16 de abril de 2024

Canções de Abril #16


 

“Trova do Vento que Passa”, de 1963, é uma “balada”, mais no género “trova”, de António de Portugal com poema de Manuel Alegre, celebrizada na voz de Adriano Correia de Oliveira. 

A canção rompe com o romantismo e o lirismo associado ao fado de Coimbra ao privilegiar o conteúdo poético em detrimento da instrumentação e ao versar a luta contra a ditadura e contra a guerra. Tornou-se rapidamente a primeira canção de clara contestação ao regime e uma espécie de hino da resistência estudantil, nomeadamente em Coimbra. Foi pela primeira vez apresentada ao público na festa de recepção aos primeiro-anistas da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, realizada no Hospital de Santa Maria. Nesse concerto, Adriano Correia de Oliveira é acompanhado por Rui Pato, José Afonso e António Portugal, cantando o tema que segundo Manuel Reis, autor do livro “Adriano Presente”, teve de ser repetido seis vezes, após o qual os estudantes saíram para a rua a cantar em coro.

O poema reflecte a condição de isolamento e resignação de quem era obrigado a emigrar, terminando com uma nota de indignação face a essa condição. A quadra final 

“Mesmo na noite mais triste 

em tempo de servidão 

há sempre alguém que resiste 

há sempre alguém que diz não”

tornou-se a mais evocativa. Manuel Alegre afirmou que se inspirou num episódio revoltante quando viu Adriano Correia de Oliveira a ser perseguido por agentes da PIDE.

Numa entrevista concedida em 1980, Adriano Correia de Oliveira afirmou que “Foi a partir do acolhimento de uma canção como a “Trova do Vento que Passa” que comecei a sentir o verdadeiro gosto por cantar, por fazer música e, sobretudo, por sentir que estava ao lado do justo, do lado antifascista”.

Uma canção imperdível para reviver e comemorar Abril.


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