ANA E ANTÓNIO
Ana e o António trabalhavam
na mesma empresa.
Agora foram ambos despedidos.
Lá em casa, o silêncio sentou-se
em todas as cadeiras
em volta da mesa vazia.
«Neo-realismo!» dirão os estetas
para quem ser despedido
é o preço do progresso.
Os estetas, esses, nunca
serão despedidos.
Ou julgam isso, ou julgam isso.
Mário Castrim
Dr. Adelino Leitão, boa tarde.
ResponderEliminarNão queria entrar neste teu debate sem antes responder ao senhor anónimo sobre os 16 anos do Engº Narciso Mota como Presidente da Câmara Municipal de Pombal e a obra que fez (é um fazedor) e o que irá ainda fazer no próximo mandato. Mas para isso necessito de tempo.
Todavia não resisto, e antes de ir ver o corso a Loulé, quero dizer-te que:
O Dr. Mário Castrim, a senhora sua esposa e outros ilustres articulistas, de que destaco o Dr. Luís de Stau Monteiro (a mosca no prato, sem pontuação, p.e.) usaram o extinto Diário de Lisboa para fazerem a sua cruzada de educadores do povo, como comunistas de fazer pele de galinha. Deu o que deu. Mas reconheço-lhes valor, como reconheço ao Dr. Nuno Brederode Santos, insigne articulista, militante indefectível do Partido Socialista, apesar de não concordar com eles, antes e agora, nem um bocadinho. Todavia há "coisas" que se mamam no leite materno. E quem não mamou, tivesse mamado.
O poema do Dr. Mário Castrim foi escrito no tempo da outra senhora e com uma carga política muito grande. Está actual, reconheço, não por via política, mas sim pela especulação que os órgãos reguladores, que não regularam, deixaram andar à solta.
Abraço.
Meu caro Dr. Adelino
ResponderEliminarA sua presença neste blog trouxe uma lufada de ar fresco.
Compreendo o silêncio de alguns que, embora pensem como o Senhor são mudos cegos e calados com esta situação.
Parabéns e bem vindo!
Carlos Ribeiro da Silva
Caríssimos,
ResponderEliminarEntão gostaram do poema? Estranho!
Então a responsabilidade pelo roubo é do polícia? Não é do ladrão?!
E o silêncio, é de quem? Neste contexto só pode ser dos banqueiros, dos especuladores, dos seus apoiantes e servidores...
Penso eu!
Adelino Malho, boa noite.
ResponderEliminarEstou parvo!
Então deixaste de ser um de "os da casa" para passar a comentador?
Abraço.
Excelentíssimo Senhor Professor Doutor Engenheiro Rodrigues Marques, Magnífico e Venerando Presidente da Junta de Freguesia de Albergaria dos Doze
ResponderEliminarPior do que rural e ainda pior do que rústico, é ser saloio. O Mário Castrim não era doutor. E o autor as redacções da Guidinha não era comunista, nem era Stau - era Sttau, porra!
Seu
Georg Hegel (filósofo de estimação)
Amigo e companheiro anónimo, boa tarde.
ResponderEliminarAo saudoso Vitorino Nemésio, um dia, um tele-espectador chamou-lhe cavalo por não ter gostado de um dos seus programas na televisão. Ele deu a volta ao texto e falou sobre a nobreza, o aprumo e a dignidade do cavalo.
Façamos esse caminho, mais em homenagem ao Professor Doutor Vitorino Nemésio (esse, sim Professor Doutor com Cátedra) do que propriamente da matéria em causa.
Creia Vossa Excelência que, se margem para opção houvesse, prefiro ser saloio do que alfacinha. Sem servilísmos, mas com deferência estou pronto para carregar o carrego da minha humilde origem. E não me pessa para carregar roupa suja. Só roupa alva de neve, mas sem estar preparado para subir ao cadafalso.
Estou certo que Vossa Excelência faz parte da sociedade alfacinha do chá das cinco e que, também, está dentro dos 99,9 % dos benfiquistas que campeiam pela capital do Reino. Dois pecados capitais a que urge dar redenção.
