26 de abril de 2023

Por que morrem os jornais em Pombal?


créditos: Município de Pombal 



 O Alfredo Faustino - Jornalista de excelência, com quem tive a sorte de trabalhar uma parte da minha vida - publicou neste 25 de Abril uma retrospectiva da Imprensa no Concelho de Pombal, que compreende os últimos 150 anos. A obra foi editada pelo Município de Pombal e deveria fazer parte do espólio de todas as escolas deste concelho, das Bibliotecas, das Colectividades. Mas para isso era preciso que os pelouros da Educação e Cultura pensassem sobre a causa das coisas e quisessem, de facto, inverter o sentido. Que se olhasse para os jornais, rádios e outras plataformas como um instrumento de desenvolvimento, pensamento e Liberdade, e não apenas de propaganda, daquela que "divulga o território". Adiante. 

Durante a apresentação, a ex-jornalista Dina Sebastião (actualmente investigadora da Universidade de Coimbra) deixou a pista que ninguém quer seguir: como é que uma terra que há 150 anos começou por ser berço de um "jornalismo de militância"  chegou ao fim do século XX reduzida à luta pela sobrevivência. O autor, Alfredo Faustino, traça um retrato nu e cru do que foi a ascensão e queda da imprensa local em Pombal, que ainda no final dos anos 90 acolhia quatro semanários, em simultâneo. E que hoje está reduzida a um quinzenário.

Por decoro, talvez, ou uma réstia do desencanto que a fez abandonar o jornalismo, a Dina foi cautelosa nas palavras, no diagnóstico e no retrato actual. 

Aqui no Farpas - que ao pé do 'Cão de Fila', o jornal burlesco publicado no século XIX, é um menino - já por diversas vezes o dissemos (e até fizemos um debate sobre o tema): a imprensa em Pombal sucumbiu às mãos do poder político, numa agonia amparada pelo poder económico. 

Enche-nos o peito ler este "da Imprensa do Concelho de Pombal", mas fica aquele nó pelo actual estado da arte. E não, não é igual em todo o lado. Há territórios que entendem bem a imprensa como um investimento e não como uma esmola de onde ainda se pode tirar algum consolo. Aqui, a causa das coisas chama-se declínio: social, económico e político. 

PS: chega a ser comovente o olhar paternalista de Luís Marques (antigo jornalista que terminou a carreira como administrador, lá na capital) sobre a imprensa regional, expresso no final da sessão de apresentação do livro. É contra essa moralidade benevolente que ando aqui há lutar há anos, porque acredito que o jornalista tem os mesmos direitos e deveres aqui, como em qualquer lugar. Foi uma das coisas que me ensinou o Alfredo A. Faustino, que fazia com a mesma determinação a notícia da rua ou a notícia do mundo. Auguramos, pois, tudo de bom para as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, de que Luís Marques é comissário...

1 comentário:

  1. Paula, muito de que diz é verdade e fica sempre nos mais velhos a nostalgia do já ter sido e agora não é.
    Note que os tempos evoluíram e com eles uma multiplicidade de formas de comunicação que vieram roubar espaço a essa imprensa pretérita que era, na altura, o grande veiculo das novidades daquém e dalém Pombal.
    Também o comércio tradicional estiolou com a novel concorrência, primeiro dos shoppings e mais à frente das grandes superfícies.
    E também é normal, Farpas oblige, que aproveite para bater um bocadinho no quinzenário que resta, mas eu diria antes que a imprensa local "não sucumbiu ainda" pela resistência dos seus promotores apoiados pelo poder político que apoiam estes últimos locais da arte, tal como são apoiados os clubes desportivos, o comércio local e todas as demais atividades sem condições económicas suficientes para resistirem por si próprias.
    Também relembra a saudosa militância jornalística que dava vida a 4 periódicos. E que dizer da militância partidária cada vez mais alheada dos interesses coletivos, e da militância associativa cada vez mais dependente dos seus velhos dirigentes que não encontram quem os substitua?
    Eu, por mim, já desisti dos sentimentos bucólicos do "antigamente é que era bom", porque vivo e quero aproveitar o que o presente tem para podermos usufruir.
    E certamente há muito mais participação, dos que gostam de participar, nos nossos fóruns disponíveis dada a melhor educação que a maioria hoje tem, com ferramentas intelectuais acrescidas para participarem nas discussões coletivas.
    Repare: tlm, sms, whatsapp, instagram, facebook, canais de tv interativos para todos os gostos, youtube e google, tudo a ser utilizado pelos mesmos que há 30 anos só conseguiam usar os 4 jornais, o telefone com fio e uma tv com dois canais?
    Podemos sempre lastimar que o que um dia tivemos se perdeu, mas será que perdemos mesmo ou afinal ganhámos?
    Pois foi este ganho imprevisível que acabou por ditar o fim das formas de comunicação mais clássicas. Temos todos de nos habituar e os mais nostálgicos, conformarem-se.
    Viva o 25 de abril
    🌹

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