22 de março de 2009

Uma morte anunciada

Está prestes a concretizar-se. “O ECO” vai deixar de ser semanário. Passa a mensário. Uma espécie de metáfora para anunciar o fim de um percurso de 77 anos de vida, com os seus altos e baixos, mas que não pode ser ignorado. É – foi! – um título que não pode ser desligado da história das últimas décadas de Pombal. E é com profunda mágoa que, de há alguns meses para cá, assisto ao seu definhar, para – como receava (e tive oportunidade de manifestar à Paula Sofia, quando soube do seu regresso ao “Região de Leiria”, deixando a direcção do jornal que ela, tão competentemente, estava a relançar…) – ver agora concretizado o seu desaparecimento do panorama da Imprensa Regional.
Não é em vão que recordo 50 anos de uma ligação a este jornal. Onde recebi o primeiro (e único!) pagamento por uma colaboração. Dez escudos – em 1959 – por uma reportagem efectuada em Albergaria dos Doze (apresentação de uma rectroescavadora, uma novidade à época), pagos pelo saudoso Joaquim “Trino”…
O filme exibido na Gala de Honra que assinalou os 75 anos de O ECO bem pode constituir o epitáfio para este Jornal. Os depoimentos registados – “é nosso, é da nossa terra” (Reinaldo Serrano); “o jornal ansiosamente aguardado pelos seus assinantes” (Henrique Falcão); “é o meu jornal” (Manuel Ferreira); “a ligação comovente à emigração” (Paula Sofia); “espaço de liberdade” (Daniel Abrunheiro); “jornal bem escrito”, onde escreveram Pessoa Amorim, Costa Ferreira, Tavares Dias, Miguens Vieira, António Serrano, Pedro Sagunto, Menezes Falcão e tantos, tantos outros – explicam toda uma história de vida de um título que deveria orgulhar os pombalenses.
Pena que não se cumpra o desejo manifestado pela então directora e que O ECO não tenha o tal “futuro risonho”.
Minha cara Paula Sofia: Cumpre-se o destino (tal como com tantas outras coisas por cá). O ECO será “aquilo que Pombal quiser”. Risonho! – dizias.
Dois anos depois… cumpre-se o mau presságio que, já à época, se fazia adivinhar.
Quando, já saturada por ambiente pouco respirável, decidiste “deixar” o barco à deriva, para assumires outros projectos, sabias – sabíamos quantos te acompanharam na tua luta por um jornal digno desse nome – que o futuro de O ECO seria tudo – menos risonho.
Ele aí está, sob a forma de uma morte anunciada.

Correio dos leitores
Alfredo A. Faustino

15 comentários:

  1. Acredito que a Paula Sofia era uma competente directora do jornal. Contudo, o desaparecimento do título deve-se a outros factores e não à saída da directora. Embora tenha visto que o jornal não evoluiu, não se dinamizou, o seu director actual é um conceituado jornalista e director do semanário mais lido no distrito (Região de Leiria). Este "descalabro" deve-se essencialmente à falta de investimento por parte da empresa proprietária, que entretanto se prepara para investir 10 milhões de euros num jornal diário de abrangência nacional. Por outro lado, segundo o que apurei tentaram vender o Eco a várias personalidades do concelho (Eliseu Dias, Rui Benzinho, João Pimpão, Rodrigues Marques, e se calhar a outros que não foram tornados públicos). E já agora, se decidiram transformar o jornal em mensário, também decidiram despedir a única jornalista da casa (Adriana Afonso). E com tantos títulos que a Sojormédia tem, não a integraram numa outra qualquer redacção?! Há qualquer coisa estranha nesta estratégia empresarial para o Eco. Um Eco que foi comprado pela Sojormedia numa altura em que o outro semanário do concelho estava a manifestar dinamismo e profissionalismo, e que era proprietário daquele que era o principal adversário da própria Sojormédia, a Jorlis (Jornal de Leiria). Tudo se transformou e pelos vistos continua a transformar-se.

