29 de setembro de 2021

Um concelho abstencionista, notável e extraordinário


 

Nas eleições de domingo, o PSD conseguiu no concelho de Pombal o seu melhor resultado em todo o distrito de Leiria - que em tempos foi um impenetrável bastião laranja. Um orgulho partidário: o concelho onde apenas 46,77% dos eleitores foi votar, o único que perdeu vereadores e eleitos na Assembleia Municipal, pode continuar a abanar a bandeirinha, que aqui ninguém nos bate. Sobre a vitória anunciada de Pedro Pimpão já aqui falámos, no dia das eleições; sobre a derrota do PS e da Odete Alves também. Por isso falta perceber que Câmara e Juntas vamos ter.

Dentro de 15 dias tomará posse a ilustre desconhecida equipa do Pedro: Isabel Marto, Gina Domingues, Pedro Navega e Catarina Silva compõem o naipe de vereadores eleitos pelo PSD. Esperamos pela tomada de posse e pela distribuição de pelouros para mais pormenores acerca deste quarteto, onde apenas a última tem experiência autárquica. Nos lugares do PS vão sentar-se Odete Alves e Luís Simões. 

Ao fim de dois mandatos com uma Assembleia Municipal mais plural, com a presença do CDS, do PCP e do Bloco de Esquerda, voltamos (quase) ao antigamente: o PSD elegeu 14 dos 21 lugares. Além de Paulo Mota Pinto - que fará o obséquio de vir a Pombal, cinco vezes por ano, presidir a estas reuniões - foram eleitos João Coucelo, Adelaide Conceição, José Gomes Fernandes, Renato Guardado, Elisabete João, João Antunes dos Santos, Henrique Mota, Andreia Marques, Ilídio da Mota, Manuel Serra, Nicolle Lourenço, Fernando Matias e Alexandre Santos. 

O PS conseguiu recuperar dois lugares na AM. Neste regresso de João Coelho juntam-se a ele Aníbal Cardona, Carla Mariza Pereira, Leandro Siopa, Nuno Gabriel Oliveira e Marlene Matias.

A única novidade chama-se Oeste Independentes. O Luís Couto encabeçou uma lista a partir da sua região (Ilha, Guia e Mata Mourisca) e conseguiu ser eleito, contra todos os prognósticos.

Nas freguesias, pouca coisa mexe. Começa agora o último mandato da maioria de uma geração de autarcas. Mas é melhor vermos caso a caso:

Abiul. A campeã da abstenção (60%). Sandra Barros começou por ganhar a Junta há 8 anos para o CDS. Mudou-se para o PSD há 4. Perde um membro na assembleia de freguesia (7-2) para o PS, através do resistente Manuel Silva, na sua terceira tentativa. Ainda assim, o PSD ganha com 71.79% dos votos.

Almagreira. Humberto Lopes chegou a ser dado como certo na equipa de Pedro Pimpão para a Câmara, mas acabou por ir a jogo para um segundo mandato. É dele a segunda maior vitória para o PSD numa freguesia (73.25%). O PS também cresce, mas pouco. Não é alheio aqui o facto do CDS - que nas últimas duas eleições fora a segunda força política mais votada - ter desaparecido.

Carnide. Uma estreia, e uma das três mulheres que vão liderar autarquias no concelho. Sofia Gonçalves ganhou confortavelmente a Junta para o PSD (67.14%), mas é aqui que - surpreendentemente - o PS consegue a segunda melhor percentagem numa freguesia. Vítor Morgado conseguiu uma votação bastante superior à do partido para a Câmara, por exemplo. Elegeu dois membros para a Assembleia de Freguesia, de onde o PS fora varrido nas últimas eleições.

Carriço. Pedro Silva vai pegar ao serviço na Câmara com a mesma tranquilidade com que ganha a Junta, em cada mandato. Não se dá por ele, mas está sempre lá. O PS fez-lhe o favor de nem sequer concorrer. Ali, só o CDS lhe roubou cerca de 200 votos para não ser uma coisa muito aborrecida. Ganhou as eleições com 74.75% dos votos. 

Louriçal. Devoto de Diogo Mateus, estamos curiosos em ver como é que José Manuel Marques vai adaptar o estilo. Perde votos, mas continua absolutíssimo (8-1), com uma vitória de 68.37% dos votos. O candidato do PS - que num debate reconheceu ter sido "empurrado" para ali, foi o único eleito. João Pedro Domingues, do Bloco de Esquerda, subiu a votação mas falhou a eleição. E anunciou a retirada da vida política. Um descanso para o Zé Manel. 

