1 de dezembro de 2019

Como se estraga uma boa ideia


Hesitei em comentar esta proposta da JSD. Em primeiro lugar, porque parte dos jovens, e jovens interventivos e com ideias é tudo o que nós precisamos. Depois porque tenho uma certa tendência para ser mal interpretado quando falo da juventude.

Mas, vamos lá. No último debate promovido pelo Farpas, no Café-Converto, a líder da JSD, Nicolle Lourenço, fez uma intervenção sugerindo a criação de "uma plataforma onde as associações possam estar em contacto e partilhar recursos e materiais". Esta ideia não é uma originalidade absoluta, pois já foi experimentada por vários colectivos culturais, mas é, sem dúvida, interessante e com grande potencialidade. Na altura, quando intervim e elogiei a ideia, estava convencido - ingenuidade a minha - que a proposta tinha sido apresentada como um desafio às colectividades, convidando-as a juntarem esforços para a colocar em prática. Enganei-me. A JSD, na ânsia de mostrar trabalho, apresentou essa proposta no Conselho Municipal de Juventude, órgão consultivo do Município. Péssima decisão. Ao tomar a proposta como sua e ao apresentá-la naquele fórum, a JSD institucionalizou algo que, a nascer, deveria permanecer o mais longe possível dos paços do concelho. 

Termino com alguns conselhos aos jovens laranjas. Primeiro: não se esqueçam que entre uma boa ideia e uma proposta concreta vai uma longa distância. Segundo: tenham a generosidade suficiente para deixar as vossas boas ideias seguir o seu caminho, permitindo que floresçam onde tenham condições para vingar, possivelmente com outros protagonistas. Em Coimbra, quanto foi ensaiada uma experiência semelhante, a iniciativa partiu de um conjunto de colectividades com interesses comuns, que se uniram sob o nome de MAFIA - Federação Cultural de Coimbra, convenhamos, um nome bem mais interessante do que o inqualificável "Pombal Sharing". Finalmente: se consideram que o tecido associativo é das maiores riquezas do nosso concelho, lutem por um Regulamento Municipal de Apoio ao Associativismo Cultural decente.

7 comentários:

  1. Amigo Adérito, confesso que não entendo aqui o seu ponto de vista.

    Primeiro não entendo a perversidade de apresentar uma iniciativa no Conselho Municipal da Juventude?

    Segundo não entendo porque é que as iniciativas da sociedade civil como esta têm de ficar o mais longe possível da câmara?

    Terceiro não entendo porque é que boas iniciativas podem ficar tolhidas institucionalmente se apoiadas do mesmo modo?

    Quarto não entendo a sua aversão ao nome escolhido de Pombal Sharing porque em se tratando de questões de gosto a discussão é sempre estéril?

    Também não entendo porque é que a Máfia é mais virtuosa e eficaz no percurso de ação por que optou?

    No primeiro caso e para mim aquele conselho serve exatamente para esse e outros fins da juventude.

    No segundo caso as autarquias devem ser facilitadoras e podem-no ser das iniciativas associativas.

    Normalmente as juntas é o que fazem sem passarem a comandar o processo e a CM quando ajuda procede ou deve proceder da mesma forma.

    No terceiro caso a sua opinião parece-me mais um preconceito político do que uma razão objetiva.

    No quarto caso venha o diabo e escolha como se costuma dizer.

    E do que conheço, se há conselho onde o tecido associativo tem mais apoios autárquicos o nosso é um deles, tanto municipal quanto das freguesias.

    Por outro lado as críticas dos seniores às iniciativas de intervenção da juventude devem ser sempre muito suaves dada a fragilidade que a inexperiência geralmente empresta às mesmas e, do ponto de vista pedagógico há que deixar fluir a experiência mesmo que nós percebamos o desfecho eventualmente menos vantajoso.
    Mas as iniciativas estimuladas são essencialmente treinos operacionais onde passados anos vai assentar a experiência dos maduros.

    E uma critica inicial e incisiva pode ser suficiente para tirar esse espírito e atrevimento necessário à evolução dos jovens.

    Pessoalmente a ideia apresentada coloca-me enormes reservas apenas porque muito do material em causa é muito sensível e precisa de uso experiente, cuidadoso e responsável e, sabemos bem, quando muitas mãos mexem no mesmo as coisas deterioram-se fácil morrendo a responsabilidade sempre solteira, logo degradação fácil das coisas e o seu uso muito comprometido, mas há que deixar os jovens terem tempo para se aperceberem disso.

