21 de fevereiro de 2021

Despedida de um camarada


Fernando Domingues, camarada e amigo, figura histórica do Partido Comunista Português em Pombal, vai hoje a sepultar. Homem digno, dedicou a sua vida política e sindical à defesa dos interesses dos que não têm voz, dos que estão mais afastados dos centros de decisão. Foi-lhe particularmente cara a luta pela defesa da floresta e do mundo rural em Pombal, nomeadamente na salvaguarda da propriedade comunitária dos baldios e das comunidades de compartes, assim como na protecção da biodiversidade e o equilíbrio ambiental.

Serão sempre escassas as palavras a ser ditas nestas ocasiões. Poderia lembrar o passado no movimento associativo, o seu sentido de humor, a forma simples com que pautou a sua vida, os magníficos queijos que sempre tinha, a coerência do seu pensamento político, a sua alegria de viver. Mas, mais do que palavras, a justiça à sua memória só será feita assumindo a sua luta. É esse o meu compromisso, camarada!

4 comentários:

  1. "A Morte nunca existiu", de António Joaquim Lança.


    "Tudo o que for vivente tem
    Uma queixa que o percorre
    E quando um dia a vida morre
    A morte morre também

    Essa já não mata ninguém
    Onde nasceu se sumiu
    Pra esse corpo serviu
    Ali fez as contas do povo

    Não vai de um pra outro corpo
    Porque a morte nunca existiu
    A morte não sai para a rua, nem anda de terra em terra
    E que anda um dia a vida degenera a morte
    Cada um tem na sua


    Essa já não continua
    Onde nasceu foi acabada
    Pois foi ser enterrada
    Com o corpo debaixo do chão

    Mesmo nessa ocasião
    Foi pela vida gerada
    Onde é que essa morte está, onde tem no acampamento
    Pra matar milhares ao mesmo tempo
    Uns no estrangeiro, outros cá

    Essa morte não haverá
    Pra que faça tanto corte
    Ainda mesmo que seja forte
    E haja isso, eu não acredito

    Estragou-se o sangue
    Perdeu o espírito
    A vida passou à morte

    Como é que podia ser
    Uma morte só ter tanta substância
    Do mundo tão grande distância
    Pra tanto vi ver-te morrer

    Cada um tem a sua ter
    E pela vida que é fundada
    Aquela que anda de estrada em estrada
    Ninguém tenha esse abismo

    Quando se para o maquinismo
    É que fica a morte formad
    Quando se para o maquinismo
    É que fica a morte formada"

    Camaradas, os ensinamentos, o seu exemplo de dedicação e coragem na luta por uma sociedade mais justa, jamais morrerá. " Quando se pára o maquinismo é que fica a morte formada". O maquinismo não parou, nem parará!!! Viva o Fernando Domingues.

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  2. Amigo e camarada Fernando Domingues, não vou assumir a tua luta, mas fico triste por tu teres partido.
    Despeço-me, até um dia, com o poema de Mia Couto
    Morte Silenciosa
    A noite cedeu-nos o instinto
    para o fundo de nós
    imigrou a ave, a inquietação

    Serve-nos a vida
    mas não nos chega:
    somos resina
    de um tronco golpeado
    para a luz nos abrimos
    nos lábios
    dessa incurável ferida

    Na suprema felicidade
    existe uma morte silenciada

    Até um dia.

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  3. Sei como a poesia era algo que tinham em comum. Quando este inferno terminar, tomamos um fino por ele. No Paulo. Obrigada, Rodrigues Marques.

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