29 de setembro de 2021

Um concelho abstencionista, notável e extraordinário


 

Nas eleições de domingo, o PSD conseguiu no concelho de Pombal o seu melhor resultado em todo o distrito de Leiria - que em tempos foi um impenetrável bastião laranja. Um orgulho partidário: o concelho onde apenas 46,77% dos eleitores foi votar, o único que perdeu vereadores e eleitos na Assembleia Municipal, pode continuar a abanar a bandeirinha, que aqui ninguém nos bate. Sobre a vitória anunciada de Pedro Pimpão já aqui falámos, no dia das eleições; sobre a derrota do PS e da Odete Alves também. Por isso falta perceber que Câmara e Juntas vamos ter.

Dentro de 15 dias tomará posse a ilustre desconhecida equipa do Pedro: Isabel Marto, Gina Domingues, Pedro Navega e Catarina Silva compõem o naipe de vereadores eleitos pelo PSD. Esperamos pela tomada de posse e pela distribuição de pelouros para mais pormenores acerca deste quarteto, onde apenas a última tem experiência autárquica. Nos lugares do PS vão sentar-se Odete Alves e Luís Simões. 

Ao fim de dois mandatos com uma Assembleia Municipal mais plural, com a presença do CDS, do PCP e do Bloco de Esquerda, voltamos (quase) ao antigamente: o PSD elegeu 14 dos 21 lugares. Além de Paulo Mota Pinto - que fará o obséquio de vir a Pombal, cinco vezes por ano, presidir a estas reuniões - foram eleitos João Coucelo, Adelaide Conceição, José Gomes Fernandes, Renato Guardado, Elisabete João, João Antunes dos Santos, Henrique Mota, Andreia Marques, Ilídio da Mota, Manuel Serra, Nicolle Lourenço, Fernando Matias e Alexandre Santos. 

O PS conseguiu recuperar dois lugares na AM. Neste regresso de João Coelho juntam-se a ele Aníbal Cardona, Carla Mariza Pereira, Leandro Siopa, Nuno Gabriel Oliveira e Marlene Matias.

A única novidade chama-se Oeste Independentes. O Luís Couto encabeçou uma lista a partir da sua região (Ilha, Guia e Mata Mourisca) e conseguiu ser eleito, contra todos os prognósticos.

Nas freguesias, pouca coisa mexe. Começa agora o último mandato da maioria de uma geração de autarcas. Mas é melhor vermos caso a caso:

Abiul. A campeã da abstenção (60%). Sandra Barros começou por ganhar a Junta há 8 anos para o CDS. Mudou-se para o PSD há 4. Perde um membro na assembleia de freguesia (7-2) para o PS, através do resistente Manuel Silva, na sua terceira tentativa. Ainda assim, o PSD ganha com 71.79% dos votos.

Almagreira. Humberto Lopes chegou a ser dado como certo na equipa de Pedro Pimpão para a Câmara, mas acabou por ir a jogo para um segundo mandato. É dele a segunda maior vitória para o PSD numa freguesia (73.25%). O PS também cresce, mas pouco. Não é alheio aqui o facto do CDS - que nas últimas duas eleições fora a segunda força política mais votada - ter desaparecido.

Carnide. Uma estreia, e uma das três mulheres que vão liderar autarquias no concelho. Sofia Gonçalves ganhou confortavelmente a Junta para o PSD (67.14%), mas é aqui que - surpreendentemente - o PS consegue a segunda melhor percentagem numa freguesia. Vítor Morgado conseguiu uma votação bastante superior à do partido para a Câmara, por exemplo. Elegeu dois membros para a Assembleia de Freguesia, de onde o PS fora varrido nas últimas eleições.

Carriço. Pedro Silva vai pegar ao serviço na Câmara com a mesma tranquilidade com que ganha a Junta, em cada mandato. Não se dá por ele, mas está sempre lá. O PS fez-lhe o favor de nem sequer concorrer. Ali, só o CDS lhe roubou cerca de 200 votos para não ser uma coisa muito aborrecida. Ganhou as eleições com 74.75% dos votos. 

Louriçal. Devoto de Diogo Mateus, estamos curiosos em ver como é que José Manuel Marques vai adaptar o estilo. Perde votos, mas continua absolutíssimo (8-1), com uma vitória de 68.37% dos votos. O candidato do PS - que num debate reconheceu ter sido "empurrado" para ali, foi o único eleito. João Pedro Domingues, do Bloco de Esquerda, subiu a votação mas falhou a eleição. E anunciou a retirada da vida política. Um descanso para o Zé Manel. 

Meirinhas. João Pimpão é o segundo "achadiço" (adoro a palavra e aprendi-a em Vermoil) a ganhar a Junta. É a vitória mais pequena em percentagem (56.35%) para o PSD, mas era aqui que se concentrava o maior número de candidaturas. Será a Assembleia de Freguesia mais plural, com representantes do PS (que sobe ligeiramente a votação e por isso elege dois membros) e um da Iniciativa Liberal. 

Pelariga. Nelson Pereira perde votos e um membro na Assembleia de Freguesia (6-3). É aqui que o PS consegue o seu melhor resultado numa freguesia - mesmo que sejam só 29.39% dos votos - com a persistência de Raul Bruno, que voltou lá, pela segunda vez. 

