fortuna pessoal à custa do Estado. Tolerou, todavia, que muitos dos seus próximos o fizessem impunemente.
Houve algum crescimento económico, mas aquém do crescimento do resto da Europa destruída pela guerra, mas beneficiária de um plano Marshal e que soube descolonizar com oportunidade, enquanto por cá a guerra colonial consumiu pessoas e recursos que já não tinhamos.
Também não concordo com essa visão branqueadora do suposto provincianismo de Salazar. Provinciano sou eu por nascimento, com muito gosto e por opção. Salazar, bem pelo contrário, à medida do seu tempo, foi um homem culto e inteligente que bebeu na cultura política dominante no mundo desse tempo: os totalitarismos nacionalistas inspirados, entre outros, em Pio X ( o Papa do panteão do Tiago-Louriçal), Maurras e na Action Francaise. Mesmo do ponto de vista estético e cultural, um ditador que se rodeou de ideólogos e homens de acção como António Ferro e Duarte Pacheco, não podia ser um simples provinciano. Estes estavam perfeitamente a par e envolvidos com as vanguardas do seu tempo. Aliás, esse foi o mérito ou a esperteza de Salazar, que soube atrair as elites desse tempo em nome de uma “Nova Ordem”de suposta grandeza e glória nacionais, a começar pelos “Jovens Oficiais” (Ex. Henrique Galvão, Humberto Delgado, etc.) que apoiaram o Sinel Cordes e o Afonso Costa no golpe de 28 de Maio para acabarem com a “decadência” e a instabilidade dos governos republicanos e abrindo caminho para a ditadura do Estado Novo .
(...)
(...)
ResponderEliminarA nossa democracia deu lugar a muitos oportunismos e a algumas grandes desonestidades. Mas, ainda assim, melhorou as condições de vida e a dignidade de Portugal e dos Portugueses. Por muito mal que as coisas por vezes corram, mesmo por comparação com os aspectos mais vantajosos da ditadura, a democracia tem sempre a supremacia moral de ser o povo – mesmo quando nos parece escolher mal - quem mais ordena.
Salazar foi um ditador que se manteve no poder mais de 40 anos, tendo perseguido, torturado e morto os seus opositores pelo simples facto de o serem. Chamar honesto a um homem que isto fez é desqualificar a substância da Honestidade da quase generalidade dos portugueses, dos homens bons e dos cidadãos sérios.
Nenhum ditador pode ser honesto. Nem a brincar! Porra!
Li este outros artigos do Rui Ramos sobre assunto. Acho-os muito pouco factuais, e mais do que justificadores da ditadura, procuram sobretudo, colocar em causa as mudanças e transformações que o 25 de Abril introduziu no Pais.
Aos ditadores, como diz o João Alvim: que a terra não lhes seja leve e que os consuma de vez.
Tiago-Louriçal,
ResponderEliminarMuito estranho esta sua pouca afeição pelas sujeitas. Um conselho, se me permite. Talvez ousando mais com as deste género, descubra que, no mínimo, elas são iguais aos do seu e do meu género. Mais, estou convicto que, se tiver a ousadia de ir insistindo na experiencia, talvez se convença que não há melhor género. Deixe-se disso, meu caro Nobre. Olhe que a Senhoras lá de casa e a Srª Embaixadora sua amiga não devem partilhar dessa mesma opinião, de serem umas pontificantes sujeitas! Serão?
Boa tarde
ResponderEliminarApós a leitura de todas estas opiniões, sempre respeitáveis, não resisto a esclarecer algumas coisas com factos históricos inegáveis e que permitem esclarecer os mais novos.
Decorria o ano de 1908 quando ocorreu regicídio. No período entre 1908 e 1926 houve várias revoltas monárquicas para reestabelecer a monarquia e imperou o tribalismo com a consequente lapidação das finanças públicas.
Em 1926 houve um golpe militar e Salazar é convidado para assumir a pasta das finanças, aceita e renúncia pouco depois por considerar que as finanças estão incontroláveis.