Meirinhas. João Pimpão é o segundo "achadiço" (adoro a palavra e aprendi-a em Vermoil) a ganhar a Junta. É a vitória mais pequena em percentagem (56.35%) para o PSD, mas era aqui que se concentrava o maior número de candidaturas. Será a Assembleia de Freguesia mais plural, com representantes do PS (que sobe ligeiramente a votação e por isso elege dois membros) e um da Iniciativa Liberal. 

Pelariga. Nelson Pereira perde votos e um membro na Assembleia de Freguesia (6-3). É aqui que o PS consegue o seu melhor resultado numa freguesia - mesmo que sejam só 29.39% dos votos - com a persistência de Raul Bruno, que voltou lá, pela segunda vez. 

Pombal. Carla Longo é a primeira mulher a presidir [oficialmente] à Junta de freguesia. Na verdade, foi ela a presidente nos últimos quatros anos. Conseguiu recuperar eleitorado que fugira para o Movimento NMPH há quatro anos e apesar da vitória com 56.41% dos votos, passa de 7 para 9 membros na Assembleia de Freguesia. O PS, através de Elisabete Alves, também sobe em número de votos, percentagem e eleitos, recuperando um (9-4).

UF Santiago, São Simão de Litém e Albergaria dos Doze. Manuel Henriques Nogueira Matos (um dos mais antigos autarcas em funções no distrito e talvez no país) arrecadou mais uma vitória para o PSD, mas desta vez não foi sem espinhas: a eleição de Maria José Anastácio, da CDU, é a nota dominante aqui, acompanhada da subida do PS, que praticamente duplica a votação e elege dois membros para a AF. 

Vermoil. Parada no tempo e no espaço, a freguesia ainda consegue reforçar a vitória no PSD (7-2), para quem Daniel Ferreira consegue mais de 60% dos votos. O PS tinha ali um dos seus melhores candidatos, Luís Fernandes, mas o povo é soberano: se está bem assim, está bem assim. Fixemos antes atenções no que se passa ali internamente, pois que ontem mesmo, na reunião da assembleia de freguesia (transmitida em directo no facebook) o presidente da assembleia, Ilídio Mota (ex-presidente da junta) foi mais incómodo que qualquer oposição. Um caso a acompanhar.

Vila Cã. Finalmente o PSD respira de alívio. Ana Tenente não se recandidatou, e através de Rogério Santos, o partido recupera a Junta com maioria absoluta. Liliana Silva, a líder local do CDS, que tinha um pé na candidatura à Assembleia Municipal e outro na da Freguesia, foi a segunda mais votada. 

Redinha. Teoricamente esta é a (única) freguesia do PS (46.38% dos votos), uma vitória suada de Paulo "Silas" Duarte em 2017, por apenas 7 votos, começada em 2013. Mas pelas razões que já aqui contámos várias vezes, a vitória é dele e pronto. o PS que continue refém dele. Desta vez conseguiu maioria, o que lhe facilita a vida. E com isto, talvez Carlos Cardoso perceba, finalmente, que a água não passa duas vezes debaixo da ponte. Nem na Redinha. 

ps: uma nota digna de registo - é aqui que a abstenção é mais baixa, no universo concelhio, 38%.

União de Freguesias da Guia, Ilha e Mata Mourisca. Por um voto se ganha e por um voto se perde. No oeste, cada voto foi contado como se fora ouro garimpado. A campanha fez-se com a raiva nos dentes, como se estivéssemos em pleno PREC. No final, Gonçalo Ramos venceu as eleições por escassos 64 votos, mesmo que tenha subido a votação face à sua primeira eleição, então sob a capa de Narciso Mota. Não tem maioria, de novo, e o PS - repetindo a escolha de Hugo Silva - conseguiu ainda descer a votação. Os eleitos do CDS desta vez aliaram-se ao PSD, que também subiu. No oeste, aquilo não foi uma campanha. Foi uma guerra. E ainda há quem não tenha percebido que as eleições acabaram no dia 26. A esses, recordo aqui as palavras de Manuel Serra, em setembro de 2017, quando assumiu a derrota: "aquilo que se constrói em cima de indignações e revoltas tem sempre os dias contados, porque essas, felizmente, são passageiras". 