Num país de doutores e de engenheiros, mais doutor ou menos engenheiro, vai dar ao mesmo, diria o meu amigo saloio para o asno. O solípede, com o seu carrego de mimos para o alfacinha, não percebeu nada, mas lá continuou a sua jornada no caminho de pé posto.
Ao saloio não há nada a redimir, que redimido já ele está e sem ser um dos "bem aventurados pobres de espírito".
Creia-me com elevada estima e consideração.
O saloio assumido.
Aos possíveis leitores peço sinceras desculpas, se é que há hipótese de ser desculpado, pelo erro ortográfico que cometi ao escrever, no comentário anterior, "e não me pessa para carregar a roupa suja", quando deveria ser "e não me peça para carregar a roupa suja".
ResponderEliminarMas, desgraça das desgraças, ainda escrevi "peça", mas depois pensei que "peça" é uma componente de uma máquina.
Na dúvida fui consultar a gramática e é que no presente conjuntivo do verbo pedir, na terceira pessoal do singular é "peça".
Mil desculpas.
Há que reconhecer que as críticas do meu colega Georg Hegel ao sr. eng. Rodrigues Marques produziram o notável efeito de levar o simpático autarca de Albergaria a aperfeiçoar muitíssimo a sua escrita, a dar outra atenção ao aspecto formal da linguagem, a procurar o encanto da palavra – o que representa para um homem de acção como que o contacto com um mundo novo, que estou certo o vai fascinar.
ResponderEliminarQuanto à antinomia cidade/campo, fixação de Rodrigues Marques, o texto é também muito rico e portador de uma inovação do maior significado – a figuração tripartida da dialéctica essencial com que Rodrigues Marques se propõe, nos alvores do século XXI, completar a trama de “A Cidade e as Serras”.
Desconstruamos o texto, analisando os tipos criados pelo seu autor. Em primeiro lugar, temos o alfacinha, chá das cinco, benfiquista (que horror, Rodrigues Marques…), doutor, engenheiro. Trata-se de um tipo muito fixo e esquemático, a parte mais débil da construção teórica de Rodrigues Marques. Neste aspecto, poderia ter trabalhado um pouco melhor a sua teoria.
Em seguida, temos o saloio emancipado, que se recusa liminarmente a carregar a roupa suja do alfacinha. Este saloio de peito erguido mandou às malvas a condição de bem-aventurado pobre de espírito (a propósito, bem-aventurado leva um tracinho, sr. eng., não custa nada…) e não precisa de redenção. Bolas! Isto não é orgulho, é soberba! Este saloio constitui uma espécie de representação das transformações sociais ocorridas em Portugal após o 25 de Abril e, nessa medida, do próprio autor e da sua notável acção pública, ou não seja o poder local a mais perfeita realização da ordem constitucional saída da revolução dos cravos.
Para completar o quadro, sai da paleta de Rodrigues Marques uma terceira figura essencial: o burro. O pobre jerico carrega a roupa suja e o fardo ainda mais pesado de continuar a ser um bem-aventurado pobre de espírito. No entanto, para espanto e revolta de Rodrigues Marques, continua a fazer o seu caminho. Este solípede é essencial na teoria de Rodrigues Marques, já que justifica a existência do super-homem saloio, ou seja, do próprio Rodrigues Marques. É por existirem burros que são precisos saloios emancipados e orgulhosos que, supõe-se (este aspecto Rodrigues Marques não clarifica), os redimam.
Fica, assim, bem à vista o que leva Rodrigues Marques, como já lemos neste blogue, a propor-se dar lições a quem se opõe à gesta autárquica de marca PSD em Pombal e tem o topete de sugerir investigações a certos processos digamos assim mais nebulosos dessa prodigiosa cavalgada a caminho do progresso da nossa terra. Esses opositores são asnos e carregam roupa suja, precisando manifestamente de redenção. Quem não precisa de redenção é saloio!