Em 1928 Marechal Carmona consegue um empréstimo externo considerável e convida novamente Salazar para a pasta das finanças e este aceita o cargo com certas exigências entre elas o controle absoluto das despesas públicas. Ao final do primeiro ano consegue um facto inédito: SUPERAVIT orçamental, facto nunca visto desde o fim da monarquia.
O êxito foi tal que inviabilizou todas as tentavas de golpe de estado e permitiu-lhe fundar a união nacional em 1930 e uma governação de partido único. Com a guerra mundial apareceram os movimentos fascista e hitlrianos e este inviabilizou-os prendendo os seus líderes e manteve a neutralidade.
Em 1940 a França é invadida por Hitler e, Salazar, consegue mais uma vitória: a neutralidade, nos anos de 1941, 42 e 43, permite aumentar o superavit .
Portugal aderiu à Nato em 1949 e foi membro fundador da EFTA em 1960 o que nos permitiu o crescimento da balança comercial em exponencial até 1972, o comércio externo quadriplicou.
Salazar encontrou o Estado sem dinheiro, sem rede estradas, fundamental para o desenvolvimento, sem escolas e sem projecto de ensino. no final da década de 40 criou uma rede de escolas e tornou o ensino primário obrigatório.
Depois de 1972 o que aconteceu? Muita coisa certamente e entre elas o esbanjar de dinheiros públicos, o decréscimo da balança comercial, o aumento de déficit em exponencial que só nos últimos 20 anos aumento 2o vezes mais, aumento dos ladrões de colarinho branco, a justiça está como todos sabemos, a culpa morre sempre solteira, etc.
Senhor Jorge Ferreira,
ResponderEliminarAo ler o meu post pretendia salientar aquelas que ultrapassam os "deveres" de mulher, não estava a referir as que dão lustre ao género.
(Continuação)
ResponderEliminarSalazar, quando assumiu o poder, não tinha dinheiro, estradas e muito menos autoestradas nem ensino público. Deixou à democracia uma pesada herança, veja-se toneladas de ouro no banco de Portugal, as contas públicas controladas e uma moeda forte quanto baste. Nunca se fez tanto asfalto em Portugal como durante o seu governo, mandou construir uma das maiores pontes da Europa e iniciou a rede de auto estradas que hoje existe, mandou edificar escolas e tornou o ensino primário obrigatório.
Ao dizerem que promoveu o obscurantismo fazem uma afirmação barbara francamente oposta a realização da rede escolas no País. Podem questionar a qualidade de ensino mas este era o princípio de um ciclo cujo início se impunha.
Caros utentes deste blog tirem as vossas conclusões que eu vou fazer um estudo comparativo do crescimento do nosso déficit nos últimos anos.
Essa do ensino primário obrigatório não chegou lá às Cavadas, caro DBOSS... mas tb lhe digo que não fez mais (aliás, fez muito menos) que a sua obrigação. Quer que lhe conte dos avanços feitos nos 40 anos seguintes (e ainda faltam 4)? Em termos de kms de autoestrada ou de "ensino obrigatório"? Meu caro, nós em 1974 estávamos melhores ou piores que os nossos congéneres europeus? E a quem devemos responsabilizar, senão a quem exerceu o poder durante mais de 40 anos?
ResponderEliminarMas regresso ao ponto que o Jorge narrou e muito bem: até podíamos ser os maiores ricaços deste mundo e do próximo, que o facto de exercer ditatorialmente o poder não pode ser justificado com números. Perdoem-me o "bacocamente bucólico" exemplo, mas pergunte ao "pardalito" se prefere andar livre ou se prefere viver preso numa gaiola de ouro...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarAinda assim, aceito (embra não compreenda!) que você troque a sua liberdade por um défice mais baixinho. Ou um superavit que fosse...
ResponderEliminarBoa tarde!
ResponderEliminarCaro Gabriel eu apenas realcei aquilo se fez e o facto de as finanças públicas estarem falidas, que não havia dinheiro nem escolas nem estradas e, como sabe, Roma e Pavia não se fazem no mesmo dia.
