A história que hoje aqui trago foi contada por Plácido Domingo no meio de políticos, durante um banquete oferecido pelo Presidente da Republica há época da sua (1.ª) passagem por cá, e relatada na revista Actual pelo J.M. Santos, assim:
“Numa pequena cidade de província, em Itália, havia um pequeno teatro com uma grande tradição. O público, embora modesto de condição económica, era sabedor e exigente de gosto musical. Uma noite houve em que se representava uma ópera, na qual, num dos actos, se sucedem duas árias: uma cantada por um tenor; outra, cantada por uma soprano. Os cantores daquela companhia eram todos muito maus e o publico estava furioso com isso. À medida que a récita decorria, as reacções dos que a ela assistiam tornavam-se mais impacientes, mais hostis e mais ruidosas. Quando chegou a altura das duas árias sucessivas o tenor entrou em palco e começou a cantar. Cantava e desafinava. Mas habituado ao desastre que era, não se intimidava. Cheio de desfaçatez, continuava a cantar com um à-vontade e uma arrogância que nem o melhor cantor do mundo. O público agitava-se, aguardando o fim com ar feroz e ameaçador. Mal foi dada a última nota (até essa desafinada) desatou a patear furiosamente. O tenor fitava com ar desafiador aqueles que uivavam e batiam freneticamente os pés. Essa atitude insolente ainda os enfurecia mais e a vaia aumentava de intensidade e vigor. Parecia que a sala vinha abaixo. Então, o cantor começou a fazer gestos, sacudindo as mãos lentamente. Quando os espectadores perceberam que ele estava a pedir-lhes que se acalmassem, a pateada ainda se tornou mais agressiva. Mas o cantor continuava a mover as mãos, agora com uma humildade forçada ou fingida, pedindo que escutassem o que tinha para dizer. Pouco a pouco, com contrariedade e desconfiança, o publico lá foi diminuindo a fúria sonora. Quando o silêncio era total, o tenor fez o seu olhar viajar da plateia aos camarotes e dos camarotes à plateia, encarando o rosto dos que o fitavam. Tossiu para aclarar a voz e, nesse momento solene, disse, alto e bom som: “Não pateiam já tudo. É que o soprano que canta a seguir ainda é muito pior do que eu!...””
Por ser intemporal e por a política se ter transformado num espectáculo, todas as similitudes com a realidade política actual são legítimas.
Camarada Adelino Malho, boa noite.
ResponderEliminarFico contente por saberes essa da acusada.
Rebobinemos.
Não é que uma matrona foi parar ao Tribunal de uma pequena cidade de província de Itália onde o Doutor Juiz a questionou:
- Com que então a Senhora é que é a acusada?
Ela ripostou:
- Queira Vossa Excelência saber que aquilo é à “cusada”, é de lado, é de frente… é conforme calha.
Mui legitimamente o Senhor Doutor Juiz absolveu-a.
Abraço.
Bom dia!
ResponderEliminarA legitimidade da comparação do texto é tanta que até o Sr. Jerónimo de Sousa, pessoa séria e integra,(parece), se aperaltou para ir ao baile com a Sra. Dra. Manuela Ferreira Leite.
Caros amigos,
ResponderEliminarDito de outra maneira (mas também vernácula):
«Atrás de mim virá quem bom de mim fará.»
Um bom fim-de-semana.