2 de outubro de 2015

Câmara Confessional

Numa terra onde há mais religião que civilização, o presidente da câmara propôs e o executivo aprovou, por unanimidade, a criação de uma associação, com sede na cidade de Fátima (talvez para estar mais próxima da bênção divina) com o objecto de ajudar os peregrinos e de fomentar os Caminhos de Fátima, prioritariamente em todo o território nacional. Uma coisa em grande - há dimensão da “fé” dos nossos políticos.
Os passos do concelho tornaram-se uma negra oficina onde se fabricam ideais de subjugação que moldem o homem manso, acrítico e temente a Deus que conceda que tudo é feito segundo a vontade de Deus e a maldade consista em desobedecer à vontade de Deus. Nada há de mais delicioso do que um rebanho de ovelhas conduzidas e amadas por aves rapinas.
O poder político deveria promover a vida sã e o crescimento de um povo culto e livre, mas, em vez disso, envenena o povo através da fé para conduzi-lo pelo nariz. E fá-lo com o nosso dinheiro, gozando com os cidadãos livres. A peregrinação é um acto grosseiro e rústico que repugna a inteligência mais delicada, porque martiriza o corpo com sofrimento e a alma com ressentimento. 
Como afirmou Nietzsche “o Cristianismo continua sendo a maior desgraça da humanidade”, porque, como acrescentou Russel “o grande pecado do Cristianismo é que não tem finalidades “santas”, só ruins: negação dos prazeres da vida (da vida), autoviolação do Homem pelo pecado, desprezo do corpo, rebaixamento…” E continua, estranhamente, a ser fomentado pelos políticos.

6 comentários:

  1. Acho que é pior que isso, Malho. É um retrocesso sem precedentes, mais papista que o papa, mais beato que qualquer reduto religioso. Não é a isto alheio o poder que a Opus Dei conquistou com o actual Governo - com fortes tentáculos em Pombal. Olhai para o que aconteceu nos últimos dias, quando Passos Coelho sacou do terço, para velhinha e televisão verem.

    ResponderEliminar
  2. Paula,
    Eu ainda compreendo o que citas, porque a ligação da aristocracia ao clero é secular. Logo, compreende-se que aqueles que acham originários da “casta” ou que tem o desígnio de restaurar tal regime façam tudo para colar as peças.
    O que não se compreende é que algumas criaturas que se dizem republicanas e de esquerda tentem usar os mesmos esquemas, pensando que isso os ajuda na sua promoção politica e/ou social.

    ResponderEliminar
  3. Os peregrinos existem e vão continuar a existir. O que importa, creio que para qualquer pessoa de esquerda ou de direita (qualquer pessoa com consciência social) é garantir a sua segurança.

    ResponderEliminar
  4. Maria José,
    Reafirmo que considero a peregrinação é um acto grosseiro e rústico que repugna a inteligência mais delicada, porque martiriza o corpo com sofrimento e a alma com ressentimento. Consequentemente, não deve ser fomentado pelos organismos públicos. Os poderes públicos deveriam promover a vida sã e o crescimento de um povo culto e livre. Por que é que uma câmara deve fomentar a peregrinação – criar uma associação com o nosso dinheiro para esse fim – e fomentar os caminhos de Fátima por todo o território nacional?
    Os peregrinos, se quiserem, circulam em segurança. Com a mesma segurança com que eu e outras pessoas circulamos pelas vias da região a pé, de bicicleta e de carro.
    O problema mais grave com os peregrinos nem é a segurança rodoviária, é sim um problema de saúde pessoal e pública.
    Um amigo médico experiente - em final de carreira - comentava um dia destes em conversa de café os riscos inaceitáveis que mulheres gravidas e idosos com graves problemas motores corriam ao fazer as peregrinações. Mas desses casos ninguém fala. Porquê? Porque é tudo por Deus. E o sofrimento purifica a alma.

    ResponderEliminar
  5. Esta associação é constituída por 14 municípios e visa afastar os peregrinos do IC 2 e outros itinerários principais. Apenas isso. Não consigo por muito que tente (e quem me conhece sabe que o meu QI não é muito baixo) compreender a ligação com esta questão e o ser contra ou a favor das peregrinações. Isso é outra estória. A minha opinião é que não devemos misturar alhos com bugalhos. E que temos que ser racionais e atender às necessidades imediatas. E as necessidades imediatas, são, (já que a dita associação vai existir com ou sem oposição), garantir que esta serve para algo. E esse algo é garantir a segurança daqueles que decidem pela peregrinação. E os peregrinos não são de Fátima. Vão para Fátima. Se a senhora tivesse decidido aparecer em Albergaria dos Doze então seria para Albergaria 12 que se deslocariam. Sou uma mulher de esquerda, uma criatura comunista desde sempre (porque eu só interpreto o "criatura" em sentido negativo se assim quiser , e eu não quero,) e esta minha opinião é com base numa consciência social e comunitária e não em qualquer desejo de promoção social. Acredite. Felizmente, não sou a única.

    ResponderEliminar
  6. Já dizia Marx: a religião, é o ópio do povo.

    ResponderEliminar

O comentário que vai submeter será moderado (rejeitado ou aceite na integra), tão breve quanto possível, por um dos administradores.
Se o comentário não abordar a temática do post ou o fizer de forma injuriosa ou difamatória não será publicado. Neste caso, aconselhamo-lo a corrigir o conteúdo ou a linguagem.
Bons comentários.