Salazar quando saiu ainda deixou algum dinheiro para estes esbanjarem e proporcionarem o enriquecimento sem causa aos amigos.
Limitei-me a realçar o que foi feito para avivar a memória de alguns e o Sr. apenas têm a seu favor o chavão viva a Liberdade que, em abono da verdade, é excelente mas apenas alimenta o nosso ego.
Para os que insistem no génio de Salazar aqui vai um texto que mostra que isso não passa, na sua maior parte, de um mito bem propagandeado.
ResponderEliminar“(…)
e) OBSERVAÇÕES FINAIS
4.6 A evolução do sector público, do equilíbrio para o fomento, e o crescimento
da concentração financeira para o novo sector público, da ortodoxia para
as políticas financeiras, no tempo de Salazar como nos tempos «modernizantes»
de Marcelo Caetano, conduz, afinal, a orçamentos que estão globalmente desequilibrados
e em quaisquer outros países assim seriam considerados. Com
efeito, nas primeiras gerências dos anos 30, a adopção do novo conceito de
equilíbrio orçamental, que levava a considerar receitas os rendimentos dos
empréstimos, desde que fossem utilizados apenas para cobrir despesas extraordinárias,
não impedia a apresentação de contas públicas equilibradas segundo o
critério tradicional (despesas totais — rendimentos do Estado ou receitas efectivas).
Contudo, a partir dos anos 40 deixa de ser assim. Os orçamentos «equilibrados
» segundo o critério do orçamento ordinário estariam afinal globalmente
desequilibrados (ligeiramente até aos anos 60; mais acentuadamente a partir de
então) 23.
O «mito» político do equilíbrio era assim preservado —mesmo que a realidade
fosse o desequilíbrio substancial. E a isso se dava alto significado político,
como prova anual de normalidade e regeneração, mesmo quando a economia
semimodernizada com ele entrava em choque. O equilíbrio é, em finanças,
expressão maior da visão do mundo conservadora: ao menos, este equilíbrio o
foi em Portugal...
A ortodoxia financeira, por outro lado, tinha um conteúdo restritivo, neste
domínio como no cambial: a prioridade do rigor financeiro — nas finanças
públicas, na banca e mercados financeiros, na política monetária e cambial - foi
um estrangulamento ao incremento das trocas com o exterior, ao investimento e
à modernização do País, através de serviços sociais e educacionais. A ortodoxia
financeira era mais uma razão — ou um forte pretexto— para recusar o desenvolvimento
e a modernidade, ou para os aceitar em termos de «do mal, o
menos».
A guerra colonial, em princípio, deveria provocar forte abalo no referido
modelo, a par do abalo do alargamento do sector social e do sector empresarial
do Estado, que o esforço de uma modernização contida também ia aumentando.
Todavia, se aumentou, pelo agravamento das despesas militares, o recurso ao
crédito público e se pôde notar-se um agravamento da fiscalidade e da parafiscalidade,
a verdade é que o sistema resistiu às pressões modernizantes da fase do
marcelismo, em que já se mostrava anacrónico. Ele rebentaria talvez se a lógica
desenvolvimentista e tecnocrática da fase de 1969-74 pudesse chegar ao fim:
mas, como não chegou...
Por outro lado, sob o Estado Novo, surge-nos em toda a força o dirigismo
como quadro da recomposição do aparelho de Estado na forma corporativa e da
integração autoritária das classes ou grupos de interesses (1930-50): o dirigismo
como quadro da industrialização protegida, da nova expansão colonial, da
decadência da agricultura e da expansão financeira e comercial. Dele nasce o
modelo do «desenvolvimento tímido» dos anos de 1950-70, com seus factores de
travagem: a crise da agricultura, o atraso cultural e tecnológico, a emigração, a
falta de perspectivas inovadoras de desenvolvimento, a obsolescência dos
instrumentos da fase anterior e a guerra colonial. No fundo, um compromisso
financeiro entre conservadorismo e progresso que ficou a meio caminho e veio
redundar a Revolução...24 (…)
António de Sousa Franco in Análise Social
(...)