28 de setembro de 2021

Carta Aberta de Miguel Saavedra ao Pedro Profeta da Boa-Vontade

Caríssimo Pedro, digníssimo Profeta da Boa-Vontade e ilustre Presidente da Junta;

Estimo que te encontres com perfeita saúde na companhia da tua família e de todos os nossos companheiros e amigos, que eu, maldito escriba, desdenhado por ti – agora o vejo –, pelos teus e pelos outros, por aqui vou andando entretido com as minhas crónicas, ora desavindo ora conformado.



Desculpa-me tratar-te por tu. Bem sei que não é tratamento correcto para pessoas na tua condição – Presidente da Junta -, mas sendo nós amigos - ou julgava eu que éramos - que sempre se trataram assim, e falando tu connosco regularmente na primeira-pessoa, não será com certeza despropositado falar contigo na segunda.   

Acredita, Pedro: nunca imaginei incomodar-te nesta fase de euforia e deslumbramento que justamente estás a viver. Faço-o a desgosto, impelido pela profunda desilusão que provocaste, porventura inconscientemente, a mim e à maioria dos nossos conterrâneos.

Acreditei tanto em ti, Pedro, na tua boa-vontade, na tua bondade, e na tua ladainha agregadora que prometia abarcar todos, que nem quero imaginar que te esqueceste de mim, daquele que tudo fez para enaltecer as tuas qualidades, que tanto confiou nas tuas juras inclusivas, daquele que sabes ser um apaixonado por árvores. Bem sei, que cometi o pecado de não ter ido votar (em ti); pecado compreensível, Pedro: o dia estava lindo, precisava de espairecer e tu não precisavas do meu voto. Que me excluas desta tão valiosa medida, é ingratidão que mal ou bem hei-de curar. O que não se compreende é que um profeta da boa-vontade, da bondade e do amor exclua da sua primeira e simbólica medida a maior parte do rebanho. 

Bem sei que ainda nada está decidido, que ainda não tomaste posse, que continuas em campanha eleitoral (estás sempre em campanha), mas não há uma segunda oportunidade para deixar uma boa primeira impressão.

Diz-me, Pedro: por que é que só dás árvores aos que votaram, aos que votaram em ti - sim, os que votaram, votaram quase todos, ou todos, em ti. Por que é que castigas os outros, a maioria, os que não quiseram ou não puderam votar em ti?

Estou tão desiludido contigo, Pedro; revoltado até. É tão doloroso chegar à conclusão que D. Diogo e o Obras-tortas são mais democratas que tu. Já que eles oferecem as árvores a quem gosta delas, não aos amigos ou aos que votam neles. O teu procedimento é mais de um tirano empenhado em perseguir que de um profeta preocupado em agradar.

Ainda não começaste, Pedro, e já começaste tão mal.

Um abraço amigo, deste que tanto bem te queria.

                                                                                     Miguel Saavedra

27 de setembro de 2021

A derrota da Odete



 A derrota da Odete nestas eleições era tão certa como a vitória do Pedro. Mas faltava perceber a dimensão de (mais uma) humilhação para o PS, sobretudo neste quadro bicéfalo em que apresentou a eleições. E o que temos a reter, em primeiro lugar, é que em toda a parte o eleitorado votou mais no PS para a Assembleia do que para a Câmara.

Feitas as contas, o PS elegeu dois vereadores para o executivo (Odete Alves e Luís Simões) e seis eleitos para a Assembleia Municipal: João Coelho, Aníbal Cardona, Carla Mariza Pereira, Nuno Gabriel Oliveira, Leandro Siopa e Marlene Matias. Em termos globais, Coelho consegue mais 176 votos que Odete, o que ainda assim equivale a menos de um por cento de vantagem.

Impermeável à crítica, o PS não percebeu que era preciso cavalgar o descontentamento crescente - e visível - e limitou-se a agarrar-se às cordas, sem conseguir dar corpo e rosto ao que seria uma oposição. 

Aí está o resultado.


26 de setembro de 2021

A vitória do Pedro

O Pedro ganhou. Pouco ou nada – estava (quase) tudo decidido.



O homem é ele e as suas circunstâncias. E que circunstâncias, Pedro. Os homens traçam o seu destino mais pelo que são do que pelo que fazem. E pouquíssimas pessoas são capazes de inferir o efeito das circunstâncias, e das suas escolhas, nas suas vidas.

O Pedro fez da política o seu ofício, o seu o hobby e sua a vida. A política para o Pedro é festas e abraços, campanhas e vitórias, cargos e penachos. A política seria uma felicidade, se fosse só isto; se fosse 47 meses disto e 1 mês do resto. Mas felizmente a política não é só isto, é muito mais que isto, é trabalho árduo e responsabilidade.