Enfim, com este texto, Rodrigues Marques assume-se como uma estrela do blogue "Farpas" e como um inesperado ideólogo do poder instalado em Pombal. Pela minha parte, antevejo-lhe grande futuro (pode vir a tornar-se um Passos Coelho do PSD/Pombal) e fico confiante que este esforço que lhe está a ser pedido contribua para aprofundar ainda mais o seu pensamento. Começa por questionar os adversários políticos e ainda pode, quem sabe?, vir a questionar-se a si próprio. Hoje o asno, amanhã o mundo. Rodrigues Marques pode chegar longe. E, se chegar, terá de reconhecer que foi… de burro!
Um forte abraço de muita estima e consideração intelectual do seu
Jacques Derrida
Parece-me bem, meu caro confrade Derrida, que, burro por burro e jerico por jerico, hoje este saloio mundo, amanhã (leia-se: próximo mandato) outra vez o asno.
ResponderEliminarLouis Althusser
Amigo e companheiro que se assina Jacques Derrida, boa noite.
ResponderEliminarEste filósofo francês de origem argelina teve a sorte de, ao tempo, não ser um "pé descalço".
Todavia a única opção que tenho é socorrer-me de António Aleixo, de cabeça, e dizer:
Não sou esperto, nem burro
Nem bem, nem mal educado
Sou apenas o produto
Do meio onde fui criado.
Abraço.
Muito bem respondido. Você de Albergaria, o Aleixo de Loulé e eu de Viseu. Casque neles.
ResponderEliminarBeijos parisienses da Bárbara e dos miúdos e um abraço para si do
Manuel Maria Carrilho (filósofo que perdeu as eleições para presidente dos alfacinhas)
Que se assina não. Que assina. Irra!
ResponderEliminarRené Descartes (filósofo sem paciência para erros empíricos)
TEMA LIVRE
ResponderEliminarMinha Cara Paula Sofia,
Perdoe-me por me ter intrometido aqui. São saudades, sabe!... Estas parvas não têm hora. Aparecem!
Tentaram incutir-me o dom da fé. Mas sou agnóstico. Ainda ando a tentar saber porquê, mas começa a ser tarde para o conseguir. Por isso, insisto que me perdoe. Não vá o Céu existir e eu ter este pecado por resolver.
Sabe Sofia, sei que não tem culpa. Acredite isto nem parece de mim! Sou um homem de respeito, mais ao menos bom cidadão (às vezes não me apetece!). Acredite, tenho dias em que até sou chefe de família. O que é raro. A mais das vezes manda ela. E não pense que é mau, ela sabe mandar e eu sei obedecer! E quando não quero que ela mande passo à clandestinidade como aqui estou, empenhado em resistir-lhe ( a ela, não pense em outras coisas). Estou certo, consigo passa-se o mesmo! Isto é, manda!
Às vezes, quando não espero, afloram – me os Seios e as saudades - deles também, mas não é o caso. Nestas alturas dão-me febres, aumentam-se-me as temperaturas. Dão-me calores, sabe! Se calhar não sabe! È muito nova, e aos homens não dão calores, não é? Enquanto eu - ai pobre de mim...! - já muito desejo mas pouco alcanço! Desculpe este tom, e se lhe pareço o Sócrates com o Freeport, a vitimizar-me!...
Depois há também este "sol a sul" e sempre…, sempre a saudade. Tudo isso me descontrola, que já não sei se me sente, se me deite e se a minha mulher me quer na cama. Acho que não. Senão, não estava aqui!
As farpas, a esta distância, não são farpas. São setas, de Cupido é certo, mas setas. Por amor à terra e aos "POMBUS", que aqui são os "ONDAS", como poderiam ser "GAIVOTAS"!.... . Também aqui, como aí, temos uma febre de centros comerciais, de parques de estacionamento,. A febre da construção deflacionou. Alguns contrutores são daí!...
Como vê, a distância é grande, mas os temas e os personagens são talqualmente ou "mutatis mutantis", como o diriam os Romanos que andaram por aí e, também, por aqui.
Vejo-a muito céptica Paula Sofia! Tenha fé! Os tempos são de crise, muita coisa muda e muita coisa se renova. Se não é crente, tenha esperança! Eu tenho! Porventura, não deveria!!??