(...)
ResponderEliminarAos que insistem no mito de Salazar, agora que se comemora o centenário da Republica, talvez descobrissem que houve governos, mesmo do “famigerado” Afonso Costa, que conseguiram, sem controlo e repressão ditatorial, algum equilíbrio financeiro. Se quiserem ver os números com rigor, verificarão que os equilíbrios orçamentais eram “maquilhados” e que os superavit financeiros ocorreram apenas ocasionalmente em resultado da neutralidade na 2ª Guerra que nos permitiu a acumulação do mitificado ouro, e depois, em geral, com as receitas dos emigrantes.
Sejamos intelectualmente honestos, vamos ao mundo real, e informemo-nos com viviam os nossos avós e pais. Que casas tinham? Como era a sua alimentação e a higiene nesses tempos? Como eram as comunicações? Como se lavavam, calçavam e vestiam? Como era a sua infância e acesso à escola? Como era a sua vida de trabalho? Façam estas perguntas e depois respondam se o Salazarismo foi uma época de ouro, de abundância e de felicidade para a generalidade dos portugueses e para os pombalenses em particular.
Também do ponto de vista das obras e infra-estruturas, comparem os 48 anos da ditadura com a repressão e os sacrifícios impostos aos portugueses com os 36 anos da democracia. De que lado está a vantagem? Quem fez mais pontes, auto-estradas, estradas, escolas, universidades, hospitais, etc.?
Quero lembrar que ninguém roubou ouro nenhum. Na sua maior parte continua sobre a gestão do Banco de Portugal. Algum foi alienado em momentos considerados oportunos e prudencialmente adequados como sucede com qualquer outro recurso financeiro disponível. Acabado o “padrão-ouro” o ouro entesourado, não sendo usado financeiramente, não passa de um metal raro e inerte.
É certo que, como parece ter agora acontecido com a Câmara de Pombal, existem deficiências de controlo e desvios de dinheiros públicos, mas na ditadura também os houve (Alves dos Reis) e com a conivência de figuras do regime que os tentaram encobrir e perseguiam quem os divulgava e criticava. Hoje esses acontecimentos tornam-se públicos, todos os podem discutir, criticar e exigir responsabilidades (quando as há) politicas a quem as tiver, o que nos dá uma panorâmica substancialmente diferente das coisas.
O meu ego não se alimenta de chavões, os factos reais que mencionei não foram desmentidos nem abordados, apenas contraposta respeitável opinião contrária, que não corresponde, de todo, com a realidade. Salazar continuou a deixar-nos, pobres, ignorantes, isolados do mundo e em guerra. No mesmo período a Europa democrática recuperou de uma guerra que a deixou quase totalmente destruída, equilibrou os seus orçamentos, a economia cresceu mais e sustentadamente, redistribui riqueza e construiu um Estado Social que nós só conseguimos construir, de forma significativa e universalizante, com a democracia.
Depois, a LIBERDADE, meus caros amigos, é o valor fundamental que nos faz, ab initio, assumir a condição de Homens. É essa a relevância do nosso “Pecado Original” e a originalidade que dá dignidade às nossas vidas. Sem essa exigência de LIBERDADE em todos os nossos actos será a lei do mais forte a imperar perdendo-se todo o sentido dos Direitos do Homem e do Cidadão, o que não é nenhuma ligeireza despicienda
Um abraço e até pr`a semana em Pombal
A Liberdade é para mim muito mais que um chavão, caro DBOSS. Mas até aceito os seus critérios: comparemos os kms de estrada feitos, a escolarização do povo... que mais? Sim, no défice ganha Salazar, mas a que preço?
ResponderEliminarBoa tarde!
ResponderEliminarCaro Gabriel não há regimes perfeitos, a meu ver, saliento aspectos fundamentais:
- Finanças públicas descontroladas, fruto das quedas sucessivas de governos, após regicídio em 1908.
- Não havia rede de escolas nem ensino obrigatório.
