As duas rádios locais que sobrevivem em Pombal comemoraram no ano passado 30 anos. Nessa altura o facto passou quase despercebido ao público, mas este ano a Câmara quis condecorá-las, numa linha coerente com a massagem que Diogo Mateus já lhes fizera, no discurso da tomada de posse, como aqui escrevemos.
É certo que a atribuição de medalhas se banalizou de tal forma que o caso poderia, à partida, nem merecer qualquer reflexão. Mas merece. Porque ambas passaram dos 30 com o suor e a dedicação de muita gente, nem todas as contas estão saldadas, e não são as medalhas que pagam contas. E porque a um órgão de comunicação é exigida outra responsabilidade que não ao cidadão comum. Por isso, agora que as medalhas estão arrumadas num canto qualquer e continua tudo na mesma, como a lesma; agora que a poeira assentou e as fotografias não passam de memória na espuma dos dias, vale a pena reflectirmos sobre o que são as rádios, o que fazem, com quem e para quem. E não, não precisa de vir nenhum(a) iluminado(a) mandar postas de pescada pela blogosfera. Esse é um exercício que está ao alcance de todos e de cada cada um: ouvir. Ouvir a rádio desde manhã até à noite. Uma vez ao dia, que seja. Como acontecia dantes, quando a audiência era palpável, quando a hora do noticiário era sagrada, com os departamentos de informação eram autênticas redacções, com jornalistas profissionais; quando as grelhas de programação tinham eco nas ruas, quando toda a gente sabia que programa passava, feito por quem e a que horas; quando havia departamentos comerciais, quando a economia respirava com fôlego e o trabalho das rádios era levado a sério, a começar por dentro. Depois disso, podemos falar.
Diz a Câmara que a sessão solene do Dia do Município "serviu também para homenagear as duas rádios de Pombal, enaltecendo a Rádio Clube de Pombal (Medalha de Mérito Municipal Associativo, prata) e a Rádio Cardal (Medalha de Mérito Municipal Empresarial, prata) pelo seu contributo para a promoção e solidificação do debate público, na consolidação da Democracia e como baluartes das mais essenciais liberdades, a de expressão e a de informação". A sério? Chega a ser comovente ver o poder político enaltecer desta forma os media locais, na exacta medida em que é de valor ver os peitos esticados para a condecoração. Os mesmos que se queixam da desigualdade de tratamento, da falta de transparência na aquisição da publicidade institucional, da desonestidade patronal, do incumprimento, da falta de meios, da falta de gente. Mas Pombal é este oásis em que o politicamente correcto tem de ser imagem de marca, em que o retrato tem de sair bonitinho, tapando o sol com a peneira. Quantos postos de trabalho se criaram nos últimos anos? Quantos programas? Que projectos?
Nenhuma empresa e/ou instituição de comunicação está livre das dificuldades que há anos tomam conta do sector. Da mesma maneira que, pelo andar da carruagem, ninguém está livre de ser apanhado no rol das medalhas. Mérito? Aqui chegados, resta-nos concluir que 'tudo está no seu lugar, graças a Deus'.
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