19 de junho de 2020

O general no seu labirinto



Diogo Mateus ficou hoje sem as competências delegadas pelo executivo no início do mandato, o quer quer dizer - na prática - que a partir de agora só faz aquilo que a oposição quiser. Porque a prepotência e arrogância com que vem exercendo o cargo, nos últimos tempos, deixou-o neste estado: em minoria. Logo ele, que foi treinado desde miúdo para ser presidente da Câmara. Que foi o quadro político melhor preparado para ocupar o cargo - pois que durante mais de 20 anos não fez outra coisa que adquirir experiência pública, conhecimento técnico no domínio autárquico, e que teve o partido a seus pés. 
O que hoje aconteceu na reunião de Câmara (o vídeo está disponível aqui) é o perfeito exemplo de como um homem de cabeça perdida pode dar cabo de uma carreira. Neste caso é política, mas também quer dizer profissional, porque esta é a profissão de Diogo. 
Já aqui escrevi mais do que uma vez o meu estado de espírito quanto à liderança dele, em Pombal: é esperar 20 anos que o vento mude, e quando ele finalmente muda...levar com ele na cara, e perceber que era tudo um engano. Que não havia nenhuma página para virar (muito menos o livro, como ele me disse na ocasião), o que foi visível desde cedo: primeiro nas equipas, depois nos quadros que escolheu, nos projectos que não fez, na estratégia que, afinal, não tinha para Pombal. Nos últimos tempos, foi pior. Porque as obras em catadupa no espaço público dão a ideia de que não quer deixar aqui pedra sobre pedra, como se estivesse obcecado por deixar a sua marca urbanística em cada jardim, em cada praça, sem se importar se é isso que as pessoas querem. Como se as eleições que lhe deram maioria legitimassem tudo, como se valesse tudo. Como fiz questão de lhe dizer na apresentação do projecto da Várzea, esta semana, não me interessa se pensa ir-se embora daqui amanhã ou depois. Mas interessa-se, isso sim, que a terra que escolhi para viver e onde os meus filhos cresceram (sem um metro do tal parque verde, que nunca chegou) seja mais do um amontoado de praças empedradas com aversão à terra, às árvores, ao verde.
De maneira que, numa primeira fase, uma pessoa até se divertia com esta implosão interna a acontecer no PSD, aquele partido todo-poderoso que sempre gostou de ridicularizar os outros nas reuniões de Câmara, da Assembleia Municipal, nas Assembleias de Freguesia. Mas agora que nos caiu a ficha, não deixa de ser degradante e decadente o que nos está a acontecer, no espectro público.
Diogo Mateus tinha obrigação de ter acautelado este estado de sítio, antes de retirar pelouros a Pedro Brilhante a Ana Gonçalves. Como já aqui disse o Adelino Malho em post anterior, ele tem qualidades. Já quanto aos princípios e valores, tenho dúvidas. Quando misturamos assuntos pessoais com a actividade profissional, raramente corre bem. Ou como diz o povo: onde se ganha o pão não se come a carne. Muito menos se o cenário for o domínio público. 

PS: Desde que o requerimento (assinado por Michael António, Narciso Mota, Odete Alves, Ana Gonçalves e Pedro Brilhante) deu entrada nos serviços que Diogo Mateus agilizou pressões: primeiro junto do partido, exigindo solidariedade política e retirada de confiança aos vereadores a quem avocou pelouros (ameaçando avançar ele próprio para a concelhia); depois pediu a um peão do partido que tentasse convencer Ana Gonçalves a voltar atrás. Gorada a tentativa, avançou para um almoço com Narciso Mota. Como se viu, não resultou. Ficamos expectantes com as cenas dos próximos capítulos.

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