    A Nicolle é das jovens mais ativas e empenhadas que conheço, com as fragilidades da juventude que também lhe tocam, mas com iniciativa e garra galvanizadora que sempre tenho apoiado e estimulado, bem como paternalmente aconselhado a não fumar e se salvaguardar dos excessos que a juventude comete, mas essencialmente sabe tomar a iniciativa, galvanizar e organizar os que à volta dela gravitam, pelo que há muito conquistou a minha admiração e um respeito crescente e o humilde apoio que lhe posso dar.

    Amigo Adérito, como pedagogo que é mas ao mesmo tempo homem de ideias fortes, continue a ajudar os jovens como esclarecidamente faz mas adoce lá um bocadinho a opinião que talvez tenha uma influência mais eficaz junto daqueles a quem a sua missão de dedica.

    Grande abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Meu caro Manuel Serra,

      Muito obrigado pelo seu comentário. Sem querer convencê-lo com os meus argumentos, reforço três aspectos que talvez ajudem a esclarecer a minha posição.
      1. A ideia é boa. No debate do Farpas entendi a intervenção da Nicolle Lourenço como um repto aos agentes culturais e assinei por baixo.
      2. As associações culturais e de juventude (quanto a mim) devem ser independentes e dissidentes. Ao juntar pessoas, assumem-se, muitas vezes, como espaços subversivos e de contra-poder. Daí achar totalmente descabida a proposta de concretizar a plataforma sob a alçada da autarquia.
      3. A autarquia não deve ser nem promotor, nem mediador, nem regulador de tal plataforma. A autarquia deve limitar-se a apreciar as propostas de apoio que lhe forem solicitadas e atribuir a parte do orçamento municipal prevista nos regulamentos criados para o efeito. E às forças políticas cabe trabalhar para ter bons regulamentos.

      Abraço,
      Adérito

      PS O nome é mesmo uma questão de gosto. Eu embirro com a mania de colocar nomes em inglês, na tentativa de os tornar "cool", "fashionable", "trendy", "awesome", "fun", ou lá o que é.

      Eliminar
  2. Adérito, boa tarde!

    Esta proposta surgiu, exatamente, por acharmos que as associações no concelho não têm esse nível de comunicação entre elas, como as de coimbra têm. A nossa realidade associativa é mais rural e portanto, creio que é necessária uma energia inicial para estruturar a ideia que nenhuma associação, de per si, tem neste momento.

    Subscrevo o objetivo de "afastar" a iniciativa da CMP. É legítimo e positivo, basta que tal seja possível no futuro, até porque reconheço que uma das dificuldades que o associativismo enfrenta é nomeadamente a dependência excessiva de financiamento externo e uma "rede" deste género só pode ser benéfica para ambas as partes.

    A proposta foi apresentada no CMJ, exactamente, para que as associações que ali estão representadas a pudessem conhecer e contribuir para o seu desenvolvimento e implementação. Não há uma só forma de ver os assuntos e acho que, diferentes opiniões e pontos de vista, só podem ajudar a pôr em prática esta ideia, de uma forma mais adequada à realidade associativa.

    (Relativamente ao nome, trata-se apenas de uma sugestão. Haverá melhores, com certeza.)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Nicolle,

      Muito obrigado pelo teu comentário e parabéns pela tua capacidade de iniciativa e pela genuína vontade de contribuir para o desenvolvimento do nosso concelho.

      Relativamente ao assunto em questão. A experiência de Coimbra foi feita com três associações partilhavam interesses comuns. O objectivo da MAFIA era o de partilhar não só recursos materiais (projectores, material de som, figurinos, etc), mas também logísticos e outros. É certo que foi constituída em meio urbano, mas não essa não é a questão fundamental. O fundamental, seja em espaço rural seja em ambiente urbano, é a cumplicidade entre os intervenientes.

      Para ter sucesso, um projecto desta natureza tem que partir da base para o topo e não ao contrário. Terão que ser as associações a juntar-se, através das afinidades que têm umas com as outras, e criar essas plataformas. Penso que nem vocês na JSD acreditam que ser possível existir uma única plataforma que junte as 274 associações do concelho, com perfis e interesses muito diversos.