- Não havia estradas, a Nacional 237, Louriçal Figueiró dos Vinhos, foi asfaltada em 1957.
- A balança comercial foi nos desfavorável até 1929 e de 1930 até 1973 foi nos sempre favorável e com equilíbrio nas contas públicas.
- Depois de 1974 não houve um ano sem déficit.
- Não pense que sou apologista das ditaduras, o que venero é a responsabilidade.
- Veja que os governos sucessivos, pós 25 de Abril, conseguem acumular um conjunto de oportunidades perdidas e mais não têm feito do que proteger os seus correlegionários, através dos partidos.
-Li, algures, que morreu um trabalhador na construção da estação da CP., Cais do Sodré. Salazar manda abrir um inquérito, conclusão: o trabalhador morreu por negligência de um engenheiro, determinada previsão imediata para o Engenheiro.
- Com as leis actuais há sempre mais um vírgula e, das figueiras públicas, ninguém vai preso e ainda têm direito a momentos de televisão (Casa Pia, apito dourado, submarinos, free port, J P Sá Couto ( magalhães),Milénium, BPP, BPN, entre outros.
- São estas situações que me levam a ser saudosista. Como já afirmei a liberdade, sem responsabilidade, já nem me alimenta o ego.
Sempre a considerá-lo.
Deboss,
ResponderEliminarQuanto aos números e vida finaceira do Estado Novo, acha que os especialistas em Finanças Públicas, como A. Sousa Franco, mentem?
As redes de escolas de ensino público e de assistência materno-infantil faziam parte do programa republicano, nomeadamente por intervenção de mulheres como Adelaide Cabete, Ana Castro Osório, Carolina Beatriz Ângelo, Carolina Michaelis, Angelina Vidal, e vinham sendo paulatinamente implantadas, ainda na Monarquia, em regime de voluntariado, estruturadas em volta dos diversos Centros Republicanos implantados por quase todo o país, em que muitos funcionavam como escolas. Lembro também, que estas mulheres defendiam, também igualdade no direito de voto, o que só depois de 1974 se generalizou. Julgo que, há relativamente pouco tempo, houve aí em Pombal uma palestra sobre esta temática feita por dois grandes especialistas nestas matérias, o que talvez tenha apreciado.
Começo a compreender que a sua admiração por Salazar se define em duas palavras mágicas: DESENVOLVIMENTO e RIGOR.
Pois bem, o exemplo da Estrada Nacional 237 é a metáfora mais que perfeita do Salazarismo. Salazar foi Governo pelo menos desde 1928. Levou pois, mesmo num período de epopeia e de rigor desenvolvimentista, mais de 20 anos a asfaltar uma estrada de cerca de 50 km. Compreendo, foi o tempo necessário para definir com rigor as curvas e de fazer assentar o leito da estrada. É certo, como se demonstra, que “a pressa é inimiga da perfeição”. Nesse sentido, Salazar foi perfeito: “o nosso verdadeiro atraso de vida!”
Compare distâncias e veja que se os Romanos construíssem uma estrada a ligar Roma ao Louriçal ao mesmo ritmo, ainda se não tinham iniciado as disputas com os Gauleses que por lá pontificam e que já usam armas muito mais sofisticadas do que a fisga e do que o gládio, como é o caso do Gabriel com a sua lingua e o Roque com a sua verrina.
Outra conclusão a tirar é a de que o Salazar se tivesse de concorrer com o Narciso Mota não ganhava uma eleição e não tinha pedalada, nem obras, para o acompanhar e, possivelmente, nem no rigor.
Salazar foi esse atraso de vida que quis contrariar os inevitáveis ventos da História e os portugueses pagaram, e ainda pagam, muito caro por isso.
Meu caro, pela idade que tem, pela vida que viveu e pelo mundo que conheceu, faça a si mesmo as perguntas sobre o que era “vida do dia-a-dia” e responda-lhes, acredito que todos melhoraremos os nossos níveis de compreensão e concordaremos em quase tudo, pois não conseguiremos fugir a experiência da realidade.