Minha cara - que cara acho lhe não conheço, mas espero conhecer - é como lhe digo, tento ser um homem sério. Só não me dou bem com as aparências. Muito menos com a da chatice de ser sério. Vá lá que o Adelino Leitão e um tal Daniel Medronheiro ( Puro acaso, não é algarvio, pois não?...) às vezes carregam noutras teclas.
Aí possas!...( expressão algarvia e muito civilizada), refluiram-me nova... mente... uns seios. E..., se calhar ... daqui não passo .... Nem a passo!... Possa!
Minha Cara, aqui, como aí, a politiquice (politica dos homens sérios e aparentemente sérios), mesmo depois dos protocolos de Quioto, é como o dióxido de carbono (será monóxido?) fura a camada de ozono, degrada o ambiente e é mais difícil de controlar do que algumas bestas de trabalho que para aí - e por aqui - andam a suar estopinhas pelo povo. Dizem!...
Arredemo-nos, pois, daí e daqui! Há poesia para tudo e tão democrática que dá para todos. Existem poemas de Seios. Existem poemas que são armas. Sei-os, existem poemas que são programas de vida e de sociedades sustentáveis, que vêm de longe, que os nossos avós receberam dos avós deles, que os nossos pais ouviram dos deles, que nós ouvimos deles, que os nossos filhos hão-de ouvir de nós, que os nossos netos hão-de ouvir deles, tudo num circulo virtuoso a que se não conhece o princípio, nem se há-de conhecer fim.
Vamos lá, então! Leia devagar! Ouça a sua voz interior! Verá que lhe faz bem.
CARTA A MEUS FILHOS SOBRE OS FUZILAMENTOS DE GOYA
Não sei meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isto, sem seja sequer isto
o que vos interesse para viver. Tudo é possível,
ainda quando lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais do que qualquer delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo.
Um dia sabereis que mais que a humanidade
não tem conta o número dos que pensaram assim,
amaram o seu semelhante no que ele tinha de único,
de insólito, de livre, de diferente,
e foram sacrificados, torturados, espancados,
e entregues hipocritamente à secular justiça,
para que os liquidasse com suma piedade e sem efusão de sangue.
Por serem fieis a um deus, a um pensamento,
a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas
à fome irrespondível que lhes roía as entranhas,
foram estripados, esfolados, queimados, gaseados,
e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam
vivido,
ou sua cinzas dispersas para que delas não restasse memória.
Às vezes, por serem de uma raça, outras
por serem de uma classe, espiaram todos
os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência
de haver cometido. Mas também aconteceu
e acontece que não foram mortos.
Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer,
Aniquilando mansamente, delicadamente,
por ínvios caminhos quais se diz são ínvios os de Deus.
Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror,
foi uma coisa entre mil, acontecida em Espanha
há mais de um século e que por violenta e injusta
ofendeu o coração de um pintor chamado Goya
que tinha o coração muito grande, cheio de fúria
e de amor. Mas isto nada é meus filhos.
Apenas um episódio, um episódio breve,
nesta cadeia de que sois um elo (ou não sereis)
de ferro e de suor e sangue e algum sémen
a caminho do mundo que vos sonho.
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem de ninguém
vale mais que uma vida ou a alegria de tê-la.
É isto que mais importa – essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez
alguém está menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos vós e virá .
Que tudo isto sabereis serenamente,
sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
e sobretudo sem desapego espero. Tanto sangue,
tanta dor, tanta angústia, um dia
- mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga –
não hão-de ser em vão. Confesso que
muitas vexes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão, de crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão? Mas mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum Juízo Fina, meus filhos, poderá dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objecto
que não fruíram, aquele gesto de amor, que fariam «amanhã» .
E, por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é só nossa, que nos é cedida
para a guardarmos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor que
outros não amaram porque lho roubaram.
Lisboa, 25/6/1959
Jorge de Sena
Porque me dirigi a si? Por me parecer ser a alma disto. Pode não cair bem, mas é também porque gosto de si.