Nesta altura, o Pedro deve estar bem acompanhado e feliz, eufórico até. Sem grandes razões. Chegou ao trono - ao pote -, o seu grande desígnio, paixão e razão de vida. Talvez devesse estar apreensivo e angustiado. O momento de vitória é, muitas vezes, um momento de solidão. Mas, como em tudo, há boa e má solidão. A má é estar sozinho pensando que se está bem acompanhado.

O Pedro é protótipo da boa-pessoa, a quem custa prognosticar o infortúnio. Mas infelizmente é o que tem por mais certo. Fez escolhas contra todas as regras. Se tiver sucesso é um génio, se falhar é um inepto.

Que a N.ª Sr.ª do Cardal e Deus Nosso Senhor ajudem o Pedro a carregar a sua cruz até ao sacrifício.

Força Pedro.

À boca das urnas

Prestes a encerrar a votação destas autárquicas, ficam aqui os nossos votos: que no futuro se acabe com a pouca-vergonha que é aquele desfile do poder instalado junto das mesas de voto. Uma cirandice de presidentes, secretários, tesoureiros, vogais e quejandos, aspirantes a isto e àquilo, não vá o poder escapar entre a cruzinha e a urna.

É uma sede controleira que começa muito antes, nos bastidores, durante a constituição das mesas de voto. Só esse processo, dava um tratado. Por ora, deixemos a malta contar os boletins, e logo cá voltaremos, para esmiuçar o escrutínio.

24 de setembro de 2021

Os debates autárquicos – mãos cheias de nada

Os debates autárquicos, que por cá se foram realizando, roçaram a mediocridade. Salvou-se um ou outro debate para as juntas - por exemplo o de Almagreira - e o debate entre os cabeças de lista à Assembleia Municipal. A mediocridade resultou de candidatos e moderadores impreparados – quando se junta a (má) bota com a perdigota dá sempre nisto. Senhores(as) moderadores, a mesma “pergunta”, amplamente aberta – uma “deixa” –, para todos os candidatos compromete o debate.


A temática do “Desenvolvimento Económico” foi a grande bandeira que todos os candidatos quiseram ostentar, geralmente sem saberem do que estavam a falar e desconhecendo a impotência do presidente da câmara para o proporcionar. Percebeu-se que queriam falar de Crescimento Económico – coisa bem diferente. A maioria das propostas avançadas são vulgaridades ou tontices, como, por exemplo, aquela de levar a fibra-óptica a todos os lugares das freguesias.  

O último debate entre os cabeças de lista à câmara foi pobríssimo, enfastiante até. Surpreendentemente, o público enriqueceu mais o debate que os próprios candidatos, com ideias que vale a pena levar em consideração. Uma delas – a mais relevante e valorosa para a cidade/concelho – foi a que propôs abandonar a ideia de requalificar a Zona Industrial da Formiga e reconverter o espaço em área habitacional (e lúdica, acrescento eu). Decididamente, uma ideia a considerar no imediato; até porque aquilo já não é uma Zona Industrial e já está rodeada por novas urbanizações destinadas a habitação.

Pombal precisa de ideias arrojadas que rompam com o marasmo e a ineficiência dos arranjos e das benfeitorias.     


23 de setembro de 2021

Agora vote!



Esta campanha eleitoral chegou-nos simultaneamente vazia de ideias ou projectos e marcada por tiques pseudomodernos de fazer política, visíveis nos estrangeirismos da linguagem ou na utilização abusiva de termos que o cidadão comum não sabe o que querem dizer. Nestas alturas faz falta a imprensa, a crítica, por ser parte fundamental do sistema democrático e ajudar a pensar. A parar para pensar. Não é a imprensa côr-de-rosa de que o poder laranja gosta (e que se voltasse a ser [poder]rosa também gostaria, de tal modo o PS se tem mostrado impermeável à opinião adversa). É aquela que escrutina. Mas adiante, que o tema está gasto, e o que não tem remédio remediado está. 

Uma das inovações desta campanha centra-se no apelo ao voto. No arquivo das campanhas políticas dos últimos 48 anos é possível perceber as diferenças ideológicas também a esse nível. Quem havia de imaginar que, chegados a 2021, o PS em Pombal iria tratar os eleitores por "você"? O PSD começou a fazê-lo há anos, acompanhando a metamorfose que foi ocorrendo internamente. Não, não é só a música que está desajustada...

