Por estes dias, a tourada voltou a ser o tema fracturante da
sociedade portuguesa - e também da comunidade local. A polémica foi
desencadeada por a redução do IVA para os espectáculos culturais não englobar a
tauromaquia e pela (infeliz) justificação da ministra da cultura – “tauromaquia
não é uma questão de gosto, é de civilização”. A proibição da tourada é uma
polémica recorrente, ao longo da história; tal como o são, mais recentemente, o
aborto e a eutanásia.
O que me leva a entrar nesta polémica - de galos atiçados -
não é a questão fiscal - não espero comprar bilhetes para touradas - nem a
defesa da tauromaquia - deixo isso para os verdadeiros aficionados. São razões
de imperativo de consciência: a defesa de princípios e valores em que acredito e
deveriam ser um imperativo categórico de boa conduta: a liberdade individual (em
todas as suas dimensões: estilos de vida, gostos e comportamentos).
Um verdadeiro democrata não impõe estilos de vida, gostos e comportamentos,
nomeadamente quando estes não chocam frontalmente com o bem-comum. Vivemos
tempos conturbados e de grande incerteza; convém não largar as verdadeiras
âncoras da nossa civilização para embarcar em modas de maiorias conjunturais ou
de minorias folclóricas. Como afirma o Manuel Alegre “é chegada a hora de
enfrentar cultural e civicamente o fanatismo do politicamente correcto”, onde
sobressai a humanização dos animais e o culto do amolecimento do Homem. Vivemos
tempos de degeneração, onde uma certa esquerda, igualmente intolerante e avessa
à diversidade, parece empenhada em puxar para baixo. Uma esquerda conduzida
pela cultura de rebanho - na boa matriz cristã que tanto diz combater -; pelo
sentimentalismo oco, idealista, contraditório, exótico, hermafrodita; e pela falsa
compaixão com os animais. A mesma esquerda que tanto se bate pelo aborto e pela
eutanásia escandaliza-se com tourada (diversão com um animal que vai ser
abatido), com a caça, com o abate dos animais abandonados, com a esterilização
de animais que são uma praga, etc.
Sim: a tourada é uma questão de gosto, e de civilização.
A liberdade individual deve passar por aceitar que as ideias dos outros não são necessariamente conduzidas pela "cultura de rebanho" e "sentimentalismo oco, idealista, contraditório, exótico, hermafrodita". Não sei o que leva outras pessoas a revoltarem-se com o facto de seres humanos racionais se divertirem com espétaculos em que animais são torturados. Sei as minhas e elas não têm nada a ver com um espírito de rebanho. Pelo contrário, elas vëm de um tempo em que o movimento anti-touradas era pouco visível.
ResponderEliminarQuanto ao Manuel Alegre ao criticar o fanatismo do politicamente correto incluir a humanização dos animais, aconselho a leitura do livro "Cão como nós" de Manuel Alegre, em que ele se refere a um cão falecido como se de um membro da família se tratasse. Afinal, podemos humanizar certos animais mas fazê-lo a outros é fanatismo.
Vou continuar a chocar-me com o facto de pessoas se deslocarem a um recinto para se diveritrem com o sofrimento inflingido a animais, seja uma tourada, uma luta de cães, ou um circo em que um elefante é mantido a vida toda numa jaula minúscula.
Por último, a referência ao aborto e a eutanásia não fazem sentido nenhum. O que gostaria de perceber é como se faz a distinção que inflingir certo sofrimento por diversão a animais é legítimo (tourada, circo) de outros em que a maioria, talvez o autor do texto não, concorda que não são aceitáveis (luta de cães, morte de elefantes ou rinocerontes para retirar presas/chifres, tortura de animais domésticos).