26 de novembro de 2024

É a (má) economia, estúpido

Nesta terra (Pombal) poucos comem do que gostam; a maioria come a merda que lhe colocam no prato: uma chusma de aviários e pocilgas que infestam o ar, os solos e os rios; explorações de barros, argilas e areias que esburacam o solo, destroem habitats, fauna e flora e nada estabilizam e ou recuperam; pedreiras que esventram e dinamitam a serra, poluem o ar e a água e desfeiam o espaço e a panorâmica (o postal da terra); explorações de caulinos, que de esporádicas se multiplicam pelo concelho, destruindo solos, lençóis freáticos e cursos de água; matadores e industriais de processamento de carnes com seus inevitáveis impactos ambientais.



Agora são os do lugar da Pipa e arredores a sentir as dores de uma nova exploração de caulinos que está prestes a entrar-lhes pelas terras adentro. Umas dores que ninguém vai ouvir, e só os poucos que ainda lá vivem vão sentir. Passar-se-á tudo como de costume: os de Albergaria e de Santiago estão-se nas tintas para as dores dos do Barrocal ou do Chão do Ulmeiro, tal como os das Meirinhas se estão nas tintas para as dores dos da Guia, e vice-versa, e por aí adiante. Pessoa bem dizia que a humanidade (a sociedade) só sente a chuva quando ela lhe cai em cima. 

A exploração dos Recursos Naturais e a preservação do Ambiente são naturalmente conflituantes, mas devem e podem ser harmonizados através de uma correcta avaliação dos custos das externalidades e dos benefícios económicos e através de um plano de acompanhamento regular da exploração, coisa nunca feita. O governo central e organismos regionais limitam-se a licenciar as explorações, seguindo os planos de ordenamento do território, nacionais e locais, e depois é o tradicional deixa-andar. O executivo municipal escuda-se no argumento da competência do licenciamento para fugir às suas responsabilidades na permissão para licenciamento e no acompanhamento dos impactos, porque não quer desagradar a ninguém - comportam-se como criados de quarto do capital explorador, disponíveis para todo o tipo de serviço à espera da subvenção para a campanha. Mas como fugir dos problemas nunca deu bom resultado para o mexilhão, estamos “condenados” a aceitar o inaceitável, a viver nesta triste sina de tudo o que é mau nos calhar e só nos calhar o que é mau.

Vamos de mal a pior: éramos pobres em riqueza material mas ricos em riqueza natural. Agora temos o pior dos dois mundos: condenados a viver pobres em espaços imundos e repulsivamente feios. Mas com a fanfarra sempre a tocar e o arraial sempre a girar. Bem-vindos ao reino da felicidade tola.

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