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  2. Alfredo Faustino, boa noite.
    A casa do meu avô Manuel (já que o avô Felizardo morreu com 40 anos em consequência do gaz mostarda da batalha de la Lys, da Primeira Grande Guerra) chegava todos os dias vindo de Lisboa no 17 (combóio das 4 da manhã com máquina a vapor e o seu tender, já a carvão de pedra e não a lenha, que era o combustível durante a guerra) o jornal "O Século", devidamente cintado.
    Vinha, também, no 17 o peixe "fresco" que as vendedoras distribuiam pelas suas clientes.
    O 8 passava, sensivelmente à mesma hora, mas para Lisboa.
    Velhos tempos.
    Chegavam lá a casa, também, os jornais de Pombal:
    O Notícias de Pombal(?) e mais....
    Confesso que não me lembro de O Eco.
    Melhor do que eu, deves tu, em letra de forma, contar a história dos jornais de Pombal.
    Mais.
    Deves contar como era Pombal quando tu e o Vitor Vida eram Comandantes de Castelo da Mocidade Portuguesa. Quando tudo ficava inundado. Meio metro de água a cobrir o campo de futebol e as ofícinas. E eu que não passei de um mero Chefe de Quina.
    Não há vergonha nenhuma em assumir o passado.
    Devemos olhar para o futuro sem esquecer o passado.
    Na firme expectativa de que irás transmitir às gerações que se nos seguem estas pequenas coisas, subscrevo-me com elevada estima e consideração.
    Abraço.

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  3. Quero, lamentar o desaparecimento deste semanário, que é sem dúvida alguma uma referência jornalistíca e, também cultural,da região de Pombal, tendo em conta as figuras ligadas à cultura(algumas já falecidas)que por lá passaram. Não irei referir nenhuma para não ser injusto para com os outros, mas todos nós Pombalenses sabemos quem são.
    No entanto, a partir do momento em que a Paula Sofia saíu, o destino do "O ECO" estava traçado, tendo em conta que ela éra, talvez, o único elo de ligação que restava a Pombal.
    Embora de forma anónima, quero aqui prestar a minha homenagem e gratidão a todos quantos duma forma livre e democrática nos foram dando a conhecer melhor aquilo que se passava à nossa volta.
    Por motivos duma actividade pública(?) que exerci durante uns anos, da qual estou retirado, tive vários contactos com os/as profissionais do jornal, e desta forma quero agradecer a todos a forma simpática e profissional com que sempre me trataram, em especial, à Paula Sofia e à Adriana Afonso.

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  4. Tenho amizade pelo sempre amigo Alfredo Faustino. Nos poucos contactos que tivemos ou vamos tendo, o Alfredo Faustino sempre me pareceu algo nobre, eu sentia que havia ali coisa diferente, não me enganei.

    Pela pena do Eng. Rodrigues Marques todos ficámos a saber do passado brilhante ao serviço do Estado Novo do “Comandante Alfredo Faustino” na sempre orgulhosa Mocidade Portuguesa.

    As pessoas de bem não têm receio do passado.

    Foram poucos os que chegaram a comandante, que serviram cheios de glória a Nação.

    Emocionei-me com o comentário do Eng. Rodrigues Marques, louvo como escreve o passado que não esquece, claro, o passado do Portugal grande, de uma terra como Albergaria dos Doze carregada de uma grande dinâmica.

    O pormenor dos comboios mostra saudade da juventude.

    Lamento pelo avô, no caso, o meu chegou vivo e lá está o seu nome na pedra na Igreja dos Milagres ao tempo mandada colocar pelo Padre Lacerda.

    Eu por mim faço a ligação do jornal o Eco ao saudoso Senhor Meneses Falcão, sou do tempo em que o português expresso nas páginas do Eco era uma virtude, ainda acompanhei este jornal enquanto saiam os escritos sempre actualizados e históricos sobre a Nação Portuguesa assinados pelo então colaborador Dom Carlos.

    Muito atento admirador e grato.

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  5. A morte do Eco começou com a saída do Daniel Abrunheiro. A ida da Paula Sofia para Leiria foi a derrocada final de um jornal que tentava manter seriedade e independência neste país sempre de joelhos perante o poder. É uma pena que a Sojormédia esteja a transformar a imprensa regional em panfletos do LIDl. É uma pena que continuem a permitir que esta gente dê cabo dos jornais.

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  6. Meu Caro Rodrigues Marques:
    Embora pouco tenha a ver com o fim de O ECO, gostei da tua lembrança do passado. E quero dizer-te uma coisa: tal como tu, todos quantos tiveram oportunidade de frequentar a velha Escola Técnica ou o Liceu, integrámos a Mocidade Portuguesa; uns chegaram a Chefes de Quina, outros a Comandantes de Castelo ou de Grupo, até mesmo a Comandantes de Falange. E quero afirmar-te: foi graças à Mocidade Portuguesa que tive oportunidade de fequentar acampanhamentos em vários pontos do país, designadamente no "internacional", em 1961, no Jamor, com milhares de outros jovens de todo o mundo, contactando assim com outras gentes e outros costumes. Ajudou-me a enriquecer do ponto de vista humano, a fazer-me Homem. Ideologicamente muito pouco fui influenciado, se calhar por ter ido para Moçambique, onde se respirava mais liberdade e tive oportunidade de ingressar numa profissão que me apaixonou e num jornal que ainda hoje é lembrado como dos maiores arautos de liberdade e de defesa dos Direitos do Homem, então sob a tutela desse grande Bispo (e Homem) que foi D. Sebastião Soares de Resende, responsável pela Diocese da Beira, e "persona non grata" para o regime.
    Sabes, certamente - também para lá caminhas... -, que, com o avolumar da idade, vamos ficando mais saudosos do passado que vivemos. O nosso fim - como o de O ECO - já não vem longe...
    Um grande abraço, meu caro Rodrigues Marques!

