9 de outubro de 2009

Toda a verdade

Quando domingo à noite se contarem os votos, é bem provável que Narciso Mota abra aquele riso do costume, orgulhoso do "Povo de Pombal". Não tenho grandes ilusões neste acto eleitoral, como se estivesse conformada em esperar mais quatro anos para voltar a ter esperança. Nessa altura, Diogo Mateus ou Adelino Mendes hão-de dar uma volta a isto. Com ideias e projectos que deixem a esfera redutora da gestão corrente. Porque é disso que se trata há 16 anos. Não há uma ideia para Pombal. A Câmara tem sido uma espécie de comissão de melhoramentos em grande escala, que constrói edifícios sem se preocupar como é que lhes há-de dar vida depois. Lembro-me, assim, de repente, do Teatro-Cine. Uma espécie de barriga de aluguer sem programação própria. Bem recuperado (como competia a qualquer Câmara), seria um meio excelente para outros fins culturais. Verdade?Mas convencionou-se que a cultura era servida em flutes, no café concerto, embrulhada por uma empresa municipal que fez o que quis e ainda lhe sobrou tempo.
O Centro Cultural (só eu e mais meia dúzia é que nos devemos lembrar de que se chama assim), vulgo Celeiro do Marquês. Exemplo maior de que uma autarquia pode e deve preservar e aumentar o património, mas com o mínimo de estratégia. Verdade?
O Arquivo Municipal, cujo nascimento teve o dom de tocar o coração mole do presidente que assim reparou (?) um dos erros cometidos ao longo dos anos com vários recursos humanos. Podia e devia ter outro papel e outra função. Verdade?
A Praça Marquês de Pombal, onde enterrámos dinheiro a rodos para a utilização que se sabe, contando já com o parque, verdade?
Sim, há outra verdade: o engenheiro fez muitas obras. Talvez tantas quantas tinha obrigação de fazer, ele ou outro, desde que com meios à disposição. Mas faltou-lhe (e há-de continuar a faltar) rasgo. Visão. Às vezes convenço-me que não aprendeu nada em 16 anos. De cada vez que ouço falar do concelho charneira humanista e solidário, ou de como "não podemos ser sectários", belisco-me.
De tudo o que ficou por fazer por esta terra ao longo de tanto tempo, custa-me particularmente não termos um parque verde. O meu filho fez-se rapazinho sem nunca ter tido esse privilégio. Gastámos dinheiro (sim, porque o dinheiro é nosso, dos que aqui moramos e aqui pagamos impostos) a ajardinar para encher o olho de concursos floridos, num vislumbre de qualidade de vida que é uma falácia.

Eu tinha pouco mais de 20 anos quando Narciso Mota aqui chegou. O tempo passou, a vida correu, e o homem nunca mais daqui saiu.
Talvez seja mesmo verdade a máxima: cada povo tem aquilo que merece.

3 comentários:

  1. E está tudo dito. Isto sim, quase faz acreditar que quase valia a pena... ... ... ... quase... ...

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  2. Paula, muito mais que um belo “quase”... um desencanto de Amor. Porém, o que seria o Amor sem desencanto? Uma vida em "gestão-corrente", uma "comissão de melhoramentos". Aqui e além, uns arranjos florais e um fogo preso. Ali e acolá, um sexo fugaz em lençois de "Nylon" a fazer de cetim, acompanhado com Rosas sem espinhos, chocolate sem cacau e sem manteiga e "espumoso com borbulhas”, a darem a ilusão do amor que é precisa no começo para cairem as Kalvin Klein que denunciam as saliências do corpo deles, os Victória Secret`s que seguram no lugar as saliências do corpo delas, e que, no final, permitem a sensação de se sair de uma cama onde nada aconteceu. Quando, o milagre seria que tivesse acontecido. Que se tivessem realmente despido, se pudessem aperceber de quanto rasgo há na nudez, de quanta suavidade pode haver no toque de peles que simplesmente se tocam.

    A verdade …, a verdade… é que, quem não consegue despir-se e tomar a atitude de tentar olhar e viver o Mundo sem o peso dos preconceitos, dos equívocos e das venalidades, é como no sexo fugaz, um jogo táctico que se esgota no acto, sem uma estratégia uma que lhe dê um sentido e um fim.

    A verdade…, a verdade… é que, quem não estabelece intimidade com a cidade e com quem a habita, tem jardins da Babilónia, tem bandejas com flutes, purpurinas, lantejoulas e outros brilhos, mas ignora que a pele fica mais sedosa na penumbra e que os olhos ficam mais abertos no escuro. Quem ama sabe isto. Quem não faz política como quem ama, pode ter muitas capacidades e virtudes, mas nunca terá um arroubo de rasgo, nem a genialidade de um Nu. Descubram quem… Quem, sabe não estarão quase? Amanhã ao fim da noite terei o meu palpite. Procuremos não olhar para o Sol, não vá ele cegar-nos.

    Abraços,

    Estou a emitar a Paula Sofia e a sua especial predilecção por textos ou “guardanapos XXXL”. No caso dela de bom tecido. Nunca menos do que linho debruado a “Bilros” ou “Chantilly”, que as organzas, as sedas e os cetins não dão muito para estes fins.

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  3. Na Escola e em Psicologia Comportamental chama-se Hiperactividade: Muita acção mas inconsequente e sem hiearquização das prioridades! Faz, porque é um fazedor compulsivo, mas falta-lhe sentido crítico.

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