23 de agosto de 2019

Os males do excesso de positivismo


Vivemos um tempo doentio, com excesso de positividade e falta de negatividade, onde o discurso da lisonja, do reforço positivo e do “gosto”, proferido pelos fracos que se julgam bons, sufocou a dialéctica, o contraponto, a indispensável negatividade.
O excesso de positividade é uma marca do nosso tempo, onde tudo deve ser idêntico, dócil, amigável. A positividade compraz, mas o excesso de positividade cansa, enfraquece, esgota, deprime as pessoas. Na comunidade gera uma vida social dormente, indolente, vazia, que compromete o dinamismo, o pensamento diverso e a capacidade criativa.   
O excesso de positividade facilita a exposição pública e aumenta a notoriedade de quem o pratica, mas não gera automaticamente poder nem confiança. A confiança assenta no “não saber”, num certo mistério, numa certa distância; não na excessiva proximidade, no optimismo vazio do discurso superlativo do notável e do extraordinário.
A alma humana necessita da reflexão, da profundidade e do desacordo (até consigo mesmo) que a negatividade proporciona. Sem a negatividade da distinção desemboca-se sem remédio numa excrescência geral e numa promiscuidade das coisas.
Vivemos um tempo de estados patológicos induzidos por excesso de positivismo. Precisamos de equilibrar a coisa com alguma negatividade.

3 comentários:

  1. Desta vez o amigo Malho esteve ali no Cardal, de certeza, na cavaqueira com o Friedrich Nietzsche e vai daí partilha connosco aquela visão mais amarga e crítica do seu "amigo de eleição", o que agradecemos porque só as visões mais extremadas excitam o suficiente as mais confortáveis obrigando todos a não estarem continuamente conformados.
    Não me parece que a dialética e o contraponto tenham sido sufocados pelo que diz, antes sim por uma generalizada preguiça mental onde nada se questiona ou propõe por medo de ser mal interpretado ou levemente criticado. Um conforto bacôco onde se troca a paz pessoal pela demissão da opinião! Será isso o "seu" negativismo?
    Repare que além da religião nacional mais professada, o sacrossanto futebol, com toda a hierarquia canónica, com o papa Pinto da Costa à cabeça, e a indispensável trilogia comum a todas as religiões, Benfica, Sporting e Porto e todas as restantes figuras menores, com os anjos, santos, e demónios (alguns até presos), onde os adeptos têm calorosas e catedráticas opiniões, sempre bem arrefecidas com rios de cerveja, nada mais preocupa ou invade a mente desta amálgama humana alienada neste grande "chuto" intelectual que é o futebol.
    É por isso que o Farpas só tem meia dúzia de seguidores intelectuais. É porque de fato não há mais.
    Portanto, o positivismo ainda será aquilo que poderá estimular estas psiques dormentes sempre ávidas da recompensa imediata com esforço mínimo e, se nos vier parar às mãos sem esforço nenhum é que é mesmo "porreiro pá"...
    O povo não se move por grandes objetivos ou científicas razões, antes sim por desejos simples, o mais imóveis possível porque a mudança é sempre incógnita e os hábitos adquiridos sempre refratários e contestatários.
    Admira-se então que os políticos prometam ao povo o que ele quer ouvir? Mesmo que a realidade dessas promessas nunca surja?
    Enquanto se vive na esperança suporta-se sem reclamar a inoperância ou as amarguras quotidianas.
    A receita é sempre a mesma para convencer as massas, quer na política quer na religião.
    É por isso que as elites intelectuais existem, aquela pequena parcela que faz a diferença do todo e que, com a perseverança da ciência lá vai pontualmente empurrando a grande mole humana para os pequenos passos evolutivos da humanidade, que vão fazendo a diferença!
    Logo não almeje muito equilibrar o positivismo compulsivo, apenas se conforme com os pequenos progressos etnológicos que vamos conseguindo.
    Se assim não aceitarmos a sociedade em que existimos resta-nos emigrar para Marte.
    Ah, só mais uma ideia: Há 10.000 anos apareceu o homo sapiens (sapiens de presunção) mas não demorarão outros 10.000 até às extinção da espécie...
    Outra espécie inteligente futura talvez nos venha a classificar em termos paleontológicos como aquele antepassado sem viabilidade,o " Homo Burricus".
    Um abraço.

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  2. Amigo Serra;
    Acho que o texto não tem - de forma explícita ou intencional - nenhum pensamento do Nietzsche; o que o empobrece, com certeza. Mas tem outras influências.

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  3. Caro Malho, também não são essas referências o importante da discussão mas sim a opinião de cada um que, nos nossos casos, não se demitem do direito a ela.

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