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  7. O comentário do Eng. Rodrigues Marques, perdoem-me a ousadia, foi um bocadinho à relva, não concordam?

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  8. Eu também faço parte daquela geração, (se me permitem a imodéstia)de ouro,dos anos sessenta, que frequentaram a escola Indústrial e Comercial de Pombal, hoje escola secundária.
    Também, tal como vós, andei na Mocidade Portuguesa, na altura obrigatória para quem estudava no ensino técnico público.
    Embora obrigatória, foi com orgulho que partecipei naquela actividade, hoje chamada de fascista, por alguns intelectuais da treta.
    Mas, naquele tempo, foi assim que apredendemos a ser homens integros e acima de tudo, homens que tinham orgulho de serem PORTUGUESES.
    Não querendo estabelecer um paralelismo, mas olhemos para os jovens de agora, e vejamos as diferenças!
    Também fui chefe de quina, não vou citar nomes dos que comigo andaram, mas muitos deles são hoje ilustres pombalenses, alguns em cargos públicos de relevo!
    Quem não se lembra ás quartas feiras e sábados de manhã, o desfile perfeitamente afinado de jovens, pelas ruas da então vila de Pombal?
    Tal como vós, também faço parte dessa geração, com orgulho!
    Um Pombalense.

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  9. É curioso como se muda de assunto. Do debate que deveria provocar a situação do Eco, passámos à discussão do passado de alguns saudosos pombalenses.

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  10. Eu gostaria que a galera não se desviasse do tema que está em discussão e prossiga com o devido debate sobre a situação do Eco. Ou isso não é fato que interessa a Pombal?

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  11. fato?
    quem é que anda meter alfaiates ao barulho?

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  12. Mas afinal, para que serve um jornal mensal? Não vejo qualquer outra função que não a de "album de recordações", e para isso, teria mais cabimento um jornal ANUAL. Parece-me inevitável que a passagem a mensal seja uma espécie de "purgatório": ainda não chegou ao inferno (nem ao céu), mas também já não pica o ponto no mundo dos vivos. Uma espécie de prefácio para a extinção.

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  13. Será que é dedo do Magalhães?
    Não sei, não sei. Cá pra mim, o raio do magalhães com aquele Português, à moda da "Independente" é muito bem capaz de ser o responsável pelo fim do "O Eco".
    Já não digo nada!.......

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  14. Embora com algum atraso de que me penitencio, não posso deixar de saudar o facto de o avô Manuel do nosso impagável comentador Rodrigues Marques receber de Lisboa o jornal "O Século", diário de forte tradição republicana. O avô Manuel revelava, nos tempos do comboio a vapor, uma abertura muito maior às coisas de Lisboa do que o seu ilustre neto nesta era da chamada aldeia global. Para além de registar que a roda da história nem sempre se move para a frente, fica esta devida homenagem ao avô Manuel e ao antigo jornal "O Século", que ainda representa, mais de 30 anos após o seu desaparecimento, um retrato daqueles que, em vez de cultivarem complexos de inferioridade, buscavam nele a informação e o conhecimento, rompendo barreiras em vez de as erguerem, como gosta de fazer o simpático regedor de Albergaria.

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  15. Meu caro companheiro anónimo, boa tarde.
    Regedor, de reger sim senhor. Regedor igual a Homem Bom sim senhor. Regedor igual a "Senador" não senhor, porque não sou.
    Porém é um termo que utilizo frequentemente com os nossos "senadores", sem qualquer carga pejorativa.
    O Américo Ferreira (PSD) é um Senador, igual a Regedor das Meirinhas.
    O Estevão dos Reis (PS) é um Senador, igual a Regedor do Vale das Éguas.
    Eles sabem que eu sei que eles gostam que os trate, carinhosamente, assim.
    São estas pequenas atenções que fazem a diferença.
    Atenciosamente, sou
    O Regedor, que se assina
    Rodrigues Marques

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