Faz agora um ano, o Conselho Pedagógico e a Direcção do Agrupamento de Escolas de Pombal submeteram
à aprovação do Conselho Geral um regulamento disciplinar para o 1.º ciclo, que
previa a instauração de processo disciplinar por infracções tais como: entrada
e saída da sala de aula aos gritos ou empurrões, linguagem imprópria, não
acatar as ordens, participar em lutas ou agredir verbalmente ou reagir agressivamente
pela voz ou gestos.
Na altura, manifestei
profunda discordância em relação ao regulamento, por o achar inadequado - autoritário,
opressivo e punitivo - e inoperacional (Como é que se conduz um processo
disciplinar a uma criança de 6, 7, 8 ou 9 anos? Que penalização se poderá aplicar
para além da achincalhante e ineficaz transferência de escola?).
Perante as críticas,
o director decidiu retirar o regulamento da agenda e propôs a nomeação de uma comissão
para a sua revisão. Mas para a comissão de revisão não foi nomeado nenhum
membro crítico do regulamento. Consequentemente, na reunião seguinte (última,
onde não estive por motivo de doença) apareceu uma proposta de regulamento
idêntica à anterior - com a mesma matriz punitiva. O regulamento foi aprovado sem
grandes reservas, por um Conselho Geral, onde a maioria dos seus membros foi educada
pelo antigo regime, bebeu aí a sua pedagogia e gosta de a replicar, aos outros.
Há umas semanas, uma
criança de 8 anos, do novo Centro Escolar de Pombal, aliciou outras, masculinas,
com um brinquedo, para simularem uma cena sexual na casa de banho. Alertada por
outra criança, a funcionária pôs cobro à cena rapidamente e comunicou o caso à
coordenadora da escola. Esta chamou as crianças, esclareceu o caso e
repreendeu-as. Depois, chamou os pais das crianças envolvidas, comunicou-lhes o caso, esclarecendo que não lhe tinha parecido grave e que já tinha repreendido as
crianças; como tal, a bem das crianças – todas –, recomendava que o caso não
fosse empolado e prometeu-lhes que iria reforçar a vigilância.
Só que – há sempre um
“que” nestas coisas –, como a cultura punitiva está bem disseminada e o mentor
da cena é cigano, estavam criadas as condições para os justiceiros - direcção
do agrupamento e pais – avançarem com o Auto de Fé: processo para cima da
criança de 8 anos, do cigano. Aposto cruzado contra vintém: se a criança
tivesse sangue azul, o caso seria abafado.
É a escola que temos,
a pedagogia que se pratica e a cultura que se espalha. Depois, não se admirem
com os resultados.
Sabes que os sistemas de ensino com melhores resultados são aqueles onde se cumprem regras, onde há disciplina?
ResponderEliminarSabes que também se pratica a violência e o racismo a coberto de acusações de racismo?
JGF,
ResponderEliminarSabes que os sistemas de ensino com melhores resultados são aqueles que educam não os que punem?
Então os infratores são os "campeões espertos" (os premiados) e os cumpridores e as vítimas sãos os palermas (os prejudicados)?
ResponderEliminarPunir? Então educar exclui a parte punitiva e reeducativa? Onde ficam as funções ético-retributivas e preventivas (gerais e especiais) das penas? Terás de estudar melhore estas questões. Sabes que a impunidade de pequenas infrações na infância ou na adolescência leva mais tarde à criminalidade?
JGF,
ResponderEliminarCompreendo que a tua deformação profissional te arraste para a obrigação de punir, e se estivéssemos a discutir o sistema de justiça acompanhava-te com todo o gosto, mas, agora, só quero abordar a Educação, nomeadamente as das crianças de tenra idade.
Desculpa, mas valorizo tanto isso que não me deixa espaço para dispersão.
A Educação tem de vir de casa, os professores tem a missão de formar pessoas. A atitude mais correcta é avisar os Encarregados de Educação da situação ocorrida e pedir para não se voltar a repetir. No caso de haver repetição tem de se tomar medidas punitivas para proteger os restantes colegas.
ResponderEliminarA máxima:" A liberdade de um indivíduo começa onde acaba a do seu semelhante " aplica-se tanto nas crianças como nos adultos !
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