“Queixa das Almas Jovens Censuraras” é uma das canções do álbum “Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades”, de José Mário Branco, gravado em Paris em 1971, e conta com um belíssimo poema de Natália Correia. O título sugere um lamento dos jovens a quem impedem de ser livres. O poema é altamente metafórico e denuncia um regime que perpetua uma educação castradora e sufocante.
Este
magnífico álbum foi o responsável por revelar José Mário Branco, na época um
ilustre desconhecido no país. Já a autora da letra era uma figura de grande destaque na cultura portuguesa. Açoriana, poeta, antifascista,
Natália Correia afrontou Salazar ao honrar a tradição erótica e satírica
portuguesa. A sua “Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica”, de 1966,
foi censurada pelo fascismo e valeu à autora uma condenação por
"consciente e pública ofensa do pudor, da decência e da moralidade
pública". Natália é a responsável pela publicação da obra “Novas
Cartas Portuguesas”, de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho
da Costa (as “três Marias”), em 1972. O livro é proibido pelo regime três dias após o
lançamento, que o considerou “pornográfico e contrário à moral e aos bons
costumes”. O adultério, a violação, o aborto e a subordinação da
mulher, eram temas proibidos pelo Estado Novo,
que via as mulheres como cidadãos de segunda, não lhes concedendo o direito de
votar ou a possibilidade de sair do país, abrir conta bancária ou tomar contraceptivos
sem a autorização do marido. Um livro urgente nos dias de hoje, onde muitos parecem ter saudades de um tempo em que a "família tradicional" era sinónimo de discriminação da mulher.
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