24 de maio de 2016

Um cartaz caracterizador

A má arte revela o artista que a produziu, tal como a pedra talhada revela o pedreiro que a talhou.
O cartaz da JSD (na figura) revela o(s) criador(es) e divulgador do cartaz. Se F. Pessoa fosse vivo, diria, ao olhar para aquilo, que “A este género de espírito chama-se ordinariamente apenas grosseria. Nada há mais indicador da pobreza da mente do que não saber fazer espírito senão com pessoas”.
O PSD deixou, há muito tempo, de ser um partido de matriz social-democrata. Talvez nunca o tenha sido se descontarmos o período pós-revolucionário – altura em que, de certeza, não conseguiria ser o que hoje é. Nos últimos tempos, tornou-se um partido ultraliberal, com uma agenda política centrada no desmantelamento do Estado Social (Educação Pública, Serviço Nacional de Saúde e Segurança Social) e até na limitação de outras funções associadas à soberania do Estado. Mas a rapaziada (crescida) da JSD é, ainda, mais extremista do que o partido, o que não surpreende - os dirigentes do partido têm de lá saído, e não tem saído grande coisa.
A colagem do PSD, e da JSD, à polémica do momento sobre os contratos de associação entre o Estado e os colégios privados, revela tudo sobre a agenda ideológica do partido: retalhar a Escola Pública em contratos de associação com os privados, e depois estender o modelo à Saúde e à Segurança Social. Há muito que o PSD abdicou da construção de um Estado melhor, que assegure serviços de qualidade aos cidadãos, para se transformar no maior defensor do Estado subordinado aos interesses particulares.
Esta polémica política não se baseia em critérios de racionalidade económica, é puramente ideológica e emblemática, tanto para a corrente liberal como para a social-democrata. A corrente social-democrata assenta o desenvolvimento da sociedade num contrato social com os cidadãos em que o Estado fornece serviços públicos a todos os cidadãos, com altos padrões de qualidade, e os cidadãos financiam os serviços com impostos. A corrente liberal e ultraliberal – do PSD actual – defende que o afortunado - “os que têm unhas é que tocam viola” - não pode ser reprimido no exercício da tirania sobre os desafortunados.

Nesta guerra ideológica, vale tudo: ataques de carácter, baixeza política, enxovalho de ministros; pincelado com muita ignorância e falta de memória política. O cartaz da JSD inscreve-se neste ardil. 

4 comentários:

  1. Creio que pela 1º vez, subscrevo tudo o que o senhor diz. Ponto por ponto. Virgula por virgula.

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  2. Adelino Malho, Este artigo subscrevo-o na integra, foi por causa dessa deriva ideológica do PSD, que me motivou a entregar o cartão e a abandonar o Partido. Já falando da JSD é o pior que existe no PSD, repara no grande exemplar que temos em Pombal. Um exemplar BRILHANTE do protagonismo e da arrogância que emana da JSD local, claro há alguns elementos que são excepção,são pessoas moderadas e civilizadas mas na sua grande maioria são isso mesmo. Ultra-liberais quase a tocar a extrema-direita.

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    1. Roque, espero que encontres no PS a estabilidade ideológica que te desapareceu no PSD. A avaliar pelas reacções que tenho visto por parte de alguns dirigentes locais relativamente a este tema, tenho dúvidas se não se enganaram na cor, ou no número da porta.

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    2. Cartaz Brilhante, elaborado por uma direção de informação Brilhante, que retrata a forma como o estado está entregue aos sindicatos, no caso específico a Mário Nogueira.

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