      A associação CLIP (https://cliprd.wordpress.com/) que referes no vosso documento tem um cariz completamente diferente daquele que (penso eu) pretendes para Pombal. Aliás, essa confusão perpassa todo o vosso documento. Para além de ser pernicioso, não vejo como é possível compatibilizar uma associação (como a CLIP) e uma plataforma criada e regulada pela Câmara.

      As nossas associações - tanto as da cidade como as das freguesias - têm anos de história e uma maturidade muito grande, sabem o que querem e trabalham para isso. Em muitos aspectos, é a autarquia que tem a aprender com as (boas) associações e não ao contrário. Ao querer colocar a autarquia a regular uma plataforma de partilha dos recursos que (é bom não esquecer) pertencem às associações, é passar um atestado de menoridade ao movimento associativo. Bem sei que não é essa a vossa intenção, mas essa é uma consequência da proposta que têm.

      Um abraço,
      Adérito

      Eliminar
    2. Adérito, bom dia

      Agradeço a partilha do seu ponto de vista acerca deste projecto. De facto, a intenção não é de todo "passar um atestado de menoridade ao movimento associativo", aliás, é exactamente o contrário - valorizá-lo.

      É por acreditarmos que constituem uma peça tão importante no desenvolvimento social dos cidadãos e das comunidades locais, que pretendemos que tenham uma gestão informada, eficaz e mobilizadora capaz de tirar partido de instrumentos e recursos existentes e de gerar uma maior capacidade de cooperação entre as diversas instituições.

      Não creio que um fator fundamental para o sucesso do projecto seja quem o promove à partida. Tal como referi, acho legítimo e positivo que, caso tal seja possível no futuro, se distancie do município - será um bom sinal, com certeza.

      No entanto, acredito que este 'input' inicial por parte do município, é crucial para que o projecto seja implementado e que, sempre que possível, se devem promover medidas de apoio e de valorização às iniciativas associativas, sem que seja posta em causa a autonomia das mesmas.

      Relativamente ao CLIP não tendo exactamente o cariz que pretendemos implementar, partilha de alguns pontos em comum. No entanto, nada do que traduz o documento é estático e como já referi, acho que é crucial que as associações contribuam para o desenvolvimento do projecto, de forma a torná-lo adequado à sua realidade.

      Também não pretendo convencê-lo dos meus argumentos. O objectivo é o mesmo - o de contribuir para o desenvolvimento do concelho, apesar de termos perspectivas diferentes sobre este tema, em específico, considero que esta é uma discussão sempre pertinente e frutífera.

      Não tenho dúvidas de que ganhamos todos.

      Eliminar
  3. Caros amigos, folgo em saber que temos aqui uma discussão interessante onde se discutem opiniões concorrentes e não conversa de surdos em que apenas se extremam posições.
    Nestes fóruns gosto de participar, nos outros fujo logo que posso.
    Não vou alongar o assunto embora me pareça que o Adérito é um bocado radical com a opinião de que as associações têm de ter distância das entidades públicas.
    Eu não vejo mal e se apoiar institucionalmente alguma logística, cedência de espaços facilitada, subsidiação e alguma informação mais elucidativa da evolução das atividades inter-associativas que podem acelerar decisões autárquicas solicitadas e esperadas...
    Esta é a minha opinião.
    Agora ambos os visados sabem bem escolher o caminho que melhor lhes serve e por aqui dou por concluída a minha intervenção com votos de bons posts e equivalentes comentários.
    Ganhamos todos.
    Um abraço e um beijinho, respetivamente.

    ResponderEliminar
  4. São estas conversas que enriquecem o Farpas e contribuem para um Pombal melhor. Não podemos estar à espera da autarquia para resolver as iniciativas das associações, a esta compete apenas apoiar e regulamentar as actividades das diversas associações; irreverência da juventude precisa-se!

    ResponderEliminar

O comentário que vai submeter será moderado (rejeitado ou aceite na integra), tão breve quanto possível, por um dos administradores.
Se o comentário não abordar a temática do post ou o fizer de forma injuriosa ou difamatória não será publicado. Neste caso, aconselhamo-lo a corrigir o conteúdo ou a linguagem.
Bons comentários.