A verdade é que não é uma questão de semântica, isto da maneira como o partido trata o eleitor. A ignorância atrevida de alguns pode apressar-se a considerar "uma questão de respeito". Não, amigos. É uma questão de igualdade, de proximidade. Ou da falta dela. 


ps: A foto regista os panfletos que chegaram à minha caixa de correio. 

22 de setembro de 2021

Guia Interpretativo dos Programas Eleitorais

Começaram a surgir, finalmente, os programas eleitorais das diferentes forças políticas concorrentes às eleições autárquicas. Este post pretende ajudar aqueles que se dão ao trabalho de ler os ditos programas a interpretá-los com algum critério.

Assim:

Primeiro critério: desconfie dos que escrevem muito - não têm noção do essencial - e dos que escrevem muito pouco ou nada - estão totalmente impreparados.

Segundo critério: exclua todas as propostas iniciadas com o verbo “Garantir”, ou seus equivalentes “Defender” / “Promover” / “Colaborar” / “Incentivar”/ “Afirmar” / “Dinamizar” / “Valorizar” / “Fomentar” / “Envolver”; são intenções, não são acções; não lhe propõem nada de concreto, que possa ser cobrado; mostram que o candidato/partido que as faz não tem noção nenhuma do que fazer na matéria em questão.



Terceiro critério: Exclua as propostas iniciadas com os verbos “Elaborar”, “Rever”, “Estudar”, “Projectar”, “Desenvolver” / “Repensar” e afins se estas não concretizam o “Que” e “Como” fazer. No “Apoiar” exclua também se não quantifica.

Quarto critério: exclua as propostas iniciadas pelo verbo “Criar” quando se trata de comissões, grupos, equipas, etc. É conversa para encher ou para dar emprego à rapaziada ou a um ou outro amigo.

Quinto critério: não acredite em propostas que incluem conceitos complexos e muito em voga, tipo “Desenvolvimento Estratégico”, “Empreendedorismo”, “Inovação”, etc.; normalmente não dizem nada.

Se restar alguma coisa, escolha essa força política/candidato.

Boas escolhas.

19 de setembro de 2021

Diz que é uma espécie de jornalismo - que aconteceu no Oeste

 

Passaram quase 14 meses desde que o Pombal Jornal publicou um suplemento sobre o oeste do concelho que era - na teoria e na prática - patrocinado pelo núcleo do PSD. Os mais distraídos podem recuperar a história aqui. Ora, quando até eu já me esquecera da façanha, eis que sou surpreendida com um e-mail da ERC - Entidade Reguladora da Comunicação Social - na semana passada, dando-me conta do que foi a deliberação do Conselho Regulador a respeito do caso. E do seu arquivamento, não obstante a advertência, ao cabo de uma (inusitada) esmiúça dos factos por parte daquela entidade, que acabou por ir além do caso do Oeste, analisando o trabalho do próprio jornal em várias edições.

 Os detalhes estão online e podem ser consultados aqui, mas importa reter alguns tópicos, sobretudo para memória futura. Porque embora às vezes não pareça, isto ainda é um país, com leis e regras. E a Lei de Imprensa - assim como o Estatuto do Jornalista, o Código Deontológico e a Constituição da República são os mesmos em Pombal, em Lisboa, na Ponta do Sol ou nas Barbas Novas. ´

É difícil fazer jornais em Pombal. Sei-o bem. É igualmente difícil fazer jornalismo. Mas há linhas vermelhas que não podemos pisar. 

Cada um escolhe o seu caminho e o percorre como quer, mas quando está em causa o espaço público, a coisa extravasa um bocadinho o negócio familiar. E por isso faço votos para que a advertência da ERC não caia em saco roto, nomeadamente no que toca ao pluralismo partidário e do respeito pelo estatuto editorial definido pelo próprio jornal. De resto, ide ler, que sempre se aprende alguma coisa sobre publicações, suplementos, informação e publicidade.

Agradecimento

Eu, Miguel Saavedra, mui apreciado e desdenhado escriba, venho por este meio agradecer ao Joelito, el Raspador, a sua mui generosa e útil oferenda, que muito préstimo terá.  



                                                                                            Miguel Saavedra

17 de setembro de 2021

A felicidade e o absurdo

Camus (e outros filósofos da mesma linha) escreveu que “A felicidade e o absurdo são dois filhos da mesma terra”. Esta terra, e estas eleições, confirmam-no.