Pombal. Carla Longo é a primeira mulher a presidir [oficialmente] à Junta de freguesia. Na verdade, foi ela a presidente nos últimos quatros anos. Conseguiu recuperar eleitorado que fugira para o Movimento NMPH há quatro anos e apesar da vitória com 56.41% dos votos, passa de 7 para 9 membros na Assembleia de Freguesia. O PS, através de Elisabete Alves, também sobe em número de votos, percentagem e eleitos, recuperando um (9-4).

UF Santiago, São Simão de Litém e Albergaria dos Doze. Manuel Henriques Nogueira Matos (um dos mais antigos autarcas em funções no distrito e talvez no país) arrecadou mais uma vitória para o PSD, mas desta vez não foi sem espinhas: a eleição de Maria José Anastácio, da CDU, é a nota dominante aqui, acompanhada da subida do PS, que praticamente duplica a votação e elege dois membros para a AF. 

Vermoil. Parada no tempo e no espaço, a freguesia ainda consegue reforçar a vitória no PSD (7-2), para quem Daniel Ferreira consegue mais de 60% dos votos. O PS tinha ali um dos seus melhores candidatos, Luís Fernandes, mas o povo é soberano: se está bem assim, está bem assim. Fixemos antes atenções no que se passa ali internamente, pois que ontem mesmo, na reunião da assembleia de freguesia (transmitida em directo no facebook) o presidente da assembleia, Ilídio Mota (ex-presidente da junta) foi mais incómodo que qualquer oposição. Um caso a acompanhar.

Vila Cã. Finalmente o PSD respira de alívio. Ana Tenente não se recandidatou, e através de Rogério Santos, o partido recupera a Junta com maioria absoluta. Liliana Silva, a líder local do CDS, que tinha um pé na candidatura à Assembleia Municipal e outro na da Freguesia, foi a segunda mais votada. 

Redinha. Teoricamente esta é a (única) freguesia do PS (46.38% dos votos), uma vitória suada de Paulo "Silas" Duarte em 2017, por apenas 7 votos, começada em 2013. Mas pelas razões que já aqui contámos várias vezes, a vitória é dele e pronto. o PS que continue refém dele. Desta vez conseguiu maioria, o que lhe facilita a vida. E com isto, talvez Carlos Cardoso perceba, finalmente, que a água não passa duas vezes debaixo da ponte. Nem na Redinha. 

ps: uma nota digna de registo - é aqui que a abstenção é mais baixa, no universo concelhio, 38%.

União de Freguesias da Guia, Ilha e Mata Mourisca. Por um voto se ganha e por um voto se perde. No oeste, cada voto foi contado como se fora ouro garimpado. A campanha fez-se com a raiva nos dentes, como se estivéssemos em pleno PREC. No final, Gonçalo Ramos venceu as eleições por escassos 64 votos, mesmo que tenha subido a votação face à sua primeira eleição, então sob a capa de Narciso Mota. Não tem maioria, de novo, e o PS - repetindo a escolha de Hugo Silva - conseguiu ainda descer a votação. Os eleitos do CDS desta vez aliaram-se ao PSD, que também subiu. No oeste, aquilo não foi uma campanha. Foi uma guerra. E ainda há quem não tenha percebido que as eleições acabaram no dia 26. A esses, recordo aqui as palavras de Manuel Serra, em setembro de 2017, quando assumiu a derrota: "aquilo que se constrói em cima de indignações e revoltas tem sempre os dias contados, porque essas, felizmente, são passageiras". 

6 comentários:

  1. Paula Sofia, o único comentário que tenho para este teu texto é: Absolutamente genial a forma como esmiuçaste o escrutínio. Sabes que és do melhor que este concelho tem e tão mal tratada tens sido pelo poder local. Continua assim assertiva e sem medo de dizer o que quase toda a gente pensa, mas não diz.

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  2. Sobre a UFGIMM e no seguimento da sua visão sobre o assunto, talvez a desagregação venha a ser uma realidade, porque onde não se conseguem consensos para trabalhos e benefícios conjuntos, a separação das águas é sempre uma opção em cima da mesa.
    No Oeste, e com um garantido referendo que se irá fazer, quase que aposto que essa opção irá ser a preferida.
    Nunca foi a minha visão ou desejo, mas tenho de reconhecer que não vale a pena juntar aquilo que não se quer misturar.
    A lei da desagregação irá ser posta em prática decorrido que esteja o prazo legal para sua utilização.
    E desde já garanto que na AM votarei de acordo com o resultado do referendo.

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    1. Amigo Serra esse é o caminho certo. Se na ALITEM a agregação foi aceite de forma natural e pacífica, apesar de Albergaria ter ficado prejudicada na sua visibilidade. No Oeste foi tudo feito á revelia do povo. Reponham o mal que fizeram as vossas gentes. O PSD foi o grande responsável e não voltou a ganhar no Oeste.

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  3. Respostas
    1. Andas distraído. Este ano foi atrás dessa tonteria...

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    2. Paula, mas o camião da Odete era no mínimo deprimente. Não havia verba para colocar o toldo completo? Para fazer aquilo era melhor estarem quietos.

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