17 de outubro de 2008

A Crise

Há quatro anos atrás tive um brilhante professor de Economia que se irritava (força de expressão, mostrava desconsolo) quando proferíamos, e de forma sistemática, a palavra crise. Ele corrigia-nos sempre, dizendo que não estávamos em crise e que era incorrecto afirmá-lo, ainda por cima numa aula de economia. Dizia ele que estávamos com fraco crescimento, ou quase em estagnação, mas não estávamos em crise (económica) porque a economia continuava a crescer, pouco, mas crescia. Dizia ainda, que crise económica é quando a economia retrai, situação em que a crise se sente verdadeiramente, tanto que até custa afirmá-lo.
Neste momento ainda não estamos em crise (económica) mas tenho poucas dúvidas que não passaremos por ela. A conjugação de vários factores (financeiros, demográficos, endividamento excessivo, retracção do consumo, custo da energia, escassez de matérias primas, etc.) conduzirá à retracção da economia mundial e particularmente no Ocidente. Não sei quantificar a dimensão e a duração da crise, mas ela virá (evitá-la será um milagre económico).
No entanto, as crises não têm unicamente coisas más, também geram oportunidades e propiciam mudanças profundas nas sociedades, nos estilos de vida. Acho que na próxima crise isso vai acontecer de forma significativa. Os modelos económicos actuais, orientados para o crescimento e este baseado essencialmente no consumo, atingiram o esgotamento e tendem a rebentar por todos os lados: económico, social e politico.
Por isso estou convencido que vem aí muito aperto mas também uma nova forma de viver. As últimas mudanças de século trouxeram sempre coisas novas, novas eras. Chegou o momento...!

2 comentários:

  1. Não sendo economista de formação, não sendo gestor de formação, não sendo expert na materia não posso deixar de constatar que algo mudou. E mudou o quê? Mudou tudo o que conheciamos no mundo finaceiro e da dita alta finança. Mudou a forma de ver as coisas da economia. As vantagens patrimoniais de quem investia no virtual e finalmemnte a certeza de que também os bancos e as seguradoras podem ir à falência. Mais, houve um despertar para algo nunca visto nos ultimos anos, o registo impressionante de que o neo-liberalismo falhou, tal como o sistema do bloco socialista da ex- URSS e seus pares. A questão fulcral agora será: deve o Estado ser alheio a isto tudo ou pelo contrário deve tomar um papel regulador e controlador da forma de fazer economia. Deve o Estado ser somente regulador? Somente intrevencionista? Bem o melhor é ser um Estado plural. Com interesses publicos mas possivel manobra nos meios privados. Enfim, não um Estado Pai de Todos mas também não um Estado Padrasto mas sim mais um Estado ATENTO...

    ResponderEliminar
  2. Caro Adelino Malho,

    Parabéns pelo texto. Uma síntese com que me identifico.

    Em relação à mudança, no meu blogue (hortadovizinho.com), há um link para um site extraordinário de um um fundadores da Permacultura, chamado Future Scenarios. Lá somos convidados à descoberta de 4 macro cenários possíveis. Os 2 mais importantes são:

    1. a manutenção dum estilo de vida semelhante ao actual com um mix de energias novo;

    2. a modificação de padrões de consumo, e uma viagem ao mundo com menos energia;

    Prefiro a 2ª opção, única verdadeiramente compatível com a sustentabilidade do planeta.

    Considero esta questão tão importante e tão decisiva para o futuro dos meus filhos e para a humanidade em geral, que decidi fazer tudo o que estiver ao meu alcance para lançar o movimento Transição Pombal.

    Quer continuar a discutir este assunto?

    Vou adicionar o Farpas aos meus links.

    João Leitão

    ResponderEliminar

O comentário que vai submeter será moderado (rejeitado ou aceite na integra), tão breve quanto possível, por um dos administradores.
Se o comentário não abordar a temática do post ou o fizer de forma injuriosa ou difamatória não será publicado. Neste caso, aconselhamo-lo a corrigir o conteúdo ou a linguagem.
Bons comentários.