8 de novembro de 2018

Onde se dá conta da distribuição das comendas no dia do Principado

O esgotamento do Príncipe é tão evidente que até para distribuir as comendas do dia do Principado precisou dos alvitres do Pança. Chamou-o:
- Pança; vinde aqui.
- O que desejais, Alteza? – acudiu o Pança.
- Como sabeis; estamos em vésperas do dia do Principado, e ainda não sei quem agraciar…-principiou o Príncipe.
- Pois,…O Senhor sempre foi mui deslembrado para a ventura alheia…- atalhou o Pança.
- Já estais a desvairar, Pança; mas adiante, que tenho pressa. Indicai-me cinquenta justos que mereçam comenda.
- Justos segundo a medida divina ou segundo a medida humana? – perguntou o Pança.
- Boa pergunta - estais mui arguto! – notou o Príncipe.
- Foi bom haver sido eu por vós achado, senão o que seria deste pobre Principado – tufou o Pança.
- Não vos esticais, Pança – avisou o Príncipe; e prosseguiu a prosa: - segundo a primeira, que é a que mais interessa.
- Somente segundo a primeira é mui dificultoso inventar cinquenta justos num Principado onde a virtude não medra - afirmou o Pança -; a não ser que se junte um ou outro vidente, um ou outro adivinho e um ou outro charlatão.
- Fazei como achardes melhor – anuiu o Príncipe -; que adiante separarei.
- Estou pouco imaginoso, Alteza; trago a cabeça cheia com os meus muitos afazeres – afirmou o Pança. E prosseguiu: - devemos agraciar quem se distinguiu; o problema é que nesta terra ninguém se distingue (para cima – pensou, mas não disse).
- Deixai-vos de considerandos, Pança. Nomes, nomes… - insistiu o Príncipe.
- Vossa Mercê pode agraciar o Almirante, o padre do “Pão de Deus”, o estudante de números do oeste…- sugeriu o Pança.
- O Almirante já foi agraciado, e o padre do “Pão por Deus foi-nos roubado pelo beato Ilídio…- retorquiu o Príncipe -; mas, sim: o estudante de números serve…
- Já temos um…- assinalou o Pança. E acrescentou: - Vossa Mercê poderá também agraciar a associação dos esquecidos...
- Essa serve… Mas mais, Pança; mais…- suplicou o Príncipe - Estais pouco imaginativo. Falta-nos criaturas ilustres, que engrandeçam esta mui nobre cerimónia.
- Dai-me um entretanto, Alteza, para pensar alto, com os meus botões…
- Pensai, Pensai, Pança; mas despachai-vos, que não falta muito tempo para a cerimónia – avisou o Príncipe.
- Se me pedíeis que seja imaginoso, que também o sei ser, quando mo pedem ou mo deixam ser; pergunto a mim mesmo (e perdoai-me se for precipitação): por que não agraciar os farpeiros?
- Endoidaste, Pança; ou eles já te deram a volta?
- O Senhor é mesmo desagradecido…; eu só queria auxiliar Vossa Mercê, mas já vi que me precipitei.
- Assim, não ajudais nada, Pança; seria loucura tentar semelhante empresa! – afirmou o Príncipe.
- Eu sei que oferecer incenso a maldizentes, que se têm fartado de chasquear as nossas misérias - eu que o diga, que tenho sido um mártir nas mãos deles -, é fazer deles ídolos.
- Contava que me alimentásseis os desejos, não que me importunásseis com extravagantes toleimas – advertiu o Príncipe.
- Não sei se é toleima…- retorquiu o Pança -; se já agraciamos radialistas sem ouvintes e pasquim sem leitores, por que não agraciar estes que amiúde são indicados para as comendas por súbditos bem letrados … 
- Santo Deus! Que estais dizendo, Pança? Querereis que eu entronize três Judas, sem vergonha e sem temor, que nos têm infernizado a vida? - perguntou o Príncipe.
- Olhe que eles até têm andado comedidos! Se Vossa Mercê não lhes desse tanta mecha, nas reuniões difundidas, não nos davam tantos desgostos…- retorquiu o Pança.
- Seríeis um escudeiro mais confiável se me dissésseis que os deveria mandar excomungar e condenar ao fogo – afirmou o Príncipe.
- Desculpai-me, Alteza; que as minhas intenções sempre as dirijo para bons fins – retorquiu o Pança.
- Cala-te, Pança — tornou o Príncipe, com voz exaltada — cala-te, repito, e não digas blasfémias.
- Se Vossa Mercê se enfada — retorquiu o Pança — eu calo-me e deixo de dar os meus alvitres.
- Às vezes mais valeria cortar-te o pio - lembrou o Príncipe – mas não, agora; falai, mas falai com tino - com proposições conformes à ordem estabelecida.
- Pedir é fácil, difícil é ir ao agrado do Senhor. Mas, por minha fé, Deus e o Senhor me perdoem este outro alvitre: por que não agracia, Vossa Mercê, a oposição? – sugeriu perguntando o Pança.
- Endoidaste de vez, Pança – afirmou, exaltado, o Príncipe.
- Bem sei que não é gente justa – advertiu o Pança -, mas a comenda seria justa – tanto têm sofrido, sem gemer nem mugir, com as bordoadas que o Senhor lhes tem dado.
- À oposição não se dá comendas, Pança.
- Por que não?! Seria um prémio merecido: são uns verdadeiros mártires; e têm-nos ajudado tanto ou mais que os nossos. Se o Senhor fosse piedoso, uma vez na vida, dava-lhes esta alegria (que outra não terão – pensou só para si) - concluiu, rogando, o Pança.
- Pança; arrebita as orelhas e ouve-me bem ouvido: obedeces-me ou desterro-te definitivamente para o teu condado – ameaçou o Príncipe, com voz irritada.
                                                                                                          Miguel Saavedra

1 comentário:

  1. CONDECORAÇÕES O executivo camarário aprovou, esta manhã, a atribuição das Condecorações à atribuir no Dia do Município.

    Medalha de Prestígio e Carreira
    - Padre Américo Ferreira

    Medalha de Mérito Municipal
    - Delegação Centro da Alzheimer Portugal (grau prata)
    - Pedro Moreira Fernandes (grau bronze)

    Medalha de Mérito Empresarial
    - Iber Oleff
    - Santos & Cordeiro SA
    - Balvera Perfumarias
    - Transportes Antunes Figueira
    - Jomotos, Lda

    Medalha de Valor Desportivo
    - Núcleo do Sporting Clube de Portugal de Pombal - secção de Futsal
    Parabéns a todos, especialmente aos meus amigos do Núcleo Sportiguista de Pombal. Vocês são um exemplo como Clube Desportivo. Fazem tanto com tão pouco.

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