6 de abril de 2024

Canções de Abril #6


A editora Orfeu é uma referência incontornável no panorama musical português das décadas de 1960 e 1970. Fundada em 1956, no Porto, por Arnaldo Trindade, a etiqueta prosperou apostando sempre nos novos valores da cena musical portuguesa, muitos deles ligados à chamada canção de protesto. Adriano Correia de Oliveira, primeiro, e José Afonso, depois, estabeleceram uma relação duradoura com a empresa, sem que esta impusesse condições à sua criatividade musical.

Um exemplo paradigmático das edições da Orfeu é o álbum “Fala de um Homem Nascido”, de 1972, uma opereta em duas partes composta por José Niza (trabalho iniciado enquanto alferes-médico em Angola), com encenação musical de José Calvário e baseada em poemas de António Gedeão. Os intérpretes escolhidos foram Duarte Mendes, Carlos Mendes, Samuel e Tonicha que, no ano anterior, tinha ganhado o Festival da Canção com "Menina", uma música de Nuno Nazareth Fernandes com letra de José Carlos Ary dos Santos. Um dos poemas musicados nesse disco, “Lágrima de Preta”, escrito em 1961, continua a ser, ainda hoje, um dos mais magníficos hinos à igualdade. Tornou-se conhecido na voz de vários cantores. A canção foi proibida pela censura, até à revolução de Abril de 1974.

A versão aqui partilhada não é das mais conhecidas. Interpretada por Duarte Mendes, capitão de Abril e vencedor do primeiro Festival da Canção em liberdade, tem um arranjo lindíssimo de José Calvário. A título de curiosidade, refira-se que Sam The Kid usou um sample deste arranjo no seu "Até Um Dia", do álbum “Beats Vol 1: Amor”. 

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