De um lado, temos o profecta (e os/as apóstolos) da felicidade, do amor, do superlativo, do notável e do extraordinário, do optimismo vazio, da vida mágica; temos um hipocondríaco da empatia e da lisonja, um coração juvenil com espírito velho, ridiculamente superficial, sem essência própria, consequentemente sem valor, com uma pregação pomposa nas palavras mais infantil que adulta, dissimulada e desconexa, mendaz até, que tudo subordina à propaganda e ao charlatanismo.

Do outro temos um anão com duas cabeças, a bipolaridade, o nada e os absurdos, a moleza e o excesso, o estupor apático e o egocentrismo, a falta de tesão e a procura de guerrilha, o mutismo e a retórica opinativa oca, num corpo frágil, amorfo, doentio até, tolhido pelos seus medos e pelas suas contradições, consumido pela intriga e pela desconfiança, onde coexistem almas perdidas e rufiões do espírito incapazes de se fazerem ouvir por crentes e por não-crentes. Uma desgraça completa, que só não será maior porque do outro lado está o que está – outro filho da mesma terra, do mesmo sangue, da mesma massa.


Decididamente ainda não é desta que sairemos do marasmo.  

Siga a festa, que a ressaca pode esperar.

15 de setembro de 2021

Juntas, um mundo obscuro

Anteontem, depois de ouvir e postar sobre o debate entre os cabeças de lista à Junta de Almagreira, prometi aos leitores do Farpas um estudo comparativo sobre o desempenho das diferentes juntas do concelho de Pombal, se obtivesse os dados indispensáveis a uma boa análise. Apesar de crítico do poder local, ainda acreditava – agora menos – na rectidão dos políticos locais, mas a realidade continua a surpreender-me(nos) pela negativa.

Decerto que muitos cidadãos continuam a achar que as juntas são os parentes pobres da administração local, que não têm recursos nem obrigações a cumprir para além de passar uns atestados, de limpar uma valetas e de cuidar do cemitério lá da terra; mas realidade actual é muito diferente da imagem difundida ao longo de várias décadas. As juntas têm hoje atribuições e responsabilidades mais relevantes e orçamentos de muitas centenas de milhares de euros, que usam vezes demais sem critério nem controlo ou de forma irregular ou ilegítima, como temos tido conhecimento. Porquê? Porque não são sujeitas a qualquer fiscalização, nem da oposição, que não a sabe fazer ou debanda após a derrota, nem do quarto poder. Por isso, a esmagadora maioria não presta contas a ninguém.

Em Pombal, neste mandato, só a Junta das Meirinhas divulgou sistematicamente as contas aos seus fregueses (e à comunidade); as juntas de Carnide, Carriço, Louriçal, Pombal, Redinha e UFIGMM divulgaram em parte; as juntas de Abiul, Almagreira, Pelariga, Vermoil, Vila Cã não divulgaram nada (nenhum Relatório de Gestão); e as Juntas de Vila Cã e UFSSSLAD mostram, nos seus sites, que nunca pensaram sequer nisso – o que dá corpo aos rumores que correm na comunidade sobre o tipo de gestão que praticam. 


Esta matéria – Prestação de Contas e o que lhe está subjacente – tem estado totalmente ausente do debate autárquico. O que diz muito, ou tudo, sobre a (im)preparação dos políticos locais que por aqui gravitam. O país pode ter melhorado muito os níveis de instrução da população, a percentagem de doutores, e a percentagem de doutores que exercem cargos autárquicos ou que se candidatam a eles, mas a nossa cultura gestionária, a capacidade de distinguir o essencial do acessório e a capacidade de utilizar bem os recursos no essencial, melhorou muito pouco; continuamos muito atrasados, e, com este quadro, uma coisa é certa: nunca sairemos da cepa-torta. 

Prestar contas aos fregueses é uma obrigação legal e um dever ético do administrador de recursos públicos. Quem não percebe isto não percebe nada do que é o exercício de um cargo público. Quem não cumpre este dever legal e ético deveria ser demitido, e, no caso de incumpridor recorrente, impedido de se candidatar a cargos públicos – devia ser considerado pessoa não-idónea.  

PS: parabéns ao presidente da Junta das Meirinhas (Manuel Virgílio Lopes – PSD), que não conheço. Chegámos a um ponto que até o básico merece ser enaltecido.  

Adenda: pelas informações divulgadas após a publicação do post, sinto-me obrigado a retirar o elogio ao presidente da Junta das Meirinhas. A realidade está sempre a surpreender-nos, pela negativa!     

14 de setembro de 2021

Descubra as diferenças

Diz-se que uma imagem vale mais que mil palavras. Não será bem assim mas não andará lá muito longe. E são os pormenores que fazem ressaltar os por maiores.


