6 de agosto de 2015

Afinal, não houve música no Castelo


A forma como a nossa autarquia encara a cultura não é muito diferente do que faz a maioria das câmaras do país. A troco de um conjunto de subsídios, o poder tem como objectivo manter os criadores sob a sua alçada e disponíveis para todos os seus caprichos. 

Este sistema agrada aos mais acomodados mas castra os mais criativos. Mas o maior problema é que, com a perpetuação desta "política cultural", mesmo os mais subversivos tendem a aceita-la acriticamente ou, se não o fazem, as suas críticas morrem nas mesas do café e raramente chegam aos ouvidos dos senhores do Castelo (no sentido kafkiano do termo).  

Daí que seja merecedora de aplauso a recente decisão do Quinteto da Associação Artística Marquês de Pombal ao recusar actuar no Castelo (no sentido arquitectónico do termo), no passado dia 1 de Agosto, depois de lhe terem sido negadas as condições mínimas para poderem dar o seu espectáculo com dignidade. O processo que conduziu a essa situação é rocambolesco, kafkiano e bem revelador da dita "política cultural" da autarquia.  

Depois da Sra. Vereadora Ana Gonçalves, em Maio, lhes ter dado a garantia de apoio à constituição da associação, o quinteto foi obrigado a dar uma resposta no próprio dia a um convite do Sr. Presidente da Câmara para actuação na novel sala de espectáculos da cidade. Como poderiam recusar? Não era possível! 

Passados mais de dois meses, não só o dito apoio não se concretizou como as condições pedidas pelo quinteto para dar espectáculo não foram atendidas e, como qualquer associação com o mínimo de dignidade, bateram a porta. Só espero que esta atitude corajosa não venha a pôr em causa um projecto que se antevê de grande qualidade.

2 comentários:

  1. Como músico da terra, compreendo perfeitamente a decisão do Quinteto. Também tive a mesma decisão em 2013 e 2014 depois de ver que as condições que nos davam (à banda no qual estou integrado), não eram de todo as mesmas que dão aos músicos de fora, com a agravante de nos tentarem explorar com os ditos "concurso de bandas".
    Não sei se por motivos políticos ou por não sermos "filhos do Sr Doutor", não conseguimos fazer espectáculos em Pombal nas mesmas condições dos músicos de outras terras. Exemplo: Banda Red no Bodo. Obviamente, nada tenho contra os músicos dessa banda, que são bons profissionais na área da animação e música. Simplesmente, me sinto desconfortável ao sentir que a minha terra não eleva os artistas que tem ao nível que merecem.
    Não pedimos nada demais...simplesmente o mesmo trato que dão aos outros, porque nós não fomos fabricados na China; no nosso vocabulário não existe "balato, balato".

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  2. A cultura anda pelas ruas da amargura. A custo de quem? E a servir quem?

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