16 de junho de 2020

O dia em que o povo defendeu a Várzea



Não vivi nunca, em Pombal, um momento como o de ontem. Ao longo da minha vida assisti a dezenas (talvez centenas) de apresentações, a maioria delas por força da profissão. Mas ontem, como cidadã, entrei e saí do Jardim da Várzea de alma cheia, um orgulho imenso de ver este povo lutar para defender um património que nos querem destruir. Foi importante o que aconteceu ontem, acreditem, para memória futura. Mais de uma centena de pessoas juntou-se, deu a cara para lá do computador, e foi dizer ao poder que não quer uma praça no lugar do jardim. Que a cidade é nossa e não deles - que andam há uma eternidade a desgovernar o espaço público. A erradicar o verde e cobrir o chão de pedra. Que este caminho que o Farpas vem trilhando há uma dúzia de anos começa finalmente a dar frutos. Já o sentíamos, por aqui, mas há sempre quem prefira negar a realidade, escudar-se naquele chavão de que "não vale a pena", porque "votam sempre nos mesmos" e "eles fazem o que querem", como se esta fosse uma história acabada. Não é. Momentos como o de ontem mostram-no bem. Isto da cidadania, além da coragem, requer treino. Por isso a partir de agora só precisamos de praticar.

1. O projecto. Foi importante perceber que, depois de exposta publicamente, face à tradicional tendência de não promover discussão nem consulta pública, a Câmara foi obrigada a recuar no projecto, reformulando-o totalmente. Da vossa parte (dos que lá estiveram) não sei, mas a mim continuam a sobrar-me muitas dúvidas, mesmo com as alterações que essa sumidade local da arquitectura urbanística apresentou. O essencial ficou claro: considera que a maioria das árvores estão doentes, portanto corta-se o mal pela raiz. Das mais de 20 que "sobrarão" - quer ele dizer, que plantarão - podem talvez os nossos bisnetos usufruir, um dia. 

2. O espaço público. Talvez o projecto da Várzea sirva para explicar o que tem acontecido em Pombal, nos últimos 25 anos: o poder vigente abomina verde e árvores. O parque verde nunca avançou (apesar da sucessiva propaganda em tempo de eleições), e os jardins foram sendo eliminados, o verde das árvores substituído por pedra, no chão. Foi assim na Praça Marquês de Pombal (com a promessa da mobilidade, de chamar mais gente, mais comércio, como de resto é esse o argumento aqui usado, também), mas na verdade foi o que se viu. Depois o Largo do Cardal. Agora temo pelo dia em que vão retirar a vedação da obra do Jardim do Cardal...e é por isso que se tornou tão urgente proteger a Várzea. A dupla Diogo & Vinhas mostra-se muito incomodada com o facto de haver pouca gente a frequentar o Jardim. Desde quando é que um jardim é mais ou menos importante pela quantidade de pessoas que ali se sentam? Queremos milagres? Acaso já pararam para olhar para os números dos últimos anos, que nas próximas eleições nos farão descer, de novo, aos 7 vereadores?

3. O sucessor. Foi por demais evidente que a máquina laranja emperrou. A crise política fez-se notar também ontem, ao ar livre: não apareceu o coro do costume, e o poder viu-se, pela primeira vez, em minoria num acto público, sem acólitos. E Pedro Pimpão, que acumula a liderança do partido com a presidência da junta e ainda a ambição de saltar dali para a Câmara, perdeu uma excelente oportunidade de se mostrar diferente. Talvez porque não é. Para quem tanto diz amar Pombal e ter regressado à terra para fazer dela alguma coisa de jeito, é poucochinho quedar-se pela copa das árvores e centímetros de relva. Diz ele que a junta já tinha tornado a sua posição pública nos jornais (?) e transmitido à Assembleia de Freguesia(?). Ficámos a saber que, afinal, o que diz nas costas de Diogo é incapaz de dizer na frente. Melhor fora que usasse o canal do youtube para divulgar o que pensa daquilo tudo, ao invés das entrevistas patéticas que os súbditos andam a fazer, no desconfinamento. Cuidado Pedro. Há jogos que podem correr mal. 

1 comentário:

  1. Sim Paula...não foi uma praça de gente madura, mas um jardim de gente madura. Não irão conseguir aniquilar o jardim. Espero mesmo que chegue 2021 e outra gente tenha mais consciência a favor da natureza e não da cultura da pedra e betão, para não deixar "respirar" o solo e a agua poder infiltrar á vontade.

    ResponderEliminar

O comentário que vai submeter será moderado (rejeitado ou aceite na integra), tão breve quanto possível, por um dos administradores.
Se o comentário não abordar a temática do post ou o fizer de forma injuriosa ou difamatória não será publicado. Neste caso, aconselhamo-lo a corrigir o conteúdo ou a linguagem.
Bons comentários.