Nestas eleições – no Pombal - está quase tudo decidido. Mas há uma pequena disputa, que apesar de ser totalmente irrelevante para a comunidade, vale a pena acompanhar – até por que eles querem que seja acompanhada. É a disputa entre os dois PS`s!

De um lado, temos o grupo da doutora Odete, que protagoniza a candidatura à câmara; do outro, temos o grupo do doutor Coelho que protagoniza a candidatura à Assembleia Municipal.

A doutora Odete e o seu grupo representam a não-política, o vazio, o NADA. O doutor Coelho e o seu grupo representam outra coisa (que por agora me abstenho de caracterizar).

No final, se o Nada “ganhar” à “Outra-coisa” talvez muita gente fique surpreendida. Eu não. Por que em Política – tal como na vida - a sensatez continua a ser um atributo valioso. A doutora Odete pode não ter mais nada (politicamente), mas é sensata. 

Siga a festa, que a ressaca pode esperar. 

13 de setembro de 2021

A excepção que confirma a regra

Os debates entre os candidatos às juntas de freguesia têm sido de arrepiar e abandonar. Alguns candidatos, nomeadamente de partidos com responsabilidade acrescida, não sabem ao que vão, parece que se atiraram ou os atiraram para dentro dum poço; não têm nada minimamente estruturado ou relevante para dizer, não são sequer capazes de encher o tempo de antena, e alguns chegam ao ponto de afirmar, em directo, que não sabem nada daquilo e estão ali porque foram empurrados.

Mas, por mero acaso, apanhei no telemóvel o debate entre os dois cabeças de lista à freguesia de Almagreira – Humberto Lopes (PSD) e Marlene Matias (PS). Ouvi o debate até ao fim (no telemóvel); mesmo até ao fim, até às intervenções finais de apelo ao voto, e até nessa os candidatos mostraram elevação. 

Em Almagreira só concorrem duas listas. E surpreendentemente é da menor quantidade que emerge a melhor qualidade (até agora). Os eleitores de Almagreira têm a sorte de poder escolher entre dois candidatos bem preparados, profundos conhecedores da sua terra e com grande sentido de serviço publico. 

Muitos – a esmagadora maioria – dirão que estes debates não decidem nada. Têm razão; e não têm. A política é alta competição. O atleta de alta competição sabe que pouco se decide na corrida das medalhas, que tudo se conquista ao longo de quatro anos de trabalho, esforço, dedicação e perseverança; suportados por muito planeamento, monitorização, ajustes e correcções. Se na corrida das medalhas, onde a diferença entre atletas é mínima, os medalhados estão praticamente definidos antes da corrida; na corrida aos votos, onde a diferença entre candidatos é grande (às vezes abissal) o resultado só pode ser um. 

PS1: aconselho vivamente os candidatos à câmara a verem o debate entre os candidatos à junta de Almagreira. Talvez aprendam alguma coisa sobre a forma de passar uma mensagem séria e apelativa. 

PS2: o debate motivou-me a fazer uma análise comparativa do desempenho das diferentes freguesias. Se conseguir obter os dados indispensáveis a uma boa análise trá-la-ei a este blog.  

12 de setembro de 2021

Rei morto, rei posto

A última reunião da Assembleia Municipal deste mandato foi (quase) aquilo que se esperava: uma bajulação colectiva a Diogo Mateus, que soa a falso na maioria dos casos. Toda a agente sabe que Diogo foi empurrado borda-fora, que Pedro Pimpão faz de conta que o (seu) PSD não está no poder há três décadas, e pior, que D. Diogo nunca existiu. Por isso chegou a ser degradante vê-lo(s) dizer em público o contrário do que dizem em privado, destilando ao microfone a teoria do agradecimento que a prática não acompanha. 

Diogo sabe disso. E não o esquecerá. 

Mas a mais hilariante intervenção coube a José Gomes Fernandes - já na fila da frente, já a preparar-se para novo regresso a porta-voz da bancada do PSD, pois que do seu arqui-inimigo João Coucelo espera-se que esteja sempre pronto a substituir o professor, na presidência da próxima Assembleia Municipal. O partido deu um duplo tiro no pé ao incumbi-lo de fazer aquele papel. Primeiro porque toda a gente sabe que JGF (outrora conhecido como enfant terrible ou taliban do PSD local) tem o mesmo jeito para o elogio que um elefante a movimentar-se numa loja de porcelana. Depois porque não resistiu a deixar ali a sua velada farpa ao Pedro, apontando a Diogo as qualidades que sabe serem  defeitos do sucessor. A coragem, sempre a coragem, a preparação e o conhecimento.

Diogo sabe disso. E por isso lhe devolveu com a mesma moeda, agradeceu as palavras, sabendo que eram simpáticas, embora "nem todas verdadeiras". Afinal, foram muitos anos lado a lado a espezinhar os adversários, a maquinar estratégias - como aquela de fazer cair Luís Garcia, presidente da AM - a mexer as peças. Porque são raras as que tombam sozinhas. Aqui ou em qualquer lugar, Diogo não o esquecerá.

5 de setembro de 2021

Sobre a apresentação do Professor

O PSD apresentou, ontem, o seu cabeça de lista, e a lista, à AM. No discurso de apresentação, o Professor Mota Pinto prometeu colaboração activa com o Pedro – com o presidente da junta – e avançou duas ou três ideias (dois ou três palpites) que, disse, ainda não saber como serão implementadas. 

Chega, Professor. O senhor, pelo menos, sabe ao que vai, que cargo vai exercer; e isso, nesta terra, na província, onde a esmagadora maioria não sabe ao que vai, para além de se prestar a tristes figuras, é um factor diferenciador. O senhor sabe ao que vai e será sempre o Professor; não se preocupe nem se esforce muito, que pior (do que está e do que foi) não fica; e tenha sempre presente que dar amêndoas a porcos é um desperdício. 

O senhor daqui, deste pobre escriba, nada terá a temer - terá sempre o destaque e o reconhecimento que merece. 

Siga a romaria.

3 de setembro de 2021

Mundo ao contrário ou novo normal?

Como já aqui realçámos, no último ano ocorreu um terramoto político em Pombal que não deixou pedra sobre pedra, nem no poder nem na oposição (se se pode chamar oposição ao que por cá tivemos). 

O presidente da câmara não foi reconduzido – coisa nunca vista -; nenhum dos vereadores com pelouros foi reconduzido – coisa também nunca vista -; os vereadores da oposição - da força política que disputou o poder (NMPH) – também não vislumbraram condições para se recandidatarem - coisa também nunca vista. 

Onde está, então, o ilógico? Perguntará o leitor. Está numa figura e num partido que gira ao contrário e não se dá conta disso. Essa figura é Odete Alves, representante única do PS no executivo; esmagada, tal como o partido, nas últimas eleições não conseguindo sequer ser eleita; mas, mesmo assim, e com desempenho político no mínimo sofrível, foi reconduzida - fez-se reconduzir.    

Há explicação para isto? Há! E as razões desta aparente anormalidade estão presentes tanto num lado como no outro da equação política local, igualam-se, mas dão resultado único.

Em tempos de abatimento, como os que agora vivemos, os fracos tornam-se fortes, porque a pusilanimidade dos fracos valoriza-os, porque ser-se fraco, ser-se humilde, ser-se sonso - ou parecer sê-lo - é uma grande vantagem. Em tempos de decadência quem anda às arrecuas marcha de acordo com o sentido do tempo. 

E os outros? Perguntará o leitor mais esperançoso. Dos outros nem vale a pena falar: não contam, não têm responsabilidades.


1 de setembro de 2021

Sete questões que devem ser respondidas

A campanha eleitoral decorre com uma pobreza ideológica e de pensamento preocupantes - deprimentes até. A pobreza, em si, não é vergonha; excepto se for pobreza de espírito. Mas quando num político se junta a pobreza de espírito com o saber precário o caminho para o desastre fica traçado.

Por isso, convém atalhar caminho, barrar opções, forçar compromissos. Deixo aqui sete questões que os candidatos à câmara e à assembleia municipal devem responder – a bem da Política, a bem da nossa terra.

1. CIMU-SICÓ – demolir ou terminar o projecto?

2. Ponte sobre a Linha Férrea no Cardal: cancelar ou realizar a obra?

3. Encosta do Castelo: urbanizar a zona - com construção de habitação, parque de estacionamento, etc. – ou construir um parque verde até à Mata da Rola?

4. Jardim da Várzea – avançar com o projecto aprovado ou revê-lo mantendo a traça e os elementos figurativos?

5. Unidade da Lusiaves na Guia: se tiver matadouro de aves – vai ter - licenciar ou rejeitar o projecto devido aos impactos ambientais?

6. Casa Mota Pinto: avançar com o dito museu ou abandonar a ideia?

7. Vereadores a tempo inteiro: só os que a lei recomenda ou